opinião
Professor Universitário e Doutor em Cibersegurança

O mundo In Extremis

14 out 2023, 16:31

Tempos conturbados são o que temos como prato do dia, todos os dias e sem fim à vista relativamente à mudança deste menu.

À luz do artigo que escrevi há um par de dias, encetei numa pesquisa mais aprofundada da origem de tantos vídeos e publicações que sistematicamente aparecem nas redes sociais com um cariz, na minha opinião, complexo e perigoso. Tudo começou com um tuite? Não sei bem como se chama agora a ação de postar na rede social anteriormente conhecida como Twitter (X). Essa publicação denotava em tudo um sistemático comportamento de bots que criam e logo encontram apagadas as suas publicações de uma maneira intensa. O que me chamou à atenção foi o facto de a imagem que partilhava esse tuite possuir jornalistas da CNN nos Estados Unidos com uma pequena bandeira de Israel ao lado de cada foto, numa alusão que cada pessoa era ou descendente de Judeus ou é de facto Judeu.

O que me preocupou no cenário anterior nem é só o facto de alguém estar a tentar fazer uma ligação entre os media que transmitem as notícias difíceis que vivemos hoje, mas o facto de também querer manipular o leitor a crer que os jornalistas são parciais, que os media são parciais e que aquele meio é de facto nefasto aos ideais palestinianos e, portanto, de desconfiar. Até aqui, e apesar de isto não ser de todo normal, os comentários eram ainda piores uma vez que as pessoas combatem entre si no lamaçal que se tornaram as caixas de comentários logo abaixo das publicações.

Dark Web Groups Turn Attention to Israel and Hamas | DarkOwl

Créditos: DarkOwl

Ora, não há dúvidas que há uma clara onda que vem de mãos altamente especializadas no meio tecnológico e que visa diretamente o ocidente, criando ou intensificando a onda separatista que agora figura em todo o lado, isto é, política, desporto, credos, raças, orientações e tudo aquilo que possa dividir o meio ocidental, numa espécie de jogo de criação de acéfalos ou de bots que nada questionam e cegamente vão seguir as suas enraivecidas emoções. Até aqui nada de novo, estará o leitor a pensar. E de facto não está totalmente errado, senão vejamos:

Ao seguir este rasto de publicações automáticas que visam criar uma ideia de que o mundo dos media está a sonegar o que se passa ou a vitimizar apenas os Israelitas, deparo-me com a origem de vários movimentos na Darknet a fomentarem precisamente este tipo de ações em ambos os lados da barricada. Olhando com mais cuidado, as imagens não se limitam aos jornalistas da CNN ou aos media em geral; conseguem-se encontrar também várias do gabinete executivo da presidência norte americana, ramos militares e das forças de segurança, sendo que tudo isto não poderia estar mais distante da realidade. Como se isto não bastasse, o alvo é claramente o estilo de vida ocidental pois logo a seguir apareceram os “diretores” das melhores e mais reputadas universidades americanas como estando absolutamente nas mãos de Judeus. Ao olho desarmado, poderá parecer que está alguém a tentar mostrar que o aparelho civil e militar americano está “minado”, mas a realidade atrás das imagens é mais obscura.

 

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Créditos: X

Ao estudar estes locais que são conhecidos pela sua volatilidade face à rapidez com que desaparecem estes “sites” (será que alguém os está a combater nas terras do tio Sam? A mim parece-me que sim), percebo que o objetivo não é espalhar terror, mas sim a criação acessória de uma espécie de alvos de interesse; senão porque haveriam de insistir tanto em identificar pessoas nos mais diversos aparelhos mediáticos e governativos, numa espécie de missão para criar as condições de escalada deste evento? Ao identificar estas pessoas e ao criar estes conteúdos digitais, os interessados estão a inflamar a opinião extremada, sofredora, doente e irreal que leva a que aconteça o que se passou em França ou mesmo na China nestes últimos dias. Não deixa de ser assustador se alguém decidir fazer vítima algumas das pessoas das imagens, mas quem poderá estar a lucrar com isto? O X parece que acordou tarde para esta realidade e já começou a apagar milhares de publicações, mas é lento no processo.

Não é fácil perceber, mas há de facto idiomas em comum nestas campanhas e ambos são de latitudes mais a leste. Não estava à espera que fosse assim tão surpreendente quando ainda há uns dias os grupos de hackers Killnet e o Anonymous Sudan vieram fazer juras de amor e apoio ao Hamas e no Telegram anunciaram apoio nos ataques a Israel, inclusive à Cúpula de Ferro. Também do fundo deste mundo escuro eletrónico, o Mysterious Team Bangladesh anuncia várias operações, sendo duas delas a OpIsraelV2 e o FreePalestine; não são os únicos pois também os Team_Azrael_Angel_of_Death, GanosecTeam, HacktivistIndonesia, GarudaAnonSecurity, KEPTEAM, TeamInsanePakistan e o Xv888 informaram que atacaram em força recursos digitais israelitas e estes não ficaram sozinhos pois da Índia, do Brasil e da Europa grupos digitais se ergueram para atacar interesses de quem combate Israel em todos os campos de ação, o militar e o digital. Pergunto-me, quando iniciou esta Guerra Digital Mundial? Configurar-se-á como a primeira?

 

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Créditos: X e Avia.pro

O resultado deste caldeirão é apenas o escalar das emoções, o justificar de combates, os massacres de populações tanto em Gaza como em Israel. As imagens e o normalizar deste extremismo aumentam a capacidade de resistir a estes eventos ou de perder a sensibilidade na face deste horror. É cada vez menor o grupo de pessoas que olha para esta guerra e chora quando vê pais com os filhos inanimados ao colo em Gaza ou no Sul de Israel. São estas imagens ad nauseam e repletas de ódio que nos dessensibilizam e que na minha opinião necessitam de filtro. Certamente o leitor se recordará que foi pedido aos media por altura do ISIS para não passar imagens dos seus atos para não dar antena e não normalizar a situação; acho que é tempo das redes sociais (todas) voltarem a fazer o mesmo. Não se pode conviver com este ódio todos os dias à nossa frente e não ficar afetado por ele e dele falar a seguir online com plena naturalidade pois é precisamente isso que alguém nos confins da Darkweb o está a orquestrar; um mundo in extremis.

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