Senhor Martínez, não sentimos paixão por esse ato de espalhar as brasas da anarquia

19 jun, 02:33
Francisco Conceição

PORTUGAL 2-1 CHÉQUIA || O título deste artigo está cheio de gracinhas e trocadilhos mas o jogo não teve muita graça - valeu-nos a sorte. Por outro lado: as estatísticas dizem que este foi o jogo mais desequilibrado da competição - e Portugal tornou-se a equipa do Euro com mais posse, mais ataques, mais cantos, a segunda com mais passes. O que fez Portugal com tudo isso? Desperdiçou-o em anarquia em vez de o aplicar em futebol sexy - que é o que se espera de uma seleção de "apaixonados", tal como o próprio Roberto Martínez a designou

AS NOTAS DOS JOGADORES
 

DIOGO COSTA

(Pedro Falardo) 6   Sofreu golo na única vez em que verdadeiramente precisávamos dele, mas não tinha grande hipótese de defesa. Não comprometeu no jogo com os pés.

(Germano Oliveira) 10 → Levou luvas, usou as mãos, ocupou a baliza, portanto leva 10 por ter estado na posição certa durante o jogo inteiro. Mérito do Diogo porque tenho a certeza de que o mister Martínez deve ter dito ao Diogo para passar para médio-defensivo quando a equipa técnica se apercebeu de que se tinha esquecido do Palhinha no banco. Mas o Diogo fez como o Nuno Mendes, ignorou as ordens do mister: bravo, Diogo, por teres conseguido ser guarda-redes neste jogo.


PEPE

(Pedro Falardo) 5 Não foi um jogo particularmente feliz do central de 41 anos. Não que tenha tido algum erro escandaloso, mas perdeu alguns duelos em velocidade. A idade pesa.

(Germano Oliveira) 5 → Está sem clube mas está cheio de parceiros a central, deve ser da crise dos 40 - desconfio é que o Pepe até estava confortável com a monogamia/monotonia dos dois centrais. Leva 5 porque não foi nem bom nem mau, mas definitivamente não foi melhor que o Palhinha.


RÚBEN DIAS

(Pedro Falardo) 7  Viu-se pouco durante todo a partida (e ainda bem) e esteve lá quando foi preciso. Jogo normal em que cumpriu o que lhe era pedido.

(Germano Oliveira) 5 → Chegou a fazer e bem de Dalot no início da segunda parte: o Rúben foi à linha lateral direita cruzar para Ronaldo, parecia mesmo o Dalot quando o Dalot sabe exatamente o que tem de fazer e que terrenos cobrir, o que eu não sei é se o Dalot sabia se tinha de fazer ou não de Rúben Dias quando o Rúben Dias estava a fazer de Dalot. Confuso? Pois: e por isso nem Rúben nem Dalot foram melhores que Palhinha.


NUNO MENDES

(Pedro Falardo) 8 O melhor de toda a seleção. Roberto Martínez colocou-o a central mas só na teoria, porque na prática jogou basicamente como ala esquerdo. Na verdade, nem sei bem em que posição jogou. Na primeira parte foi um dos poucos que não tiveram medo de tentar um cruzamento, um remate, o que fosse. Está envolvido no lance do primeiro golo com uma espécie de assistência e esteve muito combativo durante toda a partida. Ah, e não se lesionou.

(Germano Oliveira) 6 → Ainda não sei que posição ocupou exatamente, tenho a sensação de que ele também não, supostamente foi central mas apareceu a progredir frequentemente com bola em zonas avançadas interiores, a aparecer nelas, incluindo no autogolo checo, e isto diz-nos o seguinte: Nuno Mendes é definitivamente um homem apaixonado pela sua posição natural, promete ser-lhe fiel, amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da vida, nem que Martínez tente separá-los. Mas não jogou melhor que Palhinha.


DIOGO DALOT

(Pedro Falardo) 5 → Perdeu algumas bolas durante a primeira parte foi letárgico quando solicitado. Jogo pouco conseguido.

(Germano Oliveira) um 10 pela paixão que tenho por ele → Considero-o um craque, é dos jogadores de que gosto mais (não é ironia nem gozo, é facto), faz-nos muita falta neste Euro, mas parece que está lesionado ou assim e por isso não pôde jogar contra a Chéquia, gostava muito de o ter visto em campo. 


VITINHA

(Pedro Falardo) 8  Um verdadeiro dínamo naquele meio-campo. Esteve muito ativo, especialmente na segunda parte. Procurou os colegas, procurou mandar a equipa para a frente sem medos. Justíssimo ter sido considerado o homem do jogo. Partida soberba daquele que é o melhor jogador português na atualidade. É polémico dizer isto, eu sei, mas Vitinha jogou muito esta época.

(Germano Oliveira) 8 → O Falardo já explicou que o Vitinha foi considerado homem de jogo e eu acrescento que considero o Vitinha homem que provoca vários pecados mortais: quero sempre o Vitinha a encher os relvados da minha equipa, gula; queria tanto saber receber, dominar, passar a bola da maneira sexual que ele a faz, inveja e luxúria; não sinto nem preguiça nem soberba porque não sei que coisas hei de inventar sobre isso relacionadas com o Vitinha, avareza sinto de certeza mas tenho de clarificar dentro de mim porquê. Foi o único a jogar melhor que o Palhinha e isso não provoca ira a ninguém a não ser ao tipo do Wolves que mandou o Vitinha de volta para o FC Porto.


BRUNO FERNANDES

(Pedro Falardo) 5 → Um dos piores jogos que fez com a camisola da seleção nacional, ele que costuma ser sempre um dos melhores em campo com a camisola das Quinas. Viu-se a espaços e não foi determinante para nada. Temos, porém, a certeza de que melhor virá.

(Germano Oliveira) 6 → O Bruno também me desperta uma certa luxúria porque acho mesmo que era o jogador mais sexy até vir o Vitinha, mas ao contrário de mim o Bruno não é invejoso e adaptou-se, evoluiu de jogador mais sexy para jogador mais importante da seleção - e a seleção é sempre mais vibrante quando o Bruno está bem, quando descobre espaços, quando os cria, quando remata duas sete dez vezes de longa ou média ou curta distância, a seleção é sempre melhor quando o Bruno está feliz e ele hoje parecia a sufocar, tanta gente confundida pelas táticas de Roberto Martínez criou claustrofobia no futebol do Bruno, que por isso não jogou melhor que o Palhinha


JOÃO CANCELO

(Pedro Falardo) 5 → Acelerou o jogo um par de vezes e tentou fazer arrancadas em vários momentos. Jogador que tenta arriscar contra um bloco baixo tem sempre a minha aprovação. Mas, obviamente, já o vimos a fazer muito melhor.

(Germano Oliveira) não sei dar nota ao Cancelo → Não foi lateral, acho eu; não foi central, também acho eu; foi médio?, não sei, foi um pássaro?, foi um avião?, sei lá, certamente não foi nem mais rápido que uma bala nem mais poderoso que uma locomotiva, levou com a Kryptonite-Martínez e foi-se abaixo. Jogou bem pior que o Palhinha mas não tem culpa disso, afinal o Palhinha foi o único que sabia em que posição devia estar - no banco 😭


BERNARDO SILVA

(Pedro Falardo) 6  Podia escrever o mesmo para Bernardo Silva que escrevi para o Bruno Fernandes. Acrescento apenas aquela oportunidade na segunda parte em que estava isolado e poderia perfeitamente ter rematado, mas escolheu passar a bola. Um jogador desta qualidade tem de arriscar, ninguém lhe cobraria nada por tentar Uma nota positiva: foi o que mais correu e por larga margem.

(Germano Oliveira) 6 → O Bernardo deve ser o vagabundo mais rico do mundo, andou à direita, à esquerda, pelo meio, recuou, avançou, centrou, caiu, levantou-se, esbracejou, reclamou, aconselhou, fez tudo o que lhe apeteceu na anarquia tática de Portugal e tornou-se o jogador com mais quilómetros percorridos em campo apesar de Portugal ter corrido no total menos 5,4 km que a Chéquia (121,1 km vs. 115,7). Tentou jogar melhor que o Palhinha mas só conseguiu correr mais do que o Palhinha.


RAFAEL LEÃO

(Pedro Falardo) 8  Não lhe vou descontar nenhum ponto pela simulação, gosto muito dele e do que traz ao jogo. Tentou romper a descaída defesa checa e, como habitualmente, não teve medo do 1-para-1. Tem de continuar a ser titular.

(Germano Oliveira) 6 → Escrevi isto na nota que dei ao Rafael Leão após o Portugal 3-0 Irlanda: "O Leão é o jogador mais feliz do mundo quando está em progressão com bola, aquele sorriso que ele tem quando finta e remata é um acontecimento que prova que o futebol é um jogo tão bonito quanto romântico. Problema: este sorriso dele merece ser mais consequente, o Leão tem essa tendência de nos deixar num entusiasmo alucinante sempre que pega na bola, esperamos tudo dele, e depois ficamos numa desilusão resignada quando vemos todos aqueles cruzamentos ou passes ou corridas sem grandes consequências. Se ele aliar um pouco mais de inteligência à rebeldia, vamos ser muito felizes no Euro". Ainda não foi desta.


CRISTIANO RONALDO

(Pedro Falardo) 6  Na primeira parte fizeram-se vários cruzamentos para a área e não se viu lá ninguém. Onde estava Cristiano nesses momentos? Mesmo assim, na segunda parte, esteve bem a aparecer nos espaços vazios para cabecear. Apenas teve o azar de jogar contra a terceira seleção com a média de alturas mais elevada do torneio.

(Germano Oliveira) 6  Correu menos 3,38 km que o Bernardo mas vejam isto: a velocidade máxima que o Bernardo atingiu foi de 29,1 km/h, a do Ronaldo - respirem fundo ou arriscam ficar para trás - foi de 33,1 km/h, o que faz com que Ronaldo tenha sido também mais rápido que Palhinha ainda que também não tenha jogado melhor que Palhinha - mas, tal como Palhinha, Ronaldo não falhou nenhum passe, fez 21 e foram todos bem-sucedidos.


GONÇALO INÁCIO

(Pedro Falardo) 6  Confesso que só me lembro de o ter visto uma vez com a bola, e não sei se não é a minha memória a tramar-me. Não comprometeu e basta.

(Germano Oliveira) sem nota  Acho que ao Pedro Falardo só falhou constatar mais um facto: o Inácio não esteve tão bem quanto Palhinha.


DIOGO JOTA

(Pedro Falardo) 7 → Esteve ativo nos poucos minutos em que esteve em campo e marcou um golo que não contou, mas que o meu coração considera válido. Quero ver mais dele neste Europeu, apesar de estar tapado em todas as posições em que pode jogar.

(Germano Oliveira) 7  Falhou metade dos passes que fez e sai do jogo sem qualquer remate - na verdade fez um, aquele golo anulado, que é o único momento que devemos mostrar às criancinhas para explicar como este Portugal-Chéquia foi muito absurdo (o outro momento são as táticas de Roberto Martínez mas isso é para maiores de 18): depois de Jota marcar, vários jogadores portugueses entraram pela baliza adentro para ir buscar a bola, nomeadamente o próprio Jota, mas Stanek, o guarda-redes checo, agarrou-se à bola como se a vida dele dependesse disso e a questão é a seguinte - ou Stanek queria perder tempo porque 2-1 era uma derrota digna e melhor do que ir tentar o 2-2, o que é uma teoria absurda, ou Stanek estava em contacto com o videoárbitro e sabia que o golo iria ser anulado por fora de jogo de Ronaldo, o que é uma teoria ainda mais absurda. Resultado da nossa investigação: Jota só queria a bola para a pôr por dentro da camisola e simular uma gravidez, vai ser papá, é algo pelo qual vale a pena lutar com um guarda-redes; continuamos sem descobrir o que é que Stanek estava a fazer naquela luta, se calhar tem algo contra a natalidade, fica-lhe mal; descobrimos entretanto que Jota foi mais do que aparente más estatísticas (nenhum remate, metade dos passes falados) porque Jota agitou mesmo o jogo - é daqueles futebolistas muito sagazes quando o jogo fica mais anárquico (mais valia ter sido titular porque Portugal foi anárquico no jogo inteiro), mas, apesar da componente ideológica do futebol do Jota, não jogou melhor do que Palhinha.


NÉLSON SEMEDO

(Pedro Falardo) sem nota Não apareceu no jogo, não consigo dar nota, lamento.

(Germano Oliveira) sem nota  não fez nada no pouco tempo que lhe deram para ter uma nota ou para ser alvo das gracinhas que andámos por aqui a fazer. Por isso: esteve quase tão bem quanto Palhinha.


PEDRO NETO

(Pedro Falardo) 8 Confesso que não percebi as críticas de quem acha que a chamada do Pedro Neto não tem justificação. Com certeza não viram os jogos do Wolverhampton em que participou. É isto que Pedro Neto faz: driblar, correr, correr para a frente, correr para a área. Pode ser bastante útil no futuro da competição tal como foi esta noite.

(Germano Oliveira) 8  A UEFA diz que o Pedro Neto só tem um minuto de jogo, o que nos faz desconfiar das estatísticas oficiais que temos usado neste artigo - mas depois percebemos que a UEFA trata o minuto 90 como o estereótipo trata Paris, porque tudo o que acontece além do minuto 90 fica considerado como sendo do minuto 90. Portanto: oficialmente, Pedro Neto atingiu num minuto de jogo o pico de 32,71 km/h e entra na história como sendo o autor de um dos melhores passes falhados de sempre - o centro dele para a área atrapalhou dois defesas checos, depois Francisco Conceição aproveitou como já sabemos, e Pedro Neto sai deste jogo como um velocista que falhou não um mas os dois passes que fez, parece portanto que fez uma exibição muito pior que a de Palhinha mas na verdade só falhou mais dois passes que o Palhinha.


FRANCISCO CONCEIÇÃO

(Pedro Falardo) 8 É um jogador de quem eu nunca disse mal por causa do seu temperamento, juro, juro até ao infinito. Estava no sítio certo à hora certa e deu os três pontos a Portugal. Tivesse estado em campo mais tempo e de certeza que teria mais ações decisivas.

(Germano Oliveira) 8  Não teve tempo para ficar em brasa, só atingiu um pico máximo de 25,7 km/h, mas teve tempo para ser estatisticamente perfeito - tem 100% de eficácia de passe (1 feito, 1 bem-sucedido), 100% de eficácia de remate (1 golo numa tentativa), tem até um cartão amarelo, fez tanto no tão pequeno minuto oficial que jogou (já falámos sobre Paris) e é óbvio porque o Francisco foi tão 100%: foi dos jogadores que passaram mais minutos junto de Palhinha, quando se está tanto tempo próximo do melhor aprende-se a fazer melhor. Mas não teve tempo para ser melhor que Palhinha.


ROBERTO MARTÍNEZ

(Pedro Falardo) 3  há testes e testes. Este não correu bem e espero que não repita o que fez hoje. Nuno Mendes a central numa linha a três? Bernardo e Cancelo como vagabundos? Nenhum pivô? Não pode ser. A seleção precisa de João Palhinha, por exemplo. A seleção precisa de Nuno Mendes e João Cancelo nas alas a partir rins. Não há que inventar.

(Germano Oliveira) 10  Estou a brincar. Tal como Roberto Martínez taticamente.

Golos

1-0

 


1-1

 


2-1

 

Ter a certeza de que queremos o outro Roberto Martínez de volta: o melhor do jogo

por Germano Oliveira

A Chéquia é abnegada, fria, fechada, são excelentes qualidades para ganhar um euro 2004; Portugal é confuso, indefinido, indeciso, juntem-lhe a sorte que teve nos dois golos diante dos checos e Portugal tem todas as qualidades para vencer um euro 2016 mas a questão é que isto é 2024, "eu não confio nesta seleção", diziam aqui na redação da CNN aos 40 minutos de jogo, "ele vai ter de mudar alguma coisa ao intervalo", "ele" é obviamente Martínez, "isto não faz sentido nenhum", "isto" é a maneira como a seleção estava a jogar, mas os números eram assim aos 40 minutos:

Portugal com 73% de posse, oito remates para um da Chéquia (e esse único nem sequer foi enquadrado), Portugal com 38 ataques para cinco do adversário, sete cantos para nenhum da Chéquia, a eficácia de passe portuguesa nos 90% e a do rival nos 72% (a pior do Euro até àquele momento e ficou pior), a Chéquia já tinha corrido mais 3,2 km que Portugal naqueles 40 minutos, ao menos nisso estávamos a cansá-los apesar de o mais cansado ser Bernardo, era o jogador com mais quilómetros em campo porque era também o mais vagabundo nele, Bernardo dispunha de liberdade total que se que incompatibilizou com a anarquia em curso - Nuno Mendes era um central à força que não resistia à paixão de estar em campo como lateral (e essa desobediência ajudou ao autogolo que os checos nos deram), Cancelo ora chocava com Rafael Leão, ora com Nuno Mendes, que por sua vez chocava com Rafael Leão; Bruno Fernandes, o segundo jogador que correu mais em todo o jogo, corre pior quando não tem o segurança Palhinha a guardar-lhe as portas do meio-campo defensivo; Dalot é demasiado novo para ter ouvido punk anárquico e por isso sentiu-se desconfortável naquela rebeldia tática; sobrava o nosso mosqueteiro Vitinha para pôr ordem em tanta desordem, fez o que pôde e fez muito bem, mas "um por todos" não funciona muito bem no futebol moderno, as estrelas decidem jogos mas as equipas ganham competições. 

E Portugal não foi uma equipa, foi uma experiência que só não nos custou três pontos porque houve sorte - o empenho esteve lá mas a desorientação impôs-se, apesar de termos sido fortíssimo em abstrato: Portugal sai deste jogo como a equipa do Euro com mais posse nesta jornada (69%, depois a Alemanha com 68% num jogo em que esmagou 5-1), Portugal torna-se a terceira seleção com mais remates (19 que deram um golo porque o outro foi autogolo, a Turquia fez três golos em 22 remates, a Alemanha cinco golos em 20 remates), Portugal é a equipa com mais ataques (75, a Alemanha tem 63), somos de longe a equipa com mais cantos (13, desaproveitados; a Espanha tem cinco e já fez um golo a partir de uma dessas bolas paradas), só a Itália fez mais passes que nós (Portugal tem 712 e a Itália 820, mas nós temos 87% de passes bem-sucedidos e a Itália 93%) e agora convém virar estes números de avesso: a Chéquia é a segunda equipa com menos remates (cinco, os mesmos de Inglaterra, a Escócia é a pior, fez um), a Chéquia é a terceira equipa que atacou menos e não tem cantos (tal como Croácia e Escócia), foi a terceira equipa que fez menos passes (só a Roménia e a Escócia fizeram pior), a Chéquia tem a pior eficácia de passe (68%) e é a terceira equipa mais desgastada durante um jogo (Sérvia e Inglaterra, que jogaram entre si, são as únicas que têm mais quilómetros). Viram os denominadores comuns? 

Escócia e a Chéquia tem genericamente os piores indicadores, Portugal e a Alemanha os melhores: a diferença pouco subtil é que a Escócia levou uma porrada da Alemanha e a Chéquia ia vencendo Portugal não fosse um autogolo e dois dos seus jogadores terem tido acidentes gravitacionais no lance do segundo golo - Portugal hoje não foi uma equipa, foi uma experiência que só não nos custou três pontos por sorte. Tirar Palhinha, ter três laterais de raiz em simultâneo em que dois deles estão fora de posição, ver dois médios desassossegados nas suas movimentações devido à ausência do seu guarda-costas, tudo isso mexe não só com as posições em que o treinador experimentou mas em todo o esqueleto da equipa, contaminam o sangue dela.

Concluo: quando diziam aqui na CNN aos 40 minutos "não confio nesta seleção" eu pensei "não confio é neste Roberto Martínez, confio é naquele Roberto Martínez certeiro que chama espalha-brasas ao Francisco Conceição, não confio neste Roberto Martínez que inventa problemas, confio é naquele Roberto Martínez estável que tínhamos antes de perdermos com a Croácia", porque a inventar é precisamente em jogos como esse da Croácia, quando não contam para nada, aí perde-se e aprende-se, nestes a sério é para não inventar, aí depende-se menos da sorte e mais de todo o nosso potencial.

Espalha-brasas é quem vai a uma discoteca dar encontrões: o momento do jogo

por Pedro Falardo

Tal como disse nas notas dos jogadores, tendo-lhe dado o 8, eu nunca o critiquei, nunca, nunca, nunca. Nunca fiz nenhuma observação negativa sobre o seu comportamento em campo e definitivamente nunca o chamei de “Chico Conceichão” por às vezes se deixar cair no vazio. Fora de brincadeiras, este Francisco pode dar muito à seleção. Hoje não teve tempo de fazer aquilo que melhor sabe, exceto o golo, claro, mas tenho a certeza de que vai ter mais tempo de jogo nos próximos jogos. Não tenho só a certeza, ele tem de jogar mais. Confesso que me irrita um pouco a alcunha de “espalha-brasas” que lhe têm dado, pela conotação negativa da palavra. Espalha-brasas é quem vai a uma discoteca dar encontrões a pessoas só para arranjar confusão e poder dar murros e pontapés. Espalha-brasas é também alguém que age sem pensar nas consequências, irrefletidamente, que faz coisas à-toa. O Francisco não age à-toa, todas as suas ações são para criar perigo, para desequilibrar na procura do golo. Se eu o visse a correr sem destino, sem propósito, tudo bem, mas o Francisco pensa em tudo, apenas pensa e executa tão rápido que nos parece uma coisa aleatória. Merece uma alcunha mais simpática. Ah, o momento do jogo. É o segundo golo, claro. É sempre importante entrar a vencer numa competição destas, para acalmar os ânimos e dar mais fôlego para os jogos seguintes. Obrigado ao defesa checo que decidiu ajoelhar-se e pôr a bola à mercê do Chico.

Sabem aquele meme? O pior do jogo

por Pedro Falardo

Ok, eu sei que a segunda parte foi pouco espetacular, mas foi certamente melhor que a primeira. Que foi uma verdadeira agonia. Passe para o lado, passe para trás, passe para o lado, passe para trás. Sabem aquele meme em que está uma criatura com um pau a apontar e tocar em algo e a dizer “C’mon, do something”? Fui eu assim durante os primeiros 45 minutos. Para Portugal, claro, estou-me a borrifar para a Chéquia. É difícil lidar com blocos baixos, mas Portugal vai de certeza ter de jogar contra mais destes durante este torneio em virtude de ser uma das seleções mais fortes. À partida, muitas outras equipas temem Portugal. Mas hoje viram uma boa maneira de contrariar a magia de alguns dos nossos maiores artistas. Portugal ganhou com um autogolo e um golo nos descontos, escasso para a diferença de valores das duas equipas. Espero que Roberto Martínez tenha tirado algumas notas sobre o que não fazer nos próximos jogos, em especial daquela primeira parte.

Martínez não se tinha posto a si próprio em campo: a surpresa do jogo

por Germano Oliveira, 19:50 de 18/06/2024

Escrevi isto antes do início do jogo: 

Lembro-me daquele dia em 1997, o António Oliveira pôs o Costa a jogar, coitado do Costa, o Costa estreou-se a titular nesse jogo contra o Manchester United, o FC Porto levou 4-0; lembro-me do David Luiz a defesa esquerdo no Dragão, uma invenção do Jorge Jesus para tentar o impossível, travar o Hulk, o Benfica perdeu 5-0 para o FC Porto de Villas-Boas então treinador. Portanto: escrevi isto antes do Portugal-Chéquia, são 19:50, daqui a duas horas quero que me esfreguem na cara o meu receio, o nosso selecionador tem em campo um onze em que Nuno Mendes e Dalot e Cancelo são titulares, pensei que era gralha quando vi o 11, depois constatei que o Palhinha também não é titular, perguntaram recentemente ao Roberto Martínez que jogador da seleção se parece mais com o Roberto Martínez que foi jogador, "Palhinha", respondeu Martínez, "mas Palhinha tem um nível superior ao que eu tive", acrescentou Martínez a sorrir, agora são 19:54 e o Martínez não se tinha posto a si próprio em campo, não sei o que pensar disso, eu estimo muito o Vitinha, sinto o mesmo pelo Bruno Fernandes, mas sinto-me sempre mais seguro quando tenho Palhinha nas costas seja de quem for que esteja à frente dele, são 19:58, está quase a começar o jogo, vemo-nos daqui a umas horas.

Eu não estava certo, ter Palhinha em campo é que é certo.

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