Casos de doping marcaram Jogos Olímpicos

1 out 2000, 12:10

Oito resultados positivos, só em competição Foram oito casos positivos, só no que diz respeito a atletas que competiram em Sydney. En torno dos Jogos, houve muito mais análises positivas. A lista negra vai da etérea ginasta Andrea Raducan ao peso-pesado C.J. Hunter.

Começou no halterofilismo, depois estendeu-se a mais desportos, até chegar às pistas de atletismo - o doping. Ou, melhor dizendo, os casos de doping detectados nos Jogos Olímpicos. Houve oito casos positivos, só durante a competição. Por muito que não queiram, os Jogos de Sydney ficarão também para a história como os Jogos do doping. 

Ainda hoje foi conhecido novo caso com um atleta medalhado - o halterofilista arménio Ashot Danielyan perdeu o bronze na categoria de +105 kh, depois de ter acusado esteróides.  

O caso mais dramático aconteceu com a ginasta romena Andrea Raducan, que perdeu a medalha de ouro do concurso geral individual por lhe terem sido detectados vestígios de efedrina, um estimulante. 

A defesa de Raducan alega que a substância estava num comprimido para a constipação, o médico assumiu a responsabilidade e o Comité Olímpico Internacional (COI) até acreditou, mas a decisão foi irreversível. 

De novo no halterofilismo, três búlgaros perderam medalhas. A equipa foi expulsa, tal como já tinha acontecido com a selecção romena da modalidade, por causa da regra da federação Internacional que prevê a exclusão de toda a equipa se houver três casos positivos. 

Mais casos antes da competição nos Jogos 

A lista foi democrática na escolha das modalidades - abrangeu ainda um remador da Letónia, que acusou nandrolona, um corredor russo, por um esteróide, e um lutador norueguês, de novo com nandrolona. 

Há quem diga que a lista não foi tão democrática nas nacionalidades. Durante muitos dias, correu em Sydney o rumor de que a Federação Internacional de Atletismo e a dos Estados Unidos estavam a ocultar casos de atletas norte-americanos que tinham acusado positivo. 

Todos desmentiram e, ao fim de alguns dias, rolou uma cabeça. Confirmou-se a suspeita de que o pesado lutador de peso C.J. Hunter, marido de Marion Jones, tinha desistido dos Jogos não porque estivesse lesionado, mas porque tinha acusado nandrolona, um esteróide. 

Os responsáveis pelo atletismo norte-americano disseram depois que tinha havido alguns casos, mas garantiram que nenhum deles envolvia atletas que estivessem em competição nos Jogos. 

Houve 41 atletas que nem chegaram a ir a Sydney, apanhados em controlos antes da competição. Só a China é responsável por 27 dessas exclusões, numa tentativa de limpra a imagem, fortemente abalada depois dos escândalos dos últimos anos, sobretudo na natação.  

E mais nove foram excluídos já depois de estarem aos Jogos, incluindo a lançadora de martelo romena Mihaela Melinte, que foi impedida de competir quando já estava dentro do estádio, pronta para entrar em prova. 

COI reclama os louros 

Nestes Jogos Olímpicos foram introduzidas pela primeira vez as análises ao sangue, que permitem detectar, entre outras coisas, o recurso à EPO (Eritropoietina). A medida insere-se numa política de reforço da fiscalização, que passa ainda por mais controlos fora-de-competição - o português António Pinto foi um dos que foi sujeito a esses controlos-supresa.  

O aumento do número de casos pode-se prender com esses novos métodos, o que significaria que as malhas estão cada vez mais apertadas e o controlo está a funcionar. Ou então com o aumento de atletas dopados. Há muitas maneiras de analisar os números. O COI prefere a primeira. «Acho que nos deviam felicitar de cada vez que é descoberto um atleta dopado», diz Juan Antonio Samaranch.  

Seja como for, a detecção de tantos casos volta a colocar na ordem do dia a ideia de que o recurso a substâncias proibidas fazer parte do quotidiano dos atletas de alta competição. E deve fazer deve relançar a eterna discussão sobre o tema doping, numa altura em que são cada vez mais as vozes que admitem até a liberalização.

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