Hélder: «É sempre bom falar português com alguém»

14 dez 2000, 17:10

O médio do Rayo Vallecano prevê o encontro com Pauleta O sorteio quis que Rayo Vallecano e Bordéus se defrontassem na próxima eliminatória da Taça UEFA e autorizou que Hélder defrontasse Pauleta. Frente-a-frente estarão dois emigrantes de sucesso. Hélder quer conversar alguns minutos com o açoriano, mas não esconde ao Maisfutebol que a sua equipa pretende que Pauleta e companheiros fiquem pelo caminho.

O telemóvel terá tocado três vezes. No máximo. Hélder atendera em segundos, depois de detectar um número português no visor. A hipótese de conversar sobre o futebol que lhe é mais querido agradar-lhe-á sempre, mesmo que uma previsão automática lhe permitisse adivinhar o tema principal do apelo. «Vamos falar do Bordéus, não é?». E do Pauleta, acrescentava-se do lado de cá da comunicação. A Taça UEFA colocará dois portugueses, emigrantes de sucesso, na condição de inimigos por duas partidas de futebol. O médio sorri. Do mal o menos, crê. «É sempre bom encontrar alguém que fale a nossa língua. Sempre dá para conversar alguns minutos». 

As hipóteses de sucesso estão repartidas em porções iguais, no imprevisível de um desporto que dispensa as lógicas e surpreende amiúde. O Rayo Vallecano, porém, não terá as mesmas responsabilidades que o adversário. «Temos 50 por cento de possibilidades, mas creio que já foi muito bom chegar até esta fase», assume Hélder, depois de lembrar que «há uma grande diferença entre o orçamento do Rayo e o de outros clubes ainda em competição». O Bordéus insere-se nesse grupo mais abastado. Hélder está ciente do valor dos franceses e pode assumir opiniões válidas, uma vez que esteve um ano no PSG. «É um adversário muito difícil», constata, «pode não ter o nome da Roma, do Inter, do Parma ou do Liverpool, mas está muito bem no seu campeonato». 

Dos tempos em que viveu em França, recorda um «conjunto que defende muito bem e ataca com precisão». O jogador escusa-se a nomear o perigo, mas consente uma excepção para falar de um compatriota. «O ataque deles ainda ficou mais poderoso com o Pauleta». O elogio não soa a favor, mas Hélder mune-se de factos para o suportar. «Está a fazer um excelente trabalho em França», insiste, direccionando por instantes os pensamentos para o lado que representa. «Nós também somos uma equipa unida», sublinha. «Defendemos muito bem e apostamos no contra-ataque, já que o nosso treinador gosta de adoptar o estilo italiano». Uma equipa difícil de derrotar, portanto. «Gostamos de mostrar que os orçamentos e as camisolas não são suficientes para nos ganhar». 

A selecção e Figo 

A conversa assumia agora âmbitos mais alargados. Sugeria-se um tema que pode descambar em polémica, uma mola que faz pular o orgulho nacional e deixa quem o exibe a clamar por justiça. «Creio que o Figo não é inferior nem superior ao Zidane», reagia, assumindo que a eleição do jogador do ano da FIFA se resumiu ao critério dos títulos conquistados. «O título europeu da França pesou muito na decisão», desconfiava. «O Figo é um excelente jogador e não precisa de demonstrar mais nada a ninguém». A France Football, prestigiada revista gaulesa, vai atribuir a Bola de Ouro ao jogador do Real Madrid, elegendo-o como o melhor. «Acho muito bem!», assume de forma efusiva, alargando a satisfação depois de saber que a Gazzetta dello Sport considera Rui Costa o melhor número 10 do Calcio, precisamente a mesma função que Zidane ocupa na Juventus. «Portugal não tem tanta força», constata, referindo-se novamente ao prémio da FIFA. 

Faltava uma última questão, exclusivamente de índole pessoal. Colocava-se a selecção nacional num horizonte aproximado, no campo dos objectivos a cumprir nos próximos tempos. «Talvez já merecesse uma oportunidade», lamenta, «especialmente depois dos anos que passei no Boavista e do trabalho que estou a desenvolver aqui em Espanha». O anseio, todavia, continua por consumar. Hélder procura justificações, mas resume tudo numa frase. «Acho que nunca fui observado nos tempos do Humberto Coelho», arrisca, não escondendo que aguarda por essa possibilidade, agora que António Oliveira voltou ao departamento técnico da FPF. «Este seleccionador conhece-me bastante melhor, por isso só me resta continuar a trabalhar para conseguir convencê-lo».

Patrocinados