Morreu subitamente no local de trabalho. Colegas de "call center" foram obrigados a continuar a atender as chamadas junto ao cadáver

CNN Portugal , CNC
19 jun 2023, 20:14
Call center (Reuters)

Organizações sindicais espanholas denunciam empresa de telemarketing que, apesar da morte súbita de um dos seus colaboradores, decidiu que os restantes trabalhadores tinham de continuar a exercer as suas funções com o corpo ainda no local

Quando Imaculada faleceu, enquanto desempenhava as suas funções nas instalações da empresa de telemarketing Konecta BTO, em Madrid, no dia 13 de junho, os seus colegas, cujas funções foram consideradas "essenciais" pela empresa viram-se forçados a continuar com o seu trabalho junto ao corpo dela.

No comunicado do sindicato espanhol CGT, pode ler-se que Imaculada estava a trabalhar numa campanha da Iberdrola quando, antes das 14:00, faleceu subitamente.

"Uma colega teve de a segurar para que não caísse da cadeira, depois tentaram ativa e passivamente reanimá-la, para que ficasse conosco um pouco mais, para que o seu coração continuasse a cantar os acordes da vida, mas não. O relógio parou para sempre antes das 14 horas", pode ler-se no comunicado.

Quando os restantes colegas se inteiraram da situação, houve uma confusão generalizada. Os recursos humanos da empresa disseram-lhes para continuarem nas suas funções, apesar de o corpo inanimado de Imaculada ainda se encontrar nas instalações.

"Quando recebemos a notícia através Whatsapp, não podíamos acreditar: "Ela está deitada no chão e estamos a receber chamadas", "Estão a receber chamadas?", "Sim, dizem-nos para continuar a receber chamadas", relatam os trabalhadores da empresa de telemarketing.

No comunicado da CGT espanhola pode ler-se: "Parecia um filme de terror. Ao lado da nossa companheira, alguém fazia uma chamada. O serviço continuava normalmente. Era necessário PARAR, PARAR, PARAR, desocupar o centro. Apelar à sanidade mental enquanto alguém repetia insistentemente: "Somos um serviço essencial". E a vida? Haverá algo mais essencial do que a vida? A resposta parece clara, mas os factos não o indicam."

Num tweet feito do sindicato pode ler-se o relato de um dos trabalhadores: "Sim, dizem-nos para continuarmos a receber chamadas".

A central sindical veio manifestar repulsa pelo comportamento tomado pela empresa, afirmando que houve falta de humanidade, empatia e respeito, não só pela falecida, mas também pelos restantes trabalhadores.

A CGT já veio pedir uma reunião com o Comité de Saúde e Segurança da empresa para "clarificar responsabilidades", exigir o reconhecimento do sucedido, chegar a acordo sob a forma como o caso será investigado e estabelecer um protocolo de ação em situações semelhantes.

De acordo com o Madridiario, considerando ainda a natureza das funções desempenhadas por estes colaboradores, o sindicato UGT veio defender que a empresa deveria ter enviado os trabalhadores para casa, pois têm a possibilidade de efetuar teletrabalho.

Os trabalhadores do setor de telemarketing têm denúnciado más práticas laborais há anos, como cargas horárias excessivas, pressões excessivas de chefias, condições exageradamente exigentes sob o pretexto de serem tarefas que, por serem realizadas através de chamadas telefónicas, não implicam esforço. Tudo isto com contratos de trabalho temporários e salários insuficientes para os trabalhadores terem alguma dignidade, escreve o El Común.

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