Juntou o campeonato à Taça de Inglaterra. É a primeira portuguesa a vencer o título inglês e já recebeu uma mensagem de Mourinho: «Esquece o ginásio e pede bola no pé»
Em maio festejou Mourinho, em outubro há novo sotaque português na festa do Chelsea. Numa altura em que a equipa orientada pelo técnico luso atravessa um momento deveras negativo, emerge a equipa feminina a conquistar o título pela primeira vezLonge de ser uma desconhecida
«Nunca tinha ganho nenhum título e este ano consegui a Taça de Inglaterra e agora o campeonato. É muito bom. Posso dizer que esta é a melhor fase da minha carreira, foi um ano de sonho»,
Em conversa com o Maisfutebol
«No ano passado perdemos o título na diferença de golos. Foi frustrante. Tínhamos os mesmos pontos e um golo fez a diferença. Mas também por causa disso este título agora sabe ainda melhor»
No jogo do título, este domingo, o Chelsea goleou o Sunderland por 4-0. Ana Borges não saiu do banco, mas ficou na história: «Nunca uma outra portuguesa tinha sido campeã aqui. Ficarei com o nome da história do futebol feminino em Portugal o que, sendo por algo conseguido fora do país, é ainda mais agradável. Mais do que conquistar algo no estrangeiro, só conseguir levar a seleção a uma fase final.»
Outra conversa, claro. Antes, Londres. A terceira experiência no estrangeiro, depois dos Estados Unidos e de Espanha. Estava no Atlético Madrid quando rumou aos «Blues»
«A primeira equipa que me ligou até foi o Liverpool, mas não tenho dúvidas que o Chelsea foi a melhor escolha. Sabia que o Liverpool tinha sido campeão, era uma equipa grande pensei se não poderia estar a dar um passo maior que a perna. Preferi o Chelsea porque era uma equipa em crescimento»
Depois da frustração no primeiro ano, a festa no segundo. «Fiz a escolha certa»
As mensagens de Terry e…José Mourinho
Nas bancadas, para o jogo do título, esteve John Terry. O capitão da equipa masculina do Chelsea fez, de resto, mais do que isso, conta Ana Borges: «Mandou-nos uma mensagem, antes do jogo, a desejar boa sorte.»
«No final foi impossível falar com ele, foi-se logo embora. O contacto que temos com a equipa masculina é essencialmente através dele, porque é o capitão e o porta-voz»
A nível pessoal, contudo, a portuguesa assume apoio…com o mesmo sotaque. «O Paulo Ferreira também desejou boa sorte. É uma pessoa que foi muito importante na minha adaptação cá»
Com José Mourinho o contacto é menor, embora o técnico português a conheça bem
Por ser portuguesa, Ana Borges admite: «Associam-me logo a Mourinho, Cristiano [Ronaldo]...»
Ainda que, atualmente, ser ligado a Mourinho não é exatamente o mesmo por aqueles lados do que em maio, por exemplo, quando o Chelsea se sagrou campeão. «Na altura em que cheguei, o Mourinho era praticamente o rei daqui. Agora está um bocado diferente, não está a correr tão bem, mas acredito que vai dar a volta»
«Sair de Portugal é obrigatório para evoluir»
Ana Borges vê com bons olhos o panorama em Portugal para o futebol feminino
«Em Portugal falta mais apoio às equipas. Mas, ainda assim, acredito que está a evoluir. Só que é um processo longo. Leva o seu tempo, aos poucos vai ficando mais competitivo. Atualmente já é muito melhor do que há uns anos. Se conseguir mais apoios poderá crescer ainda mais»
Num reflexo da sociedade atual e apesar da evidente diferença para outros casos, não deixa de ser importante notar que Ana é mais uma portuguesa que se viu forçada a deixar o país para poder chegar mais longe e ter melhores condições na área que ama.
«Sair de Portugal é obrigatório para nós que queremos evoluir ainda mais»
«Nesta altura, em Portugal, ainda não há condições suficientes para alcançar o nível que algumas jogadoras portuguesas pretendem e podem conseguir. Mas, pelo caminho que o futebol feminino português está a tomar, acredito que, a médio prazo, algumas de nós possam regressar a casa»,
«Falta, agora, chegar ao Europeu com a seleção»
Olhando para o futuro, Ana Borges só se consegue ver vestida de azul. Renovou recentemente pelo Chelsea por mais dois anos, com outro de opção. E é ao clube que dá prioridade. «Depois destes dois ou três anos não sei o que vai acontecer. Até lá não penso em mais nada que não seja o Chelsea»
Mas depois corrige. Há espaço para Portugal. «Depois destes títulos creio que o que me falta é alcançar a fase final do Europeu com a seleção»
«Qualquer jogadora quer sempre mais e mais. Nunca estamos 100 por cento realizados, queremos sempre mais títulos, mas esta é uma fase muito boa. Falta, então, conseguir sucesso com a seleção. Temos algumas hipóteses mas não será fácil chegar ao Europeu. Das cinco equipas do nosso grupo de apuramento, três, Espanha, Finlândia e Irlanda, estão à nossa frente no ranking. Mas temos de ter ambição e no final fazemos as contas»