Equipa de Boris Johnson ficou bêbada, discutiu e abusou de empregados de limpeza durante confinamentos da covid-19

CNN , Rob Picheta
25 mai 2022, 13:59
Boris Johnson

Relatório de investigação “entala” Boris Johnson no Parlamento e descreve festas com membros do seu gabinete.

Festas que iam até as primeiras horas da manhã. Funcionários bêbados a vomitar e discutir entre si. Paredes de Downing Street manchadas de vinho tinto. E uma festa de aniversário ilegal para o primeiro-ministro britânico, com seis pacotes de cerveja e dezenas de sanduíches.

Esta era a cena no coração do governo de Boris Johnson, enquanto o resto do Reino Unido era proibido de ver amigos ou parentes, de acordo com uma investigação há muito esperada sobre festas em Whitehall e Downing Street que romperam os confinamentos.

Boris Johnson enfrenta uma batalha para salvar o cargo de primeiro-ministro, depois de o relatório ser publicado, esta quarta-feira, pela funcionária pública sénior Sue Gray, relatório  que critica uma cultura de eventos que violam as regras e revela novas fotografias de Johnson em dois ajuntamentos diferentes.

Gray escreveu que "a liderança sénior no centro" da administração de Johnson "deve assumir a responsabilidade" por uma cultura que permitiu que as festas ocorressem.

E acrescentou que "não há desculpa para alguns dos comportamentos" que investigou, que incluem "consumo excessivo de álcool". Foram também apresentados registos de trocas de e-mails, incluindo alguns em que a equipa falava abertamente sobre esconder as suas festas da comunicação social.

O relatório investigou 16 eventos que ocorreram no coração do governo, enquanto o Reino Unido vivia sob estritas restrições por causa da covid-19.

Johnson frente a uma mesa cheia de garrafas, num evento em novembro de 2020. Na altura, festas e ajuntamentos no interior de casas eram proibidas. Fotografia no topo: Johnson levanta uma lata de cerveja numa festa de aniversário em sua homenagem. A imagem foi incluída no dossiê, juntamento outras de Johnson em outro evento

Falando no Parlamento momentos depois da publicação do relatório, Johnson disse que estava "humilhado" e que "aprendi a minha lição", acrescentando: "Assumo a total responsabilidade por tudo o que aconteceu sob o meu comando".

Mas também repetiu alegações anteriores de que as festas só escalavam depois dele sair, e insistiu que estava "surpreendido e desapontado" com a ocorrência de vários eventos regados com bebidas.

Johnson sugeriu ainda que os recintos apertados dos prédios do governo e as "horas extremamente longas" de trabalho da sua equipa, respondendo à crise da covid-19, poderiam explicar porque várias festas e eventos sociais ocorreram.

"Participei brevemente nessas reuniões para agradecer-lhes pelo seu serviço, o que acredito ser um dos deveres essenciais da liderança", disse Johnson.

O relatório levanta questões sérias sobre se Johnson enganou os deputados quando negou anteriormente que as festas tinham ocorrido.

Johnson foi atacado pelo líder da oposição do Partido Trabalhista, Keir Starmer, que disse que o inquérito "fornece uma prova definitiva sobre e como aqueles dentro do prédio trataram os sacrifícios do povo britânico com total desprezo".

"Este relatório será um monumento à arrogância de um governo que acreditava que havia uma regra para si e outra regra para todos os outros", disse Starmer.

"Você não pode ser um fazedor de leis e um violador de leis. É hora de fazer as malas."

Membros do gabinete disseram para trazer bebidas e evitar os média

Gray também descobriu que Johnson participou numa festa no jardim, em maio de 2020, durante cerca de meia hora, onde estavam presentes aproximadamente "30 a 40 pessoas".

Um convite para esse evento informava equipa sobre "bebidas socialmente distanciadas" no jardim de Downing Street, aberto a "quem estiver em seu escritório".

"Podes também sugerir que eles tragam as suas próprias bebidas! Não tenho certeza se temos as suficientes", lê-se num e-mail de Martin Reynolds, secretário particular principal de Johnson, segundo o relatório. No dia seguinte, Reynolds observou que a comunicação social não havia noticiado a festa, escrevendo a um colega: "Parece que nos safámos desta".

Numa troca de e-mails, os funcionários foram instruídos a evitar “andar por aí a acenar com garrafas de vinho” enquanto a comunicação social estava no prédio, e a manter o som baixo nos encontros enquanto uma conferência de imprensa ministerial sobre a covid-19 estava a ocorrer.

Alguns funcionários sentiram-se desconfortáveis ​​com o comportamento dentro do “Número 10”, mas temeram levantar problemas, descobriu Gray. Noutras ocasiões, os guardas foram mal tratados pelos envolvidos nos eventos.

"Fiquei ciente de vários exemplos de falta de respeito e mau tratamento das equipas de segurança e de limpeza. Isto foi inaceitável", escreveu.

Gray deu a entender que os funcionários de Downing Street não estiveram dispostos a dar informações sobre as festas, escrevendo: "Infelizmente, os detalhes de alguns eventos só se tornaram conhecidos por mim e pela minha equipa através de reportagens na comunicação social. Isto é dececionante".

O tempo de Johnson no cargo de primeiro-ministro tem sido afetado pelo escândalo de há meses apelidado pela imprensa britânica de "Partygate". Inicialmente, negou que tivesse ocorrido qualquer evento, mas foram posteriormente investigados 16 por Gray, 12 pela polícia e o próprio Johnson foi já multado por participar num deles.

Na véspera do lançamento do relatório, a ITV News publicou fotografias de Johnson a levantar um copo com vários dos seus colegas num evento de despedida, em novembro de 2020, quando os ajuntamentos em espaços interiores estavam proibidos.

Johnson deverá discursar na Câmara dos Comuns ainda esta quarta-feira. Alguns dos membros do Parlamento do seu próprio partido conservador juntaram-se nas últimas semanas aos apelos da oposição para que ele renuncie ao cargo. Agora, ele terá de convencer os seus colegas a apoiá-lo, apesar da série de alegações e do inquérito de Gray.

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