Yaffa, avó de 85 anos, foi levada pelo Hamas num carrinho de golfe. Os netos lutam contra o tempo. ''Provavelmente está com dores, sem medicamentos, sem comida e sem água, morrendo de medo, sozinha''

14 out 2023, 08:30
Sequestro de Yaffa Adar por parte do Hamas.

À CNN Portugal a neta, Adva Adar, de 32 anos, conta o que sucedeu e como é que a avó foi raptada. "Tinha quatro homens armados à volta dela a celebrar e a bater palmas como se fosse um festival, como se sequestrar uma senhora de 85 anos fosse motivo para comemorar’’.

Yaffa Adar tem 85 anos e a sua imagem coberta por uma manta cor-de-rosa num carrinho de golfe com quatro elementos armados do Hamas percorreu o mundo. É uma das centenas de reféns do grupo extremista e foi raptada quando estava em casa sozinha na comunidade de Nir Oz.

Os netos estão desesperados por saber notícias da avó e têm partilhado diversos apelos nas redes sociais, juntamente com o vídeo divulgado pelos terroristas do sequestro. “Estamos devastados, não acho que existam palavras para descrever o que estamos a sentir, estamos muito preocupados com ela”, diz à CNN Portugal Adva Adar, de 32 anos, uma das netas, explicando que apenas descobriram que a avó tinha sido raptada através do vídeo que circulou nas redes sociais. ‘’Tinha quatro homens armados à volta dela a celebrar e a bater palmas como se fosse um festival, como se sequestrar uma senhora de 85 anos fosse motivo para comemorar’’.

No dia em que a avó foi raptada estava previsto que Adva e a sua família fossem visitá-la ao kibutz, comunidade israelita situada perto da fronteira de Gaza, onde Yaffa vivia desde sempre. “Mas ela enviou-nos uma mensagem a dizer para não irmos porque havia terroristas na rua a disparar e a bombardear tudo”. O cenário descrito pela avó era devastador. Contava que os elementos do Hamas entravam pelas casas e destruiam tudo ao seu redor. “Não vão acreditar, há terroristas a disparar e a entrar pelas casas, não está aqui ninguém comigo’’, relatou a avó. Depois destas mensagens, a família perdeu contato com Yaffa Adar.

Adva Adar conta à CNN Portugal que eram perto das 17:00 quando as forças de defesa de Israel começaram a retirar todas as pessoas dos esconderijos após os ataques. A neta soube destas informações por uma tia que estava no kibuz e falou com as forças armadas. Foi nessa altura que descobriram que a casa da avó estava totalmente destruída e não havia sinais dela. Seguiram-se momentos de angústia e aflição por parte da família que, ainda por cima, estava distante. O paradeiro da avó só foi desvendado após assistirem ao vídeo dos terroristas a exibi-la como um "prémio de guerra nas redes sociais". 

A polícia já confirmou à família que a avó é uma das reféns. Foram notificados formalmente pelas autoridades na terça-feira. A avó foi levada no sábado e desde então nunca mais souberam nada dela. “Não sabemos quanto tempo ela consegue sobreviver”, disse Adva num tom de voz baixo. A avó precisa de tomar medicação todos os dias, pois tem problemas cardíacos e os seus rins mal funcionam. “Ela sente muitas dores crónicas”, frisa. 

Yaffa Adar, viúva há cerca de 30 anos, morava sozinha na comunidade que ajudou a construir, era uma das suas fundadoras. ‘’Ela ajudou a estabelecer o kibutz. Acreditava em Israel’’. Foi isto a que se dedicou nos últimos anos. O kibutz situa-se no sul de Israel, perto da fronteira com Gaza e por isso era frequentemente alvo de ataques palestinianos. No ataque surpresa no sábado, diversos membros da comunidade viram as suas casas invadidas, queimadas e muitos voluntários foram assassinados. Além disso, vários civis foram raptados e levados para Gaza. 

No kibutz havia um médico que tratava de Yaffa Adar e perto de si tinha o seu neto mais velho e a família dele, Tamir Adar, de 38 anos, também está desaparecido depois de tentar defender a comunidade. ‘’Ele vivia no mesmo kibutz e quando tudo começou, escondeu a sua mulher e os seus filhos num lugar seguro e foi proteger a comunidade. Desde então não ouvimos falar nada sobre ele. Esperamos o melhor, mas não sabemos nada’’, explica Adva. Já a neta mais nova, Zohar Adar, de 17 anos, que também vivia no mesmo kibutz, conseguiu escapar junto com a sua mãe. 

Yaffa Adar tem oito netos e sete bisnetos. Todos os netos partilharam nas suas redes sociais apelos para tentarem salvar a avó. Adva Adar escreveu na sua página de Facebook: ‘’Por favor partilhem para que todo o mundo conheça a minha linda avó e ajude-nos a trazê-la para casa’’. Juntamente adicionou um print screen do vídeo do sequestro.

Além desta publicação, também escreveu: ‘’Esta é a minha avó, ela foi raptada! O nome dela é Yaffa Adar, tem 85 anos! A minha avó que fundou o kibutz com as suas mãos e amava este país que a abandonou, foi sequestrada. Provavelmente está jogada, a sofrer com dores fortes, sem medicamentos, sem comida e sem água, morrendo de medo, sozinha’’, desabafou Adva. A neta também fez um apelo nas redes sociais direcionado ao governo israelita para que consiga resgatar a mulher de 85 anos e todos os outros reféns do Hamas.

Orian Adar, outra neta de Yaffa, também partilhou várias publicações sobre a sua avó e o seu primo, Tamir Adar, ambos desaparecidos. Numa das publicações, Orian Adar deixou um alerta: ‘’Em que realidade uma mulher de 85 anos deve ser cativa?!’’. Além disso, divulgou uma fotografia de Tamir na qual escreveu: ‘’Se a situação não fosse difícil o suficiente… Este é o Tamir, o meu primo... Saiu para proteger a casa e ainda não voltou…’’. 

Yaffa Adar já tinha presenciado outros conflitos. ‘’Ela vive aqui desde que nasceu, então viu algumas guerras, mas nunca falou muito sobre isso’’, conta Adva. A avó explicava essencialmente como se abrigar e o que fazer para manter a comunidade protegida. ‘’Mas agora com 85 anos, o corpo já não é jovem’’, reforça Adva. 

Segundo ela, há muitas pessoas no kibutz que estão a prestar apoio à família. ‘’A comunidade é muito especial, querem ajudar-nos, rezam pela minha avó. Toda a gente está a fazer o seu melhor. Alguns estão a fazer donativos, outros a cozinhar e outros ajudam de outra forma. Todos sabem que este é o tempo ideal para estarmos unidos e olharmos uns pelos outros’’.

A família da neta Adva Adar vive em moshav, uma comunidade israelita, em Kiryat Gat, a sul de Israel. ‘’Ainda não precisei de escapar, mas estão a bombardear tudo e ninguém está seguro’’, admite.  A última vez que esteve com a avó foi há duas semanas quando festejavam um feriado de Israel. . 

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