“Os ucranianos não estão interessados nas negociações de paz”, diz Putin a Guterres

26 abr 2022, 19:14
Vladimir Putin e António Guterres encontram-se em Moscovo. Foto: Kremlin Pool via AFP

Num encontro cara a cara na famosa longa mesa branca do Kremlin, o presidente russo justificou a invasão da Ucrânia ao secretário-geral das Nações Unidas, sublinhando que a Rússia foi forçada a levar a cabo "a operação militar especial"

O presidente russo, Vladimir Putin, recebeu esta terça-feira, no Kremlin, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a quem disse que a Ucrânia não está interessada num cessar-fogo.

“Os ucranianos não estão interessados nas negociações de paz”, afirmou Putin, admitindo, porém, que as conversações decorrem em formato online. 

Vladimir Putin voltou a justificar a invasão da Ucrânia com a defesa do Donbass, afirmando mesmo que a Rússia foi forçada a atacar o país vizinho após o que classificou como "golpe de estado". 

“Nós fomos forçados a invadir a Ucrânia”, explicou. “Houve duas entidades no leste do país que não concordaram com o golpe de estado e não foram respeitadas”, acrescentou o presidente russo, referindo-se às regiões de Donetsk e Lugansk e à revolta da população ucraniana em 2014.

“Tentámos regularizar esta situação pacificamente através do tratado de Minsk, mas, ao longo destes últimos oito anos, o povo do Donbass tem sido repetidamente bloqueado e desrespeitado”, sublinhou Vladimir Putin.

O Presidente russo reconheceu que Moscovo e Kiev conseguiram um “sério avanço” nas negociações em Istambul, em março, atribuindo o sucesso alcançado ao facto de a delegação ucraniana “não ter vinculado os requisitos de segurança internacional do seu país” às condições para uma solução pacífica. Putin referia-se ao facto de a Ucrânia ter aceitado um estatuto de país não nuclear e neutro, renunciado à adesão à NATO.

Após essas negociações, Moscovo retirou as suas tropas do norte da Ucrânia, mas prosseguiu a ofensiva no sul do país. O Presidente russo salientou as preocupações com a situação na fábrica Azovstal, em Mariupol, último bastião da resistência ucraniana naquela cidade, onde cerca de 1.000 civis e um número indeterminado de soldados se encontram retidos.

“Eu dei ordens para que não se realize nenhuma operação de agressão”, confirmou Putin, que salientou que o seu exército pediu aos militares ucranianos na Azovstal para se redenderem, criticando a atuação das forças de Kiev.

“É um crime usar civis como escudos humanos”, disse Putin, que rejeitou ainda que os corredores humanitários abertos pela Rússia não estejam a funcionar, contrariando a tese hoje defendida por Guterres, durante o encontro que o secretário-geral da ONU manteve com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.

As duas propostas de Guterres

Por seu lado, António Guterres ofereceu-se para apoiar as negociações que conduzam a uma resolução do conflito. Nesse sentido, o secretário-geral das Nações Unidas propôs a criação de um canal aberto através das Nações Unidas, que permita o contacto entre Moscovo e Kiev, articulando ainda a chegada de ajuda humanitária às populações na Ucrânia.

Outra das propostas avançadas por Guterres passa por escrever um documento que coloque fim às hostilidades, debatendo os argumentos e ouvindo as duas partes.

Guterres falou também da situação “muito difícil” que se vive em Mariupol, destacando a importância da criação de mecanismos logísticos que façam chegar apoio aos civis que se encontram cercados no complexo metalúrgico Azovstal.

Lavrov afasta necessidade mediadores internacionais

Horas antes, António Guterres encontrou-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que rejeitou a necessidade de mediadores internacionais, nesta fase. "Falar de mediadores na fase atual, na minha opinião, é prematuro", disse Lavrov numa conferência de imprensa conjunta.

O ministro russo sublinhou que a própria delegação ucraniana nunca levantou essa possibilidade desde que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ofereceu a Moscovo a abertura de negociações.

O chefe da diplomacia russa lembrou que Moscovo ainda aguarda a resposta de Kiev à proposta de acordo que apresentou "há 10 ou 12 dias" e acusou o Ocidente de perseguir a linha de “encher a Ucrânia de enormes quantidades" de armamento.

"Se isto continuar, é claro, as negociações dificilmente obterão resultados", advertiu.

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