Rui Rio em modo Garrett McNamara e onda gigante de Alvalade

17 jan 2022, 23:36

A mobilização foi grande e confusa. Uma caminhada sem atropelos, tornou-se numa missão impossível. Havia gente nos passeios e na estrada neste segundo dia de campanha do PSD

No primeiro dia de campanha, em Barcelos e Braga, falou-se de uma onda laranja, tal foi inesperada a enchente bragantina de apoiantes no arranque da campanha do PSD. Em Lisboa essa onda também aconteceu, mas foi ainda maior, talvez quase ao nível das ondas gigantes da Nazaré, mas que os ponteiros das sondagens ainda não apanharam. Será Rui Rio o Garrett McNamara deste desafio? Um mar de gente com algumas figuras de peso pelo meio, como a maior estrela política do PSD, Carlos Moedas, que deu a Rui Rio a inesperada conquista da Câmara Municipal de Lisboa, roubando-a ao PS, nas eleições autárquicas do ano passado.

Apesar de uma tarde de blue-monday, no bairro de Alvalade viveu-se uma mobilização grande e colorida, mas também confusa. Apoiantes a pé, outros buzinando de carro, palavras de apoio gritadas e esbracejadas pela janela – isto tudo a fazer lembrar as campanhas do século passado, lá para os anos 90 do cavaquismo.  Alvalade é uma das conquistas de Rio. O PSD ganhou ao PS esta Junta de Freguesia nas últimas eleições autárquicas, em coligação com o CDS, tendo eleito como presidente José Amaral Lopes. A presidência da assembleia de freguesia também passou do PS para o PSD vai fazer um mês. O bairro mostrou-lhe que as ondas-laranja são feitas de gente.

No guião deste segundo dia de campanha, Rui Rio tinha previsto arruada para contacto com apoiantes. Entrou em quatro estabelecimentos comerciais - uma cervejaria, duas pastelarias e uma loja de roupa – e ainda duas farmácias, acompanhado por João Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos. Em todos os sítios onde entrou, e apesar de não demorar muito mais do que quatro ou cinco minutos, foi seguido por dezenas de pessoas, entre jornalistas, fotógrafos, seguranças e militantes da JSD. 

Em dia com mais de vinte mil novos casos de covid-19, a lotação dos espaços tornava-se tão apertada que algumas pessoas foram convidadas a sair da Pastelaria Helsínquia, por um grupo de senhoras com idade avançada que aparentavam estar em pânico com tanta confusão a desassossegar-lhes a bica. Apesar da receção não ter sido calorosa, a comitiva de Rio entregou a estas senhoras um panfleto e um lápis de carvão da campanha. A JSD aproveitou para deixar um alerta quase irónico, quase ingénuo: "Não se esqueça que não pode assinalar o boletim de voto com esse lápis, se não... não conta". 

Cá fora, o alvoroço. A chamada “bolha” criada para proteger o candidato estava mais robusta e fortalecida. Os braços dos seguranças já não estavam só esticados, como se viu em Barcelos, estavam hoje entrelaçados como uma corda forte que prende um navio ao porto. Não passava ninguém pela muralha criada pelos seguranças de Rui Rio. Se em Barcelos houve tempo para apertos de mão e selfies, aqui isso não aconteceu. “É impossível. Não nos deixam chegar ao homem!”, ouvia-se, amiúde, em tom de queixume. 

A mensagem política seria lançada apenas aos jornalistas contra o "papão da direita” de que falará o principal adversário, apelando “ao PS para que faça campanha com base nas suas propostas", sem “deturpar as ideias do PSD”.

“Não vai ser um pingue-pongue, porque se o Dr. António Costa continuar desta forma vai ficar a falar sozinho. O que o PS tem feito não é apresentar as suas propostas, é procurar dizer que nós propomos o que não propomos”, queixou-se, dando como exemplos áreas como a Segurança Social ou o Serviço Nacional de Saúde. “Hoje recuperou a ladainha da prisão perpétua, se for assim vai ficar naturalmente a falar sozinho”, ameaçou.

Estava passada a mensagem do dia. O presidente do PSD nem se despediu dos militantes e apoiantes. Depois das declarações aos jornalistas, já no fim de festa da arruada, escapou-se para dentro do carro e seguiu caminho.

Relacionados

Partidos

Mais Partidos

Patrocinados