Poborsky esconde fraquezas (crónica)

5 ago 2000, 19:13

Benfica empata (2-2) com o Liverpool Dois grandes golos de Poborsky, que permitiram o empate, criaram a ilusão de que o Benfica jogou de igual para igual com o Livrepool. Puro engano. A equipa da Luz continua com várias deficiências e só chegou ao empate graças ao génio do checo.

Dois grandes golos de Poborsky deram ao Benfica um empate com o Liverpool que o futebol praticado pelos portugueses não justificou. Os ingleses chegaram a estar a vencer por 2-0, permitindo a recuperação dos encarnados. O empate a dois golos não foi, no entanto, suficiente para conquistar o torneio de Belfast, que voltou a ficar na posse do Liverpool, como já tinha acontecido na primeira edição. 

O Benfica terminou a competição no segundo lugar, mas sai da Irlanda do Norte com a certeza de que as duas semanas que faltam até ao início do campeonato terão de ser de muito trabalho. Os onze jogadores que estão em campo de vermelho continuam a não ser uma equipa e hoje só o talento de um checo evitou a derrota. 

Esquema encontrado 

Jupp Heynckes procurou ensaiar aquela que se supõe que seja a equipa-base do Benfica para a época 2000/01. O sistema parece estar encontrado: uma linha defensiva de quatro jogadores, tentando muitas vezes utilizar a armadilha do fora-de-jogo; dois médios de características defensivas no centro do terreno; três médios atacantes, dois deles nos flancos; e um ponta-de-lança. 

Os jogadores também não têm variado muito. Em relação à equipa que iniciou o encontro com o Linfield, na passada quarta-feira, Heynckes fez com o Liverpool três alterações: trocou Dudic por Rojas na lateral direita, Chano por Calado no meio-campo e Carlitos (lesionado) por Poborsky no lado direito do ataque. 

É certo que Ronaldo está lesionado, Carlitos também, Kandaurov e Uribe só recentemente recuperaram e ainda não estão em condições de serem utilizados. Mas a equipa que começará o campeonato não vai andar longe da que ontem defrontou o Liverpool, o que não deixa de ser preocupante para o Benfica. 

Eterno problema de laterais 

Na defesa o problema dos laterais subsiste. Dudic tem desapontado, mas Rojas e Escalona, hoje, não estiveram melhor. As distracções defensivas são constantes - e hoje originaram o primeiro golo dos ingleses. E cada vez que a equipa tentava subir para colocar os adversários fora-de-jogo Rojas encarregava-se de ficar para trás e pôr os atacantes do Liverpool em posição legal. 

Calado e Fernando Meira acabaram por formar o melhor sector da equipa, com bom trabalho defensivo e alguns passes interessantes. Só que o ataque é outra dor de cabeça. Os quatro elementos mais adiantados da equipa estiveram muito estáticos, algo desapoiados, procuraram demasiadas vezes as jogadas individuais e só na segunda parte as trocas de bola e de posições começaram em parte a resultar. 

Liverpool de segunda escolha 

O Liverpool apresentou uma equipa com vários jogadores que em princípio vão ser suplentes. O treinador Gerard Houllier manteve apenas um jogador (Babbel) dos onze que começaram o encontro de quinta-feira com o Glentoran, mas as alterações do técnico francês deram frutos logo aos dez minutos. 

Smicer centrou do lado direito e, ao segundo poste, Camara aproveitou a passividade de Escalona e Marchena para cabecear para o golo. O Liverpool dominava como queria, mesmo sem criar muito perigo, e a primeira parte passou com um longo bocejo e um Benfica incapaz de chegar à baliza adversária. 

Três momentos de génio 

O segundo tempo começou praticamente com o fantástico golo de Michael Owen. Babbel centrou junto à linha, do lado direito, e o internacional inglês atirou um pontapé de moinho indefensável. 

O Benfica continuava com as mesmas opções ofensivas, a trocar a bola, a tentar trocar de posições, e de repente começava a aproximar-se mais da baliza contrária. O perigo continuava ausente da baliza de Westerveld, mas pelo menos os encarnados sacudiam alguma pressão. A entrada de Sérgio Nunes, muito mais ofensivo que Escalona, ajudou - as trocas de bolas eram feitas com mais um homem. 

E foram dois centros de Sérgio Nunes a proporcionar os melhores momentos colectivos do Benfica de todo o jogo. No primeiro Poborsky recebeu na direita, ao segundo poste, centrou atrasado e Maniche atirou para boa defesa de Westerveld. O segundo centro sofreu um desvio de Henchoz e, outra vez ao segundo poste, Poborsky atirou de primeira para o fundo da baliza, num pontapé fantástico que levantou o estádio. 

O Liverpool da segunda parte fez muito menos que o da primeira (a saída de Smicer notou-se muito) e o Benfica respondia melhor. Aos 74 minutos os ingleses dispõem de um canto, afastado pela defesa encarnada. Poborsky recupera a bola a meio do seu meio-campo e só termina na área adversária, a desviar o remate do alcance de Westerveld. 

O Benfica conseguia o empate que lhe dava o segundo lugar no torneio de Belfast (à frente de Linfield e Glentoran) e a oportunidade de adiar um duche frio de realidade - mas o aviso está feito, a equipa está longe de um rendimento aceitável. 
 

Ficha do jogo 

Windsor Park, em Belfast

Árbitro: Leslie Irvine 

Benfica - Enke; Rojas, Marchena, Paulo Madeira e Escalona (Sérgio Nunes, ao intervalo); Fernando Meira (Chano, 44 m) e Calado; Poborsky (Miguel, 90 m), Maniche e Sabry; Van Hooijdonk (João Tomás, 71 m).

Treinador: Jupp Heynckes. 

Liverpool - Westerveld; Babbel (Song, 62 m), Henchoz, Hyppia e Traore; Hamman, Carragher e McAllister (Meijer, 66 m); Smicer (Barmby, 50 m), Owen e Camara (Berger, 78 m).

Treinador: Gerard Houllier. 

Ao intervalo: 0-1

Marcadores: Poborsky (65 e 74 m); Camara (10 m) e Owen (49 m)

Disciplina: cartão amarelo a Marchena (32 m) e Rojas (85 m)

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