É cada vez mais difícil ser-se jovem em causa própria...

16 mar 2016, 10:23
Rúben Neves e Renato Sanches

Utilização de sub-22 nacionais tem vindo a cair por toda a Europa

Rúben Neves (FC Porto) e Renato Sanches (Benfica) estão entre os jovens futebolistas europeus com menos de 20 anos  a disporem de mais tempo de utilização na Liga principal do seu país. Os dois representantes da Liga portuguesa estão entre os seis futebolistas nascidos em 1997, ou depois, que contam mais minutos, juntamente com Youri Tielemans (Anderlecht), Breel Embolo (Basileia), Enes Ünal (emprestado pelo Manchester City ao NAC Breda) e Ante Ćoric (Dinamo Zagreb). Em nenhuma das cinco principais Ligas europeias há jogadores com níveis semelhantes de utilização aos apresentados por estes seis nomes. Outros jogadores da Liga portuguesa, como Otavinho (V. Guimarães) e Ivo Rodrigues (Arouca), nascidos em 1995, ou Gonçalo Guedes (Benfica), nascido em 1996, ocupam posição de destaque nesta lista elaborada pelo CIES, Observatório do Futebol e que tem como único critério o total de minutos em campo.

No entanto, estes dados não invalidam uma conclusão de fundo: a de que as principais Ligas do futebol europeu estão cada vez mais relutantes em dar espaço aos jovens jogadores formados localmente. Já a disponibilidade para jogadores estrangeiros com menos de 22 anos tem vindo a aumentar de forma consistente nos últimos seis anos. Esta é uma das principais conclusões do estudo efetuado pelo centro internacional de estudos, analisando os minutos de jogadores sub-22 nas 31 principais Ligas da Europa.

Este dado reforça uma evidência: a diluição de fronteiras vai-se fazendo sentir em idades cada vez mais precoces – e as idades médias das transferências internacionais entre países europeus são cada vez mais baixas. O estudo conclui também que estes números identificam um problema: a ausência de mecanismos de regulação tem vindo a contribuir para uma situação de fragilidade económica e desportiva dos clubes que apostam na formação de forma continuada, e para o acentuar do fosso entre os clubes de topo e os restantes.

Analisando os dados de utilização em 31 Ligas entre Julho de 2009 e dezembro de 2015, o estudo concluiu que a percentagem de sub-22 se mantém razoavelmente constante (15% em média), mas a sua proveniência não: a utilização de sub-22 nacionais baixou de 12 para 10,7%, enquanto a de sub-22 estrangeiros passou de 2,8 para 3,8% em idêntico período.

Em média, entre 2009 e 2015, a idade da primeira transferência internacional caiu de 22,2 para 21,7 anos. E, num dado ainda mais significativo, o estudo mostra que a percentagem de jogadores com menos de 18 anos a seguirem para um clube estrangeiro passou de 8% em 2009 para 10% em 2015.

Olhando para os dados das 31 Ligas numa perspetiva geográfica, é fácil constatar que as Ligas dos países da Europa Ocidental e do sul europeu – incluindo Portugal – são as que revelam maior preferência por talento jovem estrangeiro, em detrimento dos sub-22 locais. Nestes quadrantes, a percentagem de utilização dos sub-22 estrangeiros atinge 30% do total, mais do dobro dos valores registados nas Ligas da Europa central e de Leste – onde os clubes também têm uma inferior capacidade de movimentação no mercado internacional.

Portugal na segunda metade

Numa análise Liga por Liga, Portugal, com 11,5% de utilização média, está claramente entre os países que dão menos minutos a jogadores sub-22, como se pode perceber no quadro abaixo. Croácia, Eslovénia e Holanda, todos com mais de 24% estão no pelotão da frente, enquanto Rússia, Turquia e Chipre, com menos de 7,5%, são os que menos confiam na juventude.

Fonte: CIES, (http://www.football-observatory.com/)

Portugal está, entretanto, no pódio dos campeonatos que dão mais minutos a jovens estrangeiros (5,5%), sendo apenas superado pelas Ligas da Holanda (6,5%) e da Escócia (5,9%). Sem surpresa, face ao histórico de boa formação e também às contigências económicas dos seus principais clubes, os países da antiga Jugoslávia (Cróacia, Eslovénia e Sérvia) são os que mais oportunidades dão aos jovens talentos locais.

O estudo permite também concluir que há uma relação direta entre a competitividade e as oportunidades dadas aos jovens: as cinco principais Ligas europeias (Inglaterra, Itália, Espanha, França e Alemanha) estão todas na segunda metade da tabela, com ingleses e italianos (7,5%) perto das últimas posições.

Esta relação direta estende-se aos clubes, já que entre os 32 europeus com mais tempo de utilização dados aos jovens há apenas um das Ligas top-5 (o Schalke 04, da Alemanha). Nenhum clube português entra nesta lista.

Já no que se refere a clubes que dão oportunidade a jovens talentos estrangeiros, há duas presenças portuguesas no Top-20: o Rio Ave (segundo) e o FC Porto (13º). A lista é liderada pelos holandeses do Vitesse (15% de utilização para sub-22 estrangeiros), que nos últimos anos têm funcionado como incubadora de talentos para clubes de maior nomeada, como é o caso do Chelsea.

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