Salgueiros-Belenenses, 2-0 (crónica)

27 mai 2001, 19:30

Bem, já que insistem, vamos lá ganhar...

A vitória do Salgueiros (2-0), sobre o Belenenses, é o desfecho lógico e natural de um jogo que tinha como ponto de partida uma só questão: qual das duas equipas estaria mais desmotivada? A resposta, cristalina, foi dada ao longo dos 90 minutos, sem ambiguidades ¿ era o Belenenses, menos estimulado pela possibilidade de chegar ainda ao quinto lugar e, de passagem, ultrapassar o Benfica do que o Salgueiros pela vontade de pôr fim a uma seca de cinco meses e meio sem ganhar em casa.  

O desinteresse dos azuis foi tão evidente que, por uma questão de justiça, deveria ser possível averbar-lhes falta de comparência. Mas a bem da verdade, o cronista tem de admitir que, com algum esforço de memória, ser recorda de ter visto em campo algumas das camisolas azuis que, ao longo da época construíram algum do melhor futebol da I Liga. Pelo menos as camisolas estavam lá... 

Marinho Peres tinha vôo marcado para o Brasil na segunda-feira. Alguns jogadores tinham jogado em antecipação e já nem sequer faziam parte da convocatória. Com três castigados e quatro lesionados a comporem um substancial leque de indisponíveis, o Belenenses tinha de recorrer a uma estrutura defensiva improvisada, mantendo apenas Marco Aurélio e Filgueira do habitual quinteto ao longo da temporada e, pior ainda, perdia criatividade do meio-campo para a frente, com Guga a pensar em outros vôos e com Beto a não conseguir fazer esquecer Verona. 

É verdade que, do outro lado, o panorama salgueirista não era muito melhor: a defesa era também uma solução improvisada, com Pedrosa a ser adaptado a central e Trotta, a seu lado, a ter finalmente uma oportunidade. Mas do meio-campo para a frente ainda havia por onde escolher. E Vítor Manuel, aproveitando a moralização correspondente à boa exibição da Luz, apostou num esquema ofensivo, com três avançados bem definidos (João Pedro e Caló enquadrando pelos flancos o extravagante Ouattara) e num meio-campo que conjugava combate e rigor táctico com a visão de jogo de Marco Cláudio. 

João Pedro a desequilibrar 

Com estes dados, e depois de 15 minutos de fazer torrar a paciência ao mais generoso, o jogo começou a inclinar-se para o meio-campo dos azuis, que de tão presos de movimentos começaram a ter o seu homem mais avançado, Marcão, a jogar junto ao círculo central. Bruno Fernandes tentava algumas incursões pela direita mas, ao ver-se sozinho ¿ e, íamos jurar, repreendido por alguns companheiros pouco interessados naqueles ritmos ¿ cedo meteu a viola no saco, entretendo-se a tentar travar a velocidade pouco clarividente de Caló. 

João Pedro era quem mais e melhor corria. Depois de duas ameaças, que lhe permitiram ver as dificuldades de adaptação de Cléber a lateral-esquerdo, aproveitou uma excelente abertura de Marco Cláudio e a subida tardia dos centrais do Restelo para bater Marco Aurélio, depois de o contornar calmamente.  

O Salgueiros era a única equipa a pretender algo mais do jogo do que o seu final. A estatística demonstrava-o: três cartões amarelos em meia hora, contra a quase total incapacidade do Belenenses de fazer, pelo menos, algumas faltas. E perante um adversário tão sonolento, mesmo quem não fazia muito por isso arriscava-se a conseguir algumas jogadas vistosas. O Salgueiros teve mais duas, antes do segundo golo, com a assinatura característica de Ouattara (letra tremida). 

Segunda parte em perda 

Com aquele calor, o jogo estava decidido. Ninguém de bom senso poderia esperar que o Belenenses encontrasse por magia motivaçao e argumentos para sequer tentar evitar a derrota. Marinho Peres fez o que lhe competia: tirou Franklim e Marcão (podiam ter sido outros quaisquer) e, troca por troca, lançou Paulo Dias e Cafú. O primeiro não fugiu ao estabelecido. O segundo, à imagem de Bruno Fernandes na primeira parte, teve alguns assomos de entusiasmo, que resultaram nas únicas duas oportunidades da sua equipa. E por aí se ficou a reacção azul. 

Quanto ao Salgueiros, bom, o Salgueiros não podia fazer mais: a ganhar por dois golos, a conseguir uma exibição agradável, esperava que o adversário reagisse para o obrigar a mostrar mais alguma coisa. Isso não aconteceu e, como tal, a equipa deixou fugir a pouca motivação que lhe restava - até porque o Belenenses também já conseguia sacar cartões amarelos ao critério flutuante do árbitro José Mesquita. 

Com a saída de Ouattara, o Salgueiros perdeu a referência (estranha, mas referência, mesmo assim) no ataque; com o desgaste de João Pedro perdeu energias; com a má pontaria de Caló perdeu algumas oportunidades. Perante este cenário, os espectadores foram perdendo a paciência, mais atentos às emoções da rádio do que à sonolência ao vivo e a cores, pura perda de tempo. E o jogo, inevitavelmente, perdeu-se no esquecimento de todos, cinco minutos depois de ter terminado. 
 

Patrocinados