E. Amadora-Sporting, 1-2 (crónica)

11 nov 2000, 22:10

O leão de sangue novo durou 70 minutos Até 20 minutos do fim tudo era lógico previsível e justo: o Sporting dominava o jogo dos pés à cabeça, ficando a dever a si próprio uns quantos golos mais. Mas as entradas de Tiago Lemos e Djalma deram vida ao Estrela, quase provocando uma recaída num leão que até aí se mostrara saúdável e confiante.

A vitória do Sporting no terreno do Estrela da Amadora (2-1) foi, durante 70 minutos, a expressão lógica de uma superioridade indiscutível e anunciada. Uma superioridade que partiu, em primeiro lugar das evidentes diferenças de qualidade entre os jogadores das duas equipas. E, depois - não menos importante - dos estados de espírito quase opostos, reflectidos na simetria das posições que ocupam na tabela (segundo contra segundo a contar do fim) e dos resultados obtidos na jornada anterior (4-0 contra 0-4).  

Mas os últimos 20 minutos modificaram radicalmente o argumento de um filme que até aí estava a ser tranquilo e previsível. E quando o Estrela despertou para a vida, com um golaço de Djalma, o Sporting abanou de uma forma que não se julgaria possível. Em consequência, o jogo terminou em tons de incerteza, algo que até ao golo de Djalma estivera de todo ausente. 

Um sufoco implacável 

Durante 70 minutos confirmaram-se as palavras de Inácio, que durante a semana anunciara uma subida dos níveis físicos e de confiança da sua equipa, uma vez ultrapassada a crise europeia. Essa subida, indiciada pela goleada frente ao União de Leiria, confirmou-se assim que Martins dos Santos deu ordem para iniciar o encontro. 

Apresentando o mesmo onze da semana anterior, o Sporting partiu para cima do adversário, querendo tirar partido da natural insegurança de quem vive na porta dos fundos da tabela e acabou de pasar por uma mudança de treinador. Com os livres e cantos de André Cruz como mote, o leão criou uma pressão sufocante, traduzida em quatro remates perigosos antes do décimo minuto. 

Com Delfim e Paulo Bento a garantirem a necessária consistência ao meio-campo de Alvalade, o Estrela viu-se impossibilitado de respirar com a bola nos pés, estacionando nas imediações da sua área e não sendo capaz de construir uma só jogada ofensiva digna desse nome.  

Pedro Barbosa e João Pinto ameaçaram desde muito cedo desequilíbrios sem remédio, e a equipa de Carlos Brito passou toda a primeira parte a tentar limitar-lhes os ímpetos, com Gaúcho II a seguir João Pinto por todo o lado, Rui Neves em apuros para travar o talento do regressado capitão-croissant e apenas Kenedy e Raúl Oliveira a equilibrarem as operações com Sá Pinto e Acosta. 

Se a tal subida de rendimento físico ficou rapidamente demonstrada pela eficácia no pressing e pela eficácia nas bolas divididas, também não foi preciso esperar muito para perceber que a confiança estava muito para lá do que vinha sendo habitual. O melhor exemplo dessa realidade foi a sensacional arrancada do central Beto, que partindo da sua zona defensiva foi passando por todos os que lhe apareceram à frente, antes de ser ceifado por Pedro Simões (17m), para mais um livre perigoso que passou a rasar o poste direito de Luís Vasco. 

Finalmente, o golo 

Mas a nova saúde mental do leão tem ainda alguns calcanhares de Aquiles. A predisposição para perder serenidade em função das decisões dos árbitros é um deles. E bastou Martins dos Santos fazer (bem) vista grossa a uma queda de João Pinto na área e (mal) a outra queda de Acosta, esta provocada por um puxão de Pedro Simões, para que a sinfonia de ataque desse as primeiras notas em falso. 

Durante dez minutos o Estrela conseguiu esboçar uma reacção, que se não levou perigo à baliza de Nélson atenuou, pelo menos, o ritmo de trabalho defensivo a que estava submetido. 

Mas seria uma injustiça tremenda o Sporting não ir para os balneários em vantagem e o golo de João Pinto, a cinco minutos do descanso, foi o ponto final em qualquer vestígio de ansiedade que pudesse subsistir. A equipa de Inácio partia para a segunda parte com a certeza de que estava no caminho certo. Não era preciso ser bruxo para pressentir que se o jogo mantivesse as características outros golos estavam destinados à baliza de Luís Vasco. 

Carlos Brito, que assistira impotente ao domínio a que fora submetida a sua equipa, tentou reagir. Tirou o invisível Luís Carlos, sistematicamente batido por César Prates, a atacar e a defender e colocou Cadete na frente, ao lado do até solitário Gaúcho I. 

Mas a primeira opção não deu certo, principalmente porque o meio-campo do Sporting continuou a impedir que o Estrela organizasse o seu jogo e João Pinto continuava a ganhar duelo com Gaúcho II, obrigando-o a recorrer à falta com demasiada frequência. O segundo golo estava escrito nas estrelas, e surgiu aos 61 minutos, sendo um justo prémio para a equipa e particularmente para os dois centrais que o fabricaram: André Cruz na entrega, Beto na conclusão. 

As substituições que acordaram o Estrela 

A única dúvida que poderia colocar-se nessa altura, tamanho era o domínio do Sporting, era a de saber-se se o leão ia procurar ir mais além ou se limitava a gerir a vantagem até ao fim. 

Para surpresa geral, nenhuma das duas: as substituições que Carlos Brito efectuou na segunda parte deram alma nova à sua equipa, que ganhou imenso com a entrada de Tiago Lemos. Foi este a fazer o primeiro remate do Estrela, aos 64 minutos (!) e a fabricar a jogada que permitiu ao recém-entrado Djalma apontar o seu segundo golo aos grandes, depois do que conseguira na Luz. 

Pela primeira vez, o Sporting duvidou de si. E deixou que o Estrela encontrasse motivação num jogo que parecia entregue. Até final, emoção foi coisa que não faltou, com José Carlos a passar perto do empate (87m) e, do lado do Sporting, com o suplente Rodrigo a arrancar um estupendo remate só parado pelo poste. 

O Sporting chegava ao fim com uma vitória justíssima, mas não tão evidente como deveria ter sido. O Estrela, mesmo perdendo, deve ter encontrado naqueles vinte minutos finais um forte estímulo para os restantes dois terços do campeonato. La Palisse não diria melhor: quem luta assim é porque não está morto.

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