Estilos

8 jun 2000, 16:40

Entrevista a Jorge Valdano

«Esta é uma boa oportunidade para avaliar as selecções «históricas». Há não muito tempo, apostar num estilo de jogo muito definido era um património. Agora, há um pouco a sensação de que todas as equipas têm de abrir-se a novas ideias, globalizar-se»

- Concorda que no futebol actual as selecções representam ainda um espaço de liberdade, de afectividade, por contraste com os efeitos do futebol de mercado junto dos clubes? 

- Depende dos países. Em Espanha, ser do Real ou do Barcelona ainda desperta mais emoções do que ser da selecção. Na Argentina, pelo contrário, a ligação à equipa nacional é mais forte do que aquela que as pessoas têm ao River, ou ao Boca. No Brasil também é assim. Em Portugal não sei... 

-... os clubes são mais fortes... 

- Pois. Seja como for, também as selecções estão a perder vínculos afectivos com o país. Ainda outro dia a Argentina jogou com 11 futebolistas vindos do estrangeiro que chegaram a Buenos Aires 48 horas antes do pontapé de saída. Isso sucede em muitos outros países e provoca um certo desconcerto nacional. 

- Não lhe parece que a identidade específica dos estilos de futebol nos vários países está de certa forma em risco? 

- Sim, também creio. Por isso, esta é uma boa oportunidade para avaliar as selecções «históricas». Há não muito tempo, apostar num estilo de jogo muito definido era um património. Agora, há um pouco a sensação de que todas as equipas têm de abrir-se a novas ideias, «globalizar-se», utilizando um termo muito na moda. Às vezes, parece que o estilo é como uma âncora demasiado forte, que não as deixa adaptar-se às novas possibilidades do futebol. E temos exemplos como o da Alemanha, que continua a resolver as coisas através da disciplina e da força física. Ou da Itália, que mantém a aposta no defensivismo e no rigor táctico. Eu sou um partidário dos estilos próprios, mas creio que o risco inerente a este tipo de selecções é que acabam por caricaturizar-se a si próprias, exagerando os seus traços de personalidade futebolística. Neste particular, o caso da Itália começa a ser escandaloso. E o da Alemanha, preocupante.

Patrocinados