Jorge Coroado: «Agradeço a quem aturou as minhas azias»

10 jun 2001, 21:17

Declarações bem-dispostas na hora da despedida

Jorge Coroado esteve na sala de imprensa do Estádio Nacional após ter apitado o último jogo oficial da sua vida. Não é costume, mas a ocasião justificava-o. 

Bem disposto, com vontade de brincar, o árbitro lisboeta fez rir a plateia em mais que uma ocasião. Quando disse isto, por exemplo: «Agradeço a paciência que algumas pessoas tiveram que ter para aturar as minhas azias. Não foram muitas, mas ainda foram algumas.» 

Ou quando, mais à frente, falou do curso de Direito que espera agora retomar: «Com o devido respeito e sem ofensa, já que andaram toda a vida a chamar-me gatuno e aldrabão, pelo menos passo a ser um aldrabão licenciado!» 

Jorge Coroado deixou o Jamor como passou os últimos 26 anos - precisamente ouvindo assobios e a ser apelidado de gatuno. «Lá em casa também tive sempre quem me chamasse! Roubei-lhes tempo e falhei no meu acompanhamento. Tinha um filho com um metro e nove, quando dei por ele já tinha um metro e noventa e nove. Estive na arbitragem com dedicação, tentei sempre dar o melhor e tenho consciência de ter feito tudo o que podia. Cometi erros, mas os que cometi foram sempre de circunstância, nunca intencionais nem deliberados. Por isso não peço desculpa por eles.» 

O ex-juiz internacional admitiu que já sente «a falta do stress competitivo, que também afecta os árbitros», e falou do que pretende para o futuro: «Vou retomar coisas que deixei para trás há 26 anos. Se puder vou então estudar, até para mostrar aos mais novos lá de casa, que são burros e não aproveitam as oportunidades, que posso competir com eles nesse campo.» 

«Esta final foi o momento mais feliz» 

Jorge Coroado ainda não sabe se o futuro passa por novas funções na arbitragem. Garante é que será fiel ao comportamento de sempre: «Não abdicarei da minha postura e da minha forma de estar na vida. Se nunca abdiquei quando sofri toda a pressão da carreira, certamente não o farei agora.» 

Instado a eleger o momento mais marcante dos 26 anos de arbitragem, Coroado não hesitou em referir-se à final da Taça deste domingo: «Sem falsas modéstias, hoje foi o dia mais importante. Não exactamente por ser o último, mas porque sempre desejei despedir-me assim. Foi a coisa que mais desejei ao longo da carreira, a maior alegria que podia ter. Por isso tenho também de agradecer a quem me proporcionou este momento.» 

Lembrando como facto mais triste o de nunca ter apitado a final da Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa, Jorge Coroado deixou ainda um agradecimento «a todos os órgãos de comunicação social, cujas críticas e análises foram importantes no sentido de emendar erros e poder ser cada vez melhor árbitro». 

Em jeito de legenda para a história da despedida de Coroado, pode ficar a inscrição que trazia na t-shirt com que surgiu na sala: «Obrigado, futebol.»

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