Gripe A ou mera constipação? Saiba como distinguir e quando deve dirigir-se às urgências

CNN Portugal , BCE
28 dez 2023, 22:09
Doente

A gripe A voltou em força neste inverno com uma estirpe que não estava em circulação em Portugal desde o início da pandemia. Mas isso não quer dizer que a doença seja mais grave, nem justifica a corrida aos hospitais que se tem verificado nos últimos dias, de acordo com os pneumologistas, que apelam à população para que não se dirijam às urgências quando apresenta sintomas ligeiros de gripe

A última semana do ano está a ser marcada por um aumento dos casos de gripe A em todo o país que está a levar a uma corrida aos hospitais e a provocar elevados tempos de espera nos serviços de urgências. Apesar de esta ser “a época habitual das infeções respiratórias”, nomeadamente com o vírus influenza do subtipo A e B, que são os que costumam causar estes períodos de gripe sazonal, este ano os sintomas parecem mais intensos e prolongados.

Para o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro, a pandemia de covid-19 pode ser “uma explicação possível” para esta tendência, desde logo porque a estirpe do vírus influenza do subtipo A que está agora em circulação “não era predominante” desde o início da pandemia. Neste contexto, o pneumologista não exclui que as medidas de proteção e isolamento aplicadas durante a pandemia possam ter levado à perda de imunidade perante esta estirpe do vírus.

“De facto, pode-se ter perdido um pouco de imunidade por não haver contacto com este vírus durante bastantes anos e eventualmente haver com isso uma tendência para que os sintomas sejam mais prolongados e mais intensos”, explica em entrevista à CNN Portugal.

Ainda assim, acrescenta, “o número de doentes afetados por esta gripe não está a ser muito diferente do habitual”. Na semana entre 18 e 24 de dezembro, foram identificados 910 casos positivos de gripe, 837 dos quais do tipo A, de acordo com o mais recente relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.

O pneumologista Agostinho Marques diz mesmo que os casos de gripe A que estão a chegar aos hospitais estão a ser "relativamente menos graves" em comparação com anos anteriores. "Tanto é assim que os internamentos em cuidados intensivos não estão a refletir isso", afirma, indicando que neste momento há "um aumento de internamento por gripe na ordem de 10%".

De facto, "não há propriamente um agravar da severidade" da gripe A, confirma à CNN Portugal Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa. De acordo com o especialista, o facto de alguns sintomas como a tosse persistirem durante algumas semanas (pode durar duas semanas desde a infeção) não significa que a contagiosidade da doença se mantenha. 

"O foco da gripe A é a transmissibilidade, ou seja, o vírus apanha mais pessoas, mas não é mais grave para cada pessoa que fica doente. Isto é, para cada pessoa, esta estirpe dominante não é mais severa do que outras que já enfrentámos", explica.

Para o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro, o que está então "a complicar bastante a situação é o número de pessoas que recorre aos serviços de urgências quando poderiam resolver a situação fora dos hospitais”, o que provoca constrangimentos no serviço de atendimento de doentes urgentes. Esta quinta-feira, os tempos médios de espera nas urgências dos hospitais da região de Lisboa variaram entre as mais de 18 horas, no Beatriz Ângelo, em Loures, e uma hora no Garcia de Orta, em Almada. Na região do Porto, no Hospital de Santo António o tempo de espera para doentes urgentes era de oito horas e 20 minutos, mas cerca das 07:30 estava apenas um pessoa à espera para ser atendida, enquanto no Hospital S. João, o tempo médio de espera era de uma hora e 38 minutos para doentes urgentes.

Gripe ou constipação: como distinguir?

Muitos dos casos que têm chegado às urgências “não são gripe, são constipações”, indica à CNN Portugal o pneumologista Agostinho Marques, acrescentando mesmo que “a gripe, nesta altura, não chega a um terço das pessoas com infeção respiratória” que se dirigem para os hospitais. Nestes casos, “não há nenhuma razão para as pessoas irem para o serviço de urgência”, sublinha o especialista. “Estas situações tratam-se com paracetamol - quando é preciso, porque às vezes nestes doentes nem isso é preciso - e com lenços de papel”, relativiza.

Importa, por isso, distinguir os sintomas de gripe A e os de uma constipação. No primeiro caso, os sintomas mais comuns são febre, tosse, congestão nasal, dores corporais, de garganta e de cabeça, bem como fadiga, vómitos e diarreia. Nas constipações, os doentes não fazem febre, mas têm congestão nasal e costumam queixar-se da sensação de garganta irritada.

Para aliviar os sintomas de gripe, os médicos aconselham a ficar em casa em repouso, beber muitos líquidos, nomeadamente água, utilizar soro fisiológico para tratar a congestão nasal e medir a temperatura ao longo do dia. Se tiver febre, os médicos recomendam a toma de paracetamol. 

A ida às urgências só se justifica nos casos em que a febre persiste, mesmo com a toma de paracetamol, e sente dificuldades respiratórias. Também se justifica nos casos de doentes crónicos que correm o risco de descompensação.

Apesar de já estarmos "em plena época sazonal e em plena época de pico [de infeções respiratórias]", os médicos lembram que a campanha de vacinação sazonal contra a gripe ainda está em vigor nas farmácias, apelando à população para que se dirija aos estabelecimentos aderentes à campanha (identificadas neste localizador de farmácias). Até porque é "muito provável" que os casos de gripe A aumentem após as celebrações da passagem do ano, antecipa o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro.

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