Ana Borges campeã no Chelsea: «John Terry desejou boa sorte»

6 out 2015, 10:14
Ana Borges

Juntou o campeonato à Taça de Inglaterra. É a primeira portuguesa a vencer o título inglês e já recebeu uma mensagem de Mourinho: «Esquece o ginásio e pede bola no pé»

Em maio festejou Mourinho, em outubro há novo sotaque português na festa do Chelsea. Numa altura em que a equipa orientada pelo técnico luso atravessa um momento deveras negativo, emerge a equipa feminina a conquistar o título pela primeira vez
na sua história. Entre as heroínas, um nome português: Ana Borges.

Longe de ser uma desconhecida
(caminha a passos largos para as 100 internacionalizações), Ana Borges admite, contudo, que 2015 está a ser um ano à margem de todos os outros. Para melhor.

«Nunca tinha ganho nenhum título e este ano consegui a Taça de Inglaterra e agora o campeonato. É muito bom. Posso dizer que esta é a melhor fase da minha carreira, foi um ano de sonho»,
assume.

Em conversa com o Maisfutebol
a partir de Londres, Ana Borges admite o «sabor bastante agradável»
da conquista. Para quem nunca tinha ganha um título, a sensação de vencer dois quase de seguida «é algo a que é fácil habituar-se»
. Ainda por cima depois de uma primeira época traumática.

«No ano passado perdemos o título na diferença de golos. Foi frustrante. Tínhamos os mesmos pontos e um golo fez a diferença. Mas também por causa disso este título agora sabe ainda melhor»
, conta.

No jogo do título, este domingo, o Chelsea goleou o Sunderland por 4-0. Ana Borges não saiu do banco, mas ficou na história: «Nunca uma outra portuguesa tinha sido campeã aqui. Ficarei com o nome da história do futebol feminino em Portugal o que, sendo por algo conseguido fora do país, é ainda mais agradável. Mais do que conquistar algo no estrangeiro, só conseguir levar a seleção a uma fase final.»



Outra conversa, claro. Antes, Londres. A terceira experiência no estrangeiro, depois dos Estados Unidos e de Espanha. Estava no Atlético Madrid quando rumou aos «Blues»
. Mesmo que o primeiro telefonema tenha vindo de outras paragens.

«A primeira equipa que me ligou até foi o Liverpool, mas não tenho dúvidas que o Chelsea foi a melhor escolha. Sabia que o Liverpool tinha sido campeão, era uma equipa grande pensei se não poderia estar a dar um passo maior que a perna. Preferi o Chelsea porque era uma equipa em crescimento»
, explica.

Depois da frustração no primeiro ano, a festa no segundo. «Fiz a escolha certa»
, resume a extremo.

As mensagens de Terry e…José Mourinho


Nas bancadas, para o jogo do título, esteve John Terry. O capitão da equipa masculina do Chelsea fez, de resto, mais do que isso, conta Ana Borges: «Mandou-nos uma mensagem, antes do jogo, a desejar boa sorte.»


«No final foi impossível falar com ele, foi-se logo embora. O contacto que temos com a equipa masculina é essencialmente através dele, porque é o capitão e o porta-voz»
, explica.

A nível pessoal, contudo, a portuguesa assume apoio…com o mesmo sotaque. «O Paulo Ferreira também desejou boa sorte. É uma pessoa que foi muito importante na minha adaptação cá»
, assume.

Com José Mourinho o contacto é menor, embora o técnico português a conheça bem
. «Estive com ele na Gala do clube, em junho»
, revela. Uma conversa rápida, mas curiosa. «Ele esteve a falar com a minha treinadora que lhe disse que tinha uma portuguesa na equipa. Disse-lhe que eu era muito boa mas não gostava de ginásio. Ele veio ter comigo, contou-me isso e disse-me para lhe dizer que eu não precisava de ginásio. Precisava era de bola no pé»
, conta.

Por ser portuguesa, Ana Borges admite: «Associam-me logo a Mourinho, Cristiano [Ronaldo]...»
.

Ainda que, atualmente, ser ligado a Mourinho não é exatamente o mesmo por aqueles lados do que em maio, por exemplo, quando o Chelsea se sagrou campeão. «Na altura em que cheguei, o Mourinho era praticamente o rei daqui. Agora está um bocado diferente, não está a correr tão bem, mas acredito que vai dar a volta»
, projeta.

«Sair de Portugal é obrigatório para evoluir»


Ana Borges vê com bons olhos o panorama em Portugal para o futebol feminino
. Não que seja perfeito ou perto disso, mas, essencialmente, porque vê ventos de mudança. Para melhor.

«Em Portugal falta mais apoio às equipas. Mas, ainda assim, acredito que está a evoluir. Só que é um processo longo. Leva o seu tempo, aos poucos vai ficando mais competitivo. Atualmente já é muito melhor do que há uns anos. Se conseguir mais apoios poderá crescer ainda mais»
, considera.

Num reflexo da sociedade atual e apesar da evidente diferença para outros casos, não deixa de ser importante notar que Ana é mais uma portuguesa que se viu forçada a deixar o país para poder chegar mais longe e ter melhores condições na área que ama.

«Sair de Portugal é obrigatório para nós que queremos evoluir ainda mais»
, considera. Pelo menos em 2015. Talvez na próxima década ou perto disso seja diferente, confia.

«Nesta altura, em Portugal, ainda não há condições suficientes para alcançar o nível que algumas jogadoras portuguesas pretendem e podem conseguir. Mas, pelo caminho que o futebol feminino português está a tomar, acredito que, a médio prazo, algumas de nós possam regressar a casa»,
encerra.

«Falta, agora, chegar ao Europeu com a seleção»




Olhando para o futuro, Ana Borges só se consegue ver vestida de azul. Renovou recentemente pelo Chelsea por mais dois anos, com outro de opção. E é ao clube que dá prioridade. «Depois destes dois ou três anos não sei o que vai acontecer. Até lá não penso em mais nada que não seja o Chelsea»
, garante.

Mas depois corrige. Há espaço para Portugal. «Depois destes títulos creio que o que me falta é alcançar a fase final do Europeu com a seleção»
, assume. «Vamos ter também a Champions pelo Chelsea, mas é uma competição nova e parece-me arriscado falar em ganhar. Aí o objetivo tem de ser ir o mais longe possível»
, acrescenta.

«Qualquer jogadora quer sempre mais e mais. Nunca estamos 100 por cento realizados, queremos sempre mais títulos, mas esta é uma fase muito boa. Falta, então, conseguir sucesso com a seleção. Temos algumas hipóteses mas não será fácil chegar ao Europeu. Das cinco equipas do nosso grupo de apuramento, três, Espanha, Finlândia e Irlanda, estão à nossa frente no ranking. Mas temos de ter ambição e no final fazemos as contas»
, conclui.

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