Belenenses-F.C.Porto, 2-0 (crónica)

27 ago 2000, 23:29

Marca golos e acaba em «el», mas não joga no Porto O nome dele acaba em «el», como Jardel, e também é brasileiro. Mas joga no Belenenses e não no F.C. Porto e esse facto foi fundamental para a vitória da equipa de Marinho Peres. Depois do que se viu no Restelo, Fernando Santos tem razões para estar preocupado.

Qual é coisa qual é ela que acaba em «el», é um ponta-de-lança brasileiro e marcou dois golos no Belenenses-F.C.Porto? Não, não é Jardel, esse está no Galatasaray, na Turquia, marca dois golos é ao Real Madrid, o F.C.Porto não quer que se fale nele, chiu!, é passado, chega de Jardel! (embora ajudasse a causa os jogadores marcarem uns golitos - depois de dois jogos em branco é normal falar-se da ausência de um ponta-de-lança, especialmente quando Fernando Santos passa a vida a mudar de ideias, ora jogando Domingos, ora Pizzi, agora Romeu) 

Mas não é o Porto que interessa. Honra aos que jogam à bola, honra ao Belenenses e a Eliel - é este o matador brasileiro que fez os golos da noite. 

O Belenenses venceu e convenceu, especialmente na segunda parte. O F.C.Porto foi tão mau que nos primeiros 70 minutos de jogo as melhores oportunidade de golo que teve (e uso oportunidades de golo num sentido bastante abrangente) foram um canto de Drulovic que saiu directo para a parte de cima da trave e um corte de cabeça do belenense Cléber que não passou assim tão longe mas também não passou assim tão perto. 

É verdade que a equipa de Marinho Peres não fez uma primeira parte impressionante, particularmente a nível ofensivo. Até ao golo o jogo estava a ser uma sucessão de passes curtos aceitáveis, passes médios e longos para esquecer e foras-de-jogo, o que fez com que a bola raramente chegasse às áreas, quanto mais às balizas. 

Aos 37 minutos, no entanto, Alenitchev deu uma ajuda ao jogo, ainda que não à sua equipa. Verona tem mérito pelo baile com a bola nos pés, que incluiu sofrer um carrinho, cair e continuar a dançar, mas o toque por trás no atacante do Belenenses era escusado. Mas aconteceu. 

Eliel bateu o penalty e afastou a bola da estirada de Ovchinnikov, inaugurando o marcador. Sem grande mérito do Belenenses que não seja o de ter aproveitado os erros adversários - mas mesmo assim aqueles três avançados brasileiros na frente já ameaçavam numa corrida ou outra o que ia acontecer no segundo tempo. 

A perder, Fernando Santos decidiu arriscar. A ideia foi boa, o resultado não. O treinador do F.C.Porto abdicou do 4x3x3 e reforçou o ataque. O sacrificado foi o lateral-direito Nélson, uma opção lógica. O ataque do Belenenses funcionava de forma assimétrica, com Guga na direita mas sem ninguém na esquerda - Verona jogava solto nas costas de Eliel e os dois jogadores caíam à vez no lado esquerdo. 

O Porto ficou assim a jogar com três defesas mas nem por isso melhorou. Pizzi e Clayton, os jogadores que entraram, foram uma nulidade. Se algum perigo havia, ele ameaçava nascer junto à baliza de Ovchinnikov. E depois de umas arrancadas fracassadas dos atacantes belenenses, o golo finalmente apareceu. 

Cabral teve um trabalho fenomenal no lado direito, chegou à linha, centrou ao segundo poste e a defesa do F.C.Porto, sem superioridade numérica, compensou mal, deixando Eliel sozinho ao segundo poste. O brasileiro encheu o pé esquerdo e sem deixar a bola cair fuzilou Ovchinnikov. 

54 minutos. O Belenenses vencia por 2-0 e o F.C.Porto nada tinha feito. Os portistas começaram a atacar em desespero, o Belenenses começou a aproveitar os espaços para criar perigo. Verona e Guga estiveram mais perto do golo do que algum jogador do F.C.Porto conseguiu em todo o encontro. 

A única verdadeira oportunidade pertenceu a Capucho, servido na área por um livre de Drulovic, mas o guarda-redes Marco Aurélio defendeu bem. 

O final chegou perante a impotência do Porto e a alegria dos belenenses, que mantiveram a tradição dos bons resultados em casa com os dragões. Os adeptos portistas despediram-se da equipa, do treinador e da Direcção com lenços brancos e gritos de «vergonha!». Não estiveram longe da verdade.

Patrocinados