Cantora Françoise Hardy está doente e escreveu ao presidente Macron pedindo-lhe que legalize a eutanásia: "Quero partir em breve e da forma mais rápida possível"

CNN Portugal , MJC
18 dez 2023, 19:23
Françoise Hardy em 2005 (GettyImages)

A cantora tem quase 80 anos e sofre de cancro na faringe

A cantora francesa Françoise Hardy diz que vive "um pesadelo" do qual quer sair "em breve e da forma mais rápida possível". Hardy, que completa 80 anos no próximo mês de janeiro, sofre de cancro na faringe e escreveu ao presidente francês, Emmanuel Macron, pedindo-lhe que legalize a eutanásia, que atualmente é proibida em França. 

A carta foi publicada no jornal La Tribune du Dimanche: "Caro Emmanuel Macron", começa o texto em que a cantora de temas famosos como "Tous les garçons et les filles" e "Comment te dire adieu" dá como exemplo a situação que viveu a sua mãe, que sofria da doença de Charcot, e à qual os médicos, com a cumplicidade da própria Hardy, facilitaram a fase final de uma vida então insuportável. "Ela confidenciou ao seu médico a vontade de não continuar sofrer desta doença horrível. Ele disse-lhe para ela não se preocupar e que, quando ela quisesse, faria o que fosse necessário”, conta Hardy. "Graças a dois médicos corajosos e compreensivos, a minha mãe não teve que ver o fim de uma doença incurável".

"Sabe que há uma grande maioria de pessoas que quer a legalização da eutanásia?", pergunta Hardy ao presidente, pedindo-lhe que “tenha empatia” e permita que "os franceses que estão muito doentes e que já não têm esperança parem com o seu sofrimento quando sabem que já não há alívio possível".

Não é a primeira vez que a cantora francesa se manifesta sobre este tema. Em 2021, três anos depois de ter sido diagnosticada com cancro, já tinha pedido a legalização da eutanásia para acabar com “o inferno” que vivia há anos. Numa entrevista, nessa altura, falou sobre os problemas que teve com a radioterapia e sobre as dificuldades respiratórias.

Esta semana, numa outra entrevista à revista Paris Match, detalhou, mais uma vez a agonia da sua vida quotidiana: "A doença destrói a mente. A idade ajuda, mas a radioterapia impacta a cabeça, como é o caso das 55 radioterapias que fiz. Aos poucos vamos perdendo a memória e a falta de equilíbrio reduz seriamente as possibilidades de movimentação", explica. Hardy expressou explicitamente que deseja que a sua vida acabe "sem ter que suportar grandes provações, como a incapacidade de respirar".

Também o ator francês Alain Delon, que tem 86 anos e cuja saúde se deteriorou muito, abordou esta questão há um ano. O ator vive atualmente na Suíça, onde a eutanásia é legal: “Não tenho medo de morrer, tenho medo de sofrer”, disse na altura.

O debate sobre a eutanásia está em curso em França há decadas. Em 2021, a Assembleia rejeitou um projeto de lei para legalizar a eutanásia. Um novo projeto de lei "sobre o modelo francês de fim de vida", promessa do presidente francês Emmanuel Macron, será "apresentado em fevereiro", anunciou recentemente Agnès Firmin Le Bodo, minista da Saúde. 

Além de cantora, com trinta álbuns editados, Françoise Hardy também trabalhou como atriz, foi a musa de estilistas como Yves Saint Laurent e Paco Rabanne e foi fotografada por fotógrafos como William Klein e Richard Avedon. Bob Dylan, Manuel Vázquez Montalbán e Jacques Prévert dedicaram-lhe poemas e versos. Apesar de retirada do mundo das artes, Hardy ainda é uma dos cantoras mais vendidas da história da música francesa e continua a ser uma figura icónica e influente tanto na pop quanto na moda francesa. Em 2006, recebeu a Grande Medalha da Canção Francesa, atribuída pela Academia Francesa, em reconhecimento da sua carreira musical.

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