Como Israel (e os EUA) vai resgatar os reféns capturados pelo Hamas

12 out 2023, 08:00
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Estados Unidos ofereceram-se para ajudar o exército israelita a resgatar os reféns capturados pelo Hamas. São dezenas de reféns, entre mulheres e crianças, israelitas e estrangeiros. Apesar da ajuda norte-americana, esta "não vai ser uma operação fácil", antecipam especialistas militares à CNN Portugal

O movimento Hamas sequestrou mais de uma centena de israelitas e estrangeiros que mantém como reféns na Faixa de Gaza na sequência dos ataques a Israel. Entre eles, estarão crianças e mulheres, que foram raptadas com violência pelos rebeldes islâmicos, que pretendem utilizá-los como moeda de troca para libertar prisioneiros em Israel e nos EUA.

Por isso mesmo, especialistas militares dizem à CNN Portugal acreditar que os reféns ainda estão vivos. "O Hamas tem todo o interesse em continuar a mantê-los vivos", argumenta o major-general Isidro de Morais Pereira. "O Hamas quer estes reféns porque quer trocá-los por ex-guerrilheiros que estão presos, condenados a prisão perpétua nas prisões de Israel, e outros nos EUA."

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já ofereceu ajuda a Israel para resgatar os reféns - alguns norte-americanos, segundo a Casa Branca - através da partilha de inteligência. “Sabemos agora que há cidadãos americanos entre os raptados pelo Hamas. Dei instruções à minha equipa para partilhar informações de inteligência e disponibilizarem-na às autoridades israelitas especialistas para ajudar na recuperação e resgate de reféns”, declarou, num discurso na Casa Branca.

Mas "não vai ser uma operação fácil", antevê o major-general Agostinho Costa. Sobretudo tratando-se de uma operação de resgate de "tantos reféns", estimando-se que mais de 150 reféns estejam nas mãos do Hamas. "Uma coisa é tentar resgatar um refém dentro de uma infraestrutura que tem um grupo terrorista lá dentro, outra coisa é tentar é resgatar todos estes reféns."

"O expectável é que os reféns possam ser vítimas da própria operação de resgate", prevê o especialista militar, apontando que, neste tipo de operações especiais, é comum utilizarem-se agentes químicos, como gás tóxico, para matar os sequestradores, tal como aconteceu numa operação de resgate protagonizada pelas forças de Moscovo em 2002 para recuperar centenas de reféns capturados por um grupo de chechenos que tomaram um teatro em Moscovo. "As forças especiais entraram no teatro utilizando uma espécie de gás tóxico e uma boa parte dos reféns morreu."

E isto aconteceu num local único, numa infraestrutura de "fácil acesso", assinala o major-general. No caso dos reféns capturados pelo Hamas, não se sabe a localização dos sequestrados. O mais provável, diz o major-general Isidro de Morais Pereira, é que se encontrem dispersos em vários pontos de Gaza, "o que dificulta muito o planeamento de uma operação desta natureza".

E, de facto, uma operação de resgate desta dimensão "exige um planeamento meticuloso e pormenorizado", indica Isidro de Morais Pereira. "É preciso saber em pormenor os locais onde os reféns estão aprisionados, conhecer as rotinas dos guardas nesses locais, quantos postos de sentinela é que eles têm durante o dia e durante a noite e saber que tipo de meios de vigilância dispõem. Isso sabe-se através da informação geoespacial dos satélites e da infiltração de equipas de reconhecimento", explica.

O "Big Brother" que pode ajudar Israel

A ajuda dos Estados Unidos vai ser essencial precisamente nesse sentido, para a "aquisição de informações e reconhecimento", assinala Isidro de Morais Pereira. "Nenhum país tem essa capacidade como os Estados Unidos. Os americanos têm uma rede de satélites que é capaz de ver tudo. Imagine-se um Big Brother no mundo inteiro - é isso que os americanos têm."

Além disso, acrescenta o major-general, os Estados Unidos têm uma outra capacidade "como nenhum país no mundo tem": "a capacidade de efetuarem uma vigilância 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano através do espetro eletromagnético". "Tudo o que utiliza o espetro eletromagnético - sejam comunicações de telefone, sejam comunicações eletrónicas através dos e-mails ou comunicações através das redes sociais - é escutado por um supercomputador da Agência de Segurança Nacional, que tem uma série de algoritmos que permitem que o próprio computador, dotado de Inteligência Artificial, faça desde logo a triagem do que é suspeito."

"Por isso é que Hamas, quando planeou esta operação, não utilizou comunicações através do espetro magnético, mas sim formas tradicionais de comunicação entre os movimentos de guerrilha, que é a ativação de caixas mortas onde se deixam mensagens. Isto é, um conjunto de locais onde, a uma determinada hora, são colocadas mensagens escritas, que um indivíduo do movimento vai buscar a determinada hora. Depois utiliza-se a comunicação passa a palavra", esclarece.

Hamas "não faz mais do que plasmar o Irão"

Já o major-general Agostinho Costa acredita que os reféns estão presos em "infraestruturas subterrâneas", nomeadamente túneis, argumentando que os rockets que o Hamas tem lançado sobre Israel estão armazenados "numa rede extensa de túneis", que "têm comida, água, geradores, eletricidade e armamento".

"Neste momento, Israel está a destruir a Faixa de Gaza, mas a verdade é que o Hamas não está em superfície - está debaixo do chão", diz Agostinho Costa, apontando que os militantes islâmicos "não fazem mais do que plasmar o que o Irão fez". "Onde é que o Irão tem as suas centenas de mísseis? Tem-nos debaixo do chão. Aliás, há imagens disso, de túneis e mais túneis, precisamente para o salvaguardar da arma mais forte do Ocidente, que é a arma aérea", acrescenta.

Neste caso, o comando de forças especiais que está a planear esta operação de resgate, "primeiro tem de perceber como é que acedem aos túneis, depois têm de perceber onde estão os reféns, identificar quem é quem [entre os sequestrados] e definir um critério de prioridade, porque não se resgatam 150 reféns assim de um pé para a mão", afirma.

Independentemente do local onde se encontram os reféns, uma operação de resgate decorre normalmente durante a noite e cabe a um "pequeno número" de elementos das forças especiais, indica Isidro de Morais Pereira: "O número de homens envolvidos numa operação de resgate depende da dimensão do objetivo, do número de reféns e do dispositivo do inimigo. São sempre pequenos grupos, cerca de 30 homens, divididos por um ou dois grupos."

Ainda assim, e apesar de estes homens estarem armados com "equipamento especial", como uma besta a par de "equipamento de visão noturna e uma mira de alta precisão" - armas que, segundo o major-general, "habitualmente não são usadas em operações de caráter convencional" - uma operação de resgate desta dimensão "envolve sempre um elevadíssimo grau de risco, não apenas para os reféns, mas também para aqueles que vão libertar os reféns".

"O ideal é que todos fossem resgatados com vida. Mesmo que só se consiga resgatar alguns, é obrigação do governo israelita tudo fazer para não deixar ninguém para trás. Mesmo que seja uma operação extraordinariamente arriscada e que haja militares que possam morrer. Os militares juram defender o seu país pelo sacrifício da própria vida", salienta o major-general Isidro de Morais Pereira.

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