Do Flamengo (com Ronaldinho) aos distritais do Porto: eis Julyelson

23 jan 2015, 11:05
Julyelson (Foto Facebook)

A história incomum de um menino de Curitiba; passou pelo Avaí e pelo gigante carioca antes do sonho europeu. Brilha no histórico ADR Pasteleira, com Afonso Martins

2012, Rio de Janeiro. O treino começa com Julyelson de um lado e Ronaldinho Gaúcho de outro. O elenco profissional do Flamengo prepara mais um jogo da Série A, o Brasileirão. «Conheci o meu maior ídolo e nunca vou esquecer isso. Ele é ainda melhor do que parece na televisão»
.

2015, Porto. Afonso Martins orienta a sessão de trabalho do histórico ADR Pasteleira (leia a reportagem «Amadores e Famosos»)
. O emblema lidera com enorme vantagem a Série 1 da II Divisão Distrital da AF Porto. No grupo portuense há um talento de 20 anos, em busca do sonho europeu. Chama-se Julyelson e é fã de Ronaldinho Gaúcho.

Não é difícil percebê-lo. O trajeto de July - como é tratado em Portugal - é absolutamente incomum. Como se passa de um gigante carioca a um orgulhoso, mas humilde, clube da Cidade Invicta, que se reergue após anos de dificuldades atrás de dificuldades? 
 

Julyelson com a camisola do Flamengo

A resposta não é linear. As especificidades do futebol moderno no Brasil, pejado de empresários e negociatas obscuras, são uma das explicações dadas por Julyelson ao
Maisfutebol. Nada, mas mesmo nada, que o desvie do principal objetivo: ser alguém grande no mundo do desporto-rei.

«Na transição para os profissionais do Flamengo, apenas cinco jogadores foram escolhidos. Nessa altura foi promovido o filho do Bebeto, o Adrian, titular e número dez da seleção, por exemplo. Quem não tinha um empresário influente não foi escolhido».

Imagens de Julyelson no futebol brasileiro:



No Mengão, Julyelson fez vários treinos com os profissionais e brilhou no Campeonato Carioca. Não foi suficiente. No início de 2013 ficou sem clube.

«Esse foi o ano do não. Separei-me do meu empresário, bati a várias portas, mas os clubes torcem o nariz a quem não tem agente. Treinei sozinho, pensei em desistir, mas a minha família não o permitiu. E ainda bem».

A salvação de Julyelson, se nos é permitido o excesso da expressão, surgiu através do NB Pantelas, um clube-empresa do Paraná, com assinalável crescimento nos últimos anos.

«Gostaram dos meus vídeos e passaram a agenciar-me. A companhia tem uma academia fantástica e vários protocolos, incluindo com o Pasteleira. Em junho de 2014 surgiu a oportunidade de vir para Portugal. Estou maravilhado com a experiência».

Rémulo Marques, diretor desportivo do Pasteleira, viajou para o Brasil e conheceu Julyelson.
«Falou comigo, explicou-me os pormenores do projeto e fiquei apaixonado pelas ideias dele. O Rémulo e o Afonso Martins, técnico do clube, têm sido verdadeiros pais»
.

Um golo de Julyelson no ADR Pasteleira:
 
 

O Pasteleira é o presente de Julyelson, mas a sua história no futebol começa muito antes. Com 12 anos já representava o Curitiba, clube da cidade onde nasceu. E de lá saltou para o Avaí.

«Treinei sob as ordens do Paulo Silas, antiga glória do Sporting, e fui colega do Sávio, ex-jogador do Real Madrid. Eu era muito menino, mas já treinava com os seniores. Depois o clube foi adquirido por uma empresa e houve uma verdadeira revolução. Saí e fui para o Flamengo».

Em Portugal, Julyelson estranha o frio, a pronúncia do português em estado puro, alguns hábitos alimentares, mas estranha, acima de tudo, os campos de futebol em terra batida. Os famosos pelados dos campeonatos distritais.

«Nunca tinha visto nenhum em toda a vida», atira, com uma gargalhada.
«A bola salta mais e quando vou ao chão é mais violento. Mesmo assim eu e os meus colegas adaptámo-nos bem».
 

Julyelson (terceiro a contar da esquerda, em baixo) no ADR Pasteleira

Os resultados, de facto, dão total razão a Julyelson. O Pasteleira comanda o campeonato com 14 vitórias e uma derrota, 70 golos marcados e só nove sofridos. É um plantel de luxo, com óbvia capacidade para jogar em divisões superiores.

July é só mais um exemplo desse excelente nível.

«Fiz os 15 jogos e já tenho seis golos. Sou um médio criativo por natureza, mas jogo mais vezes a extremo. O meu objetivo é subir de divisão este ano com o Pasteleira e jogar na próxima temporada num clube ainda maior. Em Portugal, claro»

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