Quase tudo mal na noite da decepção (crónica)

9 ago 2000, 22:10

Liga dos Campeões - Anderlecht, 1-F. C. Porto, 0 Nada está perdido, mas a falta de soluções que o F.C. Porto acusou é preocupante. Surpreendidos por um Anderlecht bem mais forte do que se esperava, os portistas apresentaram-se em Bruxelas nervosos e sem imaginação

Decepcionante. O F.C. Porto falhou na sua primeira prova de fogo da época, tendo feito uma exibição fraca e pouco personalizada, esta noite em Bruxelas. 

Os portistas acusaram a extrema importância de que este jogo se revestia e podem ficar satisfeitos por regressarem a Portugal com uma desvantagem de apenas um golo.  

A primeira parte, então, foi um autêntico sufoco. O Anderlecht foi indiscutivelmente superior aos azuis e brancos (hoje de amarelo...) e mereceu inteiramente a vantagem de 1-0. O F.C. Porto nunca conseguiu suster o carrossel belga, assente num meio-campo muito bem mecanizado e no perigo constante que constitui o gigante Koller. 

O Anderlecht soube assumir as despesas do jogo (era a sua obrigação) e cedo percebeu que o vice-campeão português só tinha a perder ao acantonar-se no seu meio-campo. 

Valeu ao F.C.Porto -- para evitar o descalabro na primeira parte -- dois ou três pormenores de classe que se preservaram numa equipa que, na globalidade, esteve longíssimo do que é capaz de fazer. Valeu, antes do mais, a segurança de Ovchinikov, que por duas ou três vezes salvou a turma portista de males maiores. Valeu, também, Jorge Costa e valeram, sobretudo, as acções de contra-ataque pelo flanco esquerdo, de Rubens Júnior (muito melhor a atacar do que a defender), Drulovic e Clayton, que conseguiram diminuir o desequilíbrio na balança de produção ofensiva das duas equipas.  

E, de facto, foi um F.C. Porto de desequilíbrios, o que se viu em todo o jogo e sobretudo nos primeiros 45 minutos. Inquieto, perturbado, com poucas soluções. Os primeiros minutos nem foram desanimadores: De Boeck saiu lesionado aos 7 minutos (foi para o hospital com suspeitas de fractura do nariz), mas nem isso desmoralizou os belgas.  

O remate de Koller ao quarto de hora, por cima da barra, anunciou um período louco do jogo, que durou pouco mais de cinco minutos. Nesse espaço de tempo, a velocidade da partida subiu intensamente: além do remate do checo, Paredes salvou «in extremis» o que seria o primeiro golo do jogo, Radzinski caiu na área e os belgas reclamaram penalty (sem razão) e Koller rematou forte, para uma boa defesa de Ovchinikov. Pelo meio, os portistas responderam com uma boa arrancada de Rubens Júnior pela esquerda e com um golo anulado a Maric, que nos deixou algumas dúvidas (o croata pareceu-nos estar em linha).  
 

Estratégia de arrefecimento foi fatal 

O sufoco parecia ter passado, à custa de uma estratégia de arrefecimento portista muito perigosa. É certo que a partida perdeu velocidade, mas o facto é que os belgas continuaram a ter o domínio do jogo e, desta vez, sem dar tantas baldas ao contra-ataque portista, já sem Maric (lesionado), por troca com Domingos.  

E, assim, foi sem surpresa que o Anderlecht marcou, numa excelente jogada de ataque puro: Vanderhaeghe ludibriou Rubens Júnior, que foi surpreendido com a entrada de Crasson pela ala direita. O defesa belga centrou para a área, mesmo à medida da altura de Koller. 

O F.C. Porto ainda tentou reagir, através de um livre bem apontado por Alenitchev, mas não evitou a desvantagem ao intervalo.  

A formação portista reentrou no jogo carregando consigo uma certeza: a de que algo tinha que mudar. Logo nos primeiros minutos se percebeu que a repartição de posse de bola foi um pouco mais equitativa, ainda que tal dado não se tenha reflectido em grandes ocasiões para os portugueses. Pelo contrário, a primeira grade oportunidade voltou a ser belga, com um super-remate de Stoica, correspondido com uma... super-defesa de Ovchinikov. 

E esta tendência foi acentuada na fase final do encontro. Cada vez com menos discernimento, o F.C. Porto tentava contra-ataques inconsequentes ¿ o remate de Rubens Júnior, que rasou o poste, e os «slaloms» de Clayton foram as excepções no deserto de ideias dos portistas. 

Mais práticos, os belgas estiveram muito perto do 2-0. Goor e Radzinki tiveram nos pés um golo que complicaria ainda mais a missão do F.C. Porto dentro de duas semanas. 

O árbitro esteve globalmente bem, mas a sua actuação pode ter ficado manchada se Maric não estava em fora-de-jogo no lance do golo anulado e se Alenitchev, aos 43 minutos, tiver mesmo sido empurrado por Crasson dentro da área belga. Duas situações que, a confirmarem-se, poderão ter prejudicado os portistas. 
 

Ficha do jogo 
 

Estádio Constant Vanden Stock, em Bruxelas

Árbitro: Tom Ovrebo (Noruega), auxiliado por Erik Raestad e Steinar Holvik 

ANDERLECHT ¿ De Wilde; Crasson, Staelens «cap.» e De Boeck (Dheedene, 7 m); Vanderhaeghe; Van Diemen, Stoica (Iachtchuk, 79 m), Bassegio e Goor; Radzinski (Dindane, 87 m) e Koller

Não utilizados: Ilic, Hasi, Pirard, Anastasiou e Milojevic

Treinador: Aimé Antheunies 

F.C.PORTO ¿ Ovchinikov; Nélson, Jorge Costa «cap.», Aloísio e Rubens Júnior; Paredes (Chainho, 57 m), Paulinho Santos e Drulovic; Maric (Domingos, 23 m), Alenitchev (Pavlin, 67 m) e Clayton

Não utilizados: Pedro Espinha, Cândido Costa, Esquerdinha e Ricardo Silva

Treinador: Fernando Santos 

Ao intervalo: 1-0

Marcador: Koller (38 m)

Disciplina: cartão amarelo a Nélson (30 m), Aloísio (44 m) e Bassegio (84 m)

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