Varzim-Ovarense, 2-1 (crónica)

27 mai 2001, 21:48

Poveiros sofreram mas subiram

Depois de tanto trabalho, é justo o conhaque. O Varzim está na I Liga e está com mérito. A Póvoa está em festa, que pode até fazer relegar para segundo plano o que foram estes noventa minutos, mas que não apagam o sofrimento que as gentes poveiras, que lotaram por completo o Estádio do Varzim, viveram. Sofrimento desnecessário, diga-se em abono da verdade, já que estavam reunidas todas as condições para se assistir a uma longa exaltação das qualidades da equipa visitada. Mas os jogadores, apesar de não faltarem provas a evidenciar que em condições normais seriam superiores, não conseguiram, ou não souberam, controlar, durante alguns espaços de tempo, a ansiedade. A vitória é, contudo, inequívoca, já que a equipa do Varzim foi, sem dúvida, a melhor sobre o terreno e aquela que mais fez por ganhar.  
 
Foi exactamente essa ansiedade a principal justificativa para alguns sustos vividos pelos varzinistas. Do outro lado estava uma equipa nitidamente limitada, mas que sem a pressão de ter de jogar para o resultado cedo deu a entender que isto não iriam ser favas contadas. Ao Varzim, tolhido pela tal ansiedade, faltou o discernimento para optar sempre pelas melhores opções. O técnico escalonou a habitual táctica de 4x3x3, onde era fundamental o uso das faixas laterais, mas os jogadores insistiam em jogar pelo centro do terreno, vetando ao ostracismo os extremos Mendonça e Toni Vidigal. O «pontapé para o ar» na direcção de Prokopenko, que sozinho na luta com três centrais adversários pouco ou nada conseguiu fazer, era a alternativa possível, daí que os primeiros vinte minutos não tenham sido mais do que um longo e monótono bocejo.  
 
A Ovarense vinha preparada para complicar ao máximo a tarefa dos varzinistas, com uma táctica de 4x5x1 que se transformava em 5x4x1 com o recuo de Hélder Vasco para central quando a equipa perdia a bola, nitidamente defensiva e decidida a adiar ao máximo o golo da equipa da casa. O contra-ataque não passava de um esboço, apenas levado a cabo pelas iniciativas de Luís pelo lado direito. E foi precisamente num desses lances do médio direito que surgiu o primeiro golo, na primeira situação de perigo em toda a partida. Um grande balde de água fria, que calou por completo o até então bastante animado público da casa.  
 
Mas, pelo menos, esse balde de água fria teve o condão de despertar os jogadores do Varzim para o deserto de ideias em que a equipa tinha caído. Os pupilos de Rogério Gonçalves acordaram da letargia e começaram, finalmente, a jogar bom futebol, explorando muito bem o lado direito, onde Mendonça e Paulo Filipe estiveram muito activos na criação de lances de ataque. A boa resposta colheu frutos e, em pouco mais de dez minutos, a equipa deu a volta ao marcador. Até ao intervalo foi o Varzim quem dominou por completo o encontro, mas sem mais resultados práticos.  
 
No reatamento a tendência manteve-se, fruto da evidente superioridade do Varzim. Muito incentivada pelo numeroso público, a equipa desenhou, na primeira metade do segundo tempo, o melhor futebol praticado em toda a partida. Com um meio campo consistente na recuperação das bolas e uma bonita envolvência colectiva no ataque à baliza de Rui Barbosa, explorando muito bem todos os espaços do campo, o Varzim parecia embalado a sentenciar a história do jogo e desta II Liga. As ocasiões de golo sucediam-se, com algumas falhas escandalosas, daquelas de levar à loucura qualquer prezado adepto. Mas o tempo não parava e esse esbanjar de oportunidades haveria de se reflectir mais tarde.  
 
Precisamente a partir da altura em que, quando tudo parecia bem encaminhado, muito incompreensivelmente os jogadores se deixaram influenciar pela já bem conhecida ansiedade. Em consequência, o que parecia fácil tornou-se difícil. A bola deixou de circular confortavelmente pelos vários sectores, como se exige quando se quer ter o controlo da partida. Esta atitude foi um convite à subida no terreno do adversário, que até aí pouco tinha feito. A bola passou a rondar por várias vezes a baliza de Litos, numa aflição capaz de levar ao desespero o mais frio dos adeptos. Finalmente, Martins dos Santos, que teve uma bela actuação, decidiu acabar com este sofrimento, dando-se, então, início aos festejos.

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