A economia pode dizer-nos quem ganha as eleições? O que aconteceu nas últimas 12 legislativas

8 mar, 08:00
Eleições

A confiança dos consumidores em Portugal subiu nos últimos dois meses, mas o valor continua a ser bastante baixo, se se excluírem períodos com efeitos extremos como a pandemia, a guerra na Ucrânia ou a vinda da troika. O que nos dizem os indicadores económicos sobre os resultados eleitorais?

Na hora de votar, os eleitores olham para o que se passa na economia? A “literatura sobre os ciclos eleitorais afirma que, em determinadas circunstâncias, os resultados eleitorais, de facto, refletem a evolução de alguns agregados macroeconómicos”, explica à CNN Portugal o economista António Caleiro, professor de Economia da Universidade de Évora, cujas áreas de especialização incluem o estudo dos ciclos eleitorais.

Para o economista, há, no entanto, nuances a considerar. Desde logo porque “a influência da evolução do nível de atividade económica sobre os resultados eleitorais é, muitas vezes, assimétrica”, explica, ou seja, esta influência faz-se notar mais durante as “fases do ciclo económico contracionista, suficientemente próximas da data das eleições, do que quando as eleições ocorrem em fases de expansão económica”. Ou seja, prossegue António Caleiro, “o eleitorado parece 'penalizar' mais os partidos que estiveram no poder (…) quando a situação económica é (mais) desfavorável, do que os 'premeia', quando a situação económica é (mais) favorável”.

Esta aparente injustiça tem explicações, segundo o economista. “A mais simples é aquela que se limita a afirmar que, quando o partido incumbente desempenha, conforme se espera, isto é, bem, o seu papel, tal é, obviamente, valorizado pelo eleitorado, mas, acaso o eleitorado o considere responsável por um mau desempenho, a penalização é mais evidente.”

 

O que aconteceu nas últimas 12 eleições legislativas?

Olhando para as eleições legislativas desde 1986, as explicações apresentadas por António Caleiro parecem ir ao encontro daquilo que foram os resultados eleitorais, com as mudanças de partido da governação a estarem quase sempre associadas a fatores económicos negativos nos anos anteriores aos atos eleitorais, quer sejam recursos a pedidos de ajuda externa, quer seja, a períodos de recessão com desemprego elevado.

Um bom exemplo desta realidade são as eleições de 1995: depois de dez anos de governação PSD, com Cavaco Silva como primeiro-ministro, há uma reviravolta. António Guterres vence as legislativas, já com Fernando Nogueira a liderar os sociais-democratas, mas também com uma economia muito longe da forte expansão que se fez sentir na primeira metade da governação de Cavaco Silva. Depois de na segunda metade da década de 80 a economia ter dado sinais de grande dinamismo, o início da década de 90 mostra ser bem diferente. O PIB desacelera e Portugal entra mesmo em recessão em 1993. A taxa de desemprego volta a subir e ultrapassa os 6% em 1994. A confiança dos consumidores também se ressentiu e, depois de em setembro de 1991 atingir o seu ponto mais elevado, com um valor de 6,5, começa a cair e no mês anterior às eleições já registava um valor negativo de -11,8.

 

6 de outubro de 1985

PSD recupera a liderança do Governo com vitória eleitoral de 29,9% dos votos e 88 deputados eleitos

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
1983 1,7 7,8 24
1984 -1,27 8,4 28,5
1985 0,91 8,7 19,5

Portugal vinha de um pedido de ajuda externa ao Fundo Monetário Internacional em 1983, um pedido feito pelo então primeiro-ministro Mário Soares, que liderava um Governo de Bloco Central com o PSD, liderado por Mota Pinto. O líder do PSD acabaria por se demitir e ser substituído por Cavaco Silva que pôs fim ao Governo de Bloco Central.

Em 1984 a economia registou uma recessão de 1,3%, a taxa de desemprego superou os 8% e a taxa de inflação atingiu uns, hoje, inimagináveis 28,5%.

As eleições de 6 de outubro de 1985 dão uma magra vitória ao PSD, já liderado por Cavaco Silva, que consegue 29,9% dos votos e 88 deputados.

Aníbal Cavaco Silva foi primeiro-ministro entre novembro de 1985 e outubro de 1995 (Lusa/José Sena Goulão)

19 de julho de 1987

PSD mantém o poder com vitória eleitoral que lhe dá 50,2% dos votos e 148 deputados eleitos

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
1984 -1,27 8,4 28,5
1985 0,91 8,7 19,5
1986 3,09 8,4 12,6

Após uma moção de censura apresentada pelo Partido Renovador Democrático (PRD), criado em 1985, o Governo de Cavaco Silva cai e o então Presidente da República, Mário Soares, convoca eleições antecipadas. O PSD volta a vencer as eleições, desta vez com maioria absoluta, conseguindo 148 deputados. 

Depois da recessão registada em 1984, a economia já se encontrava a recuperar e em 1986 regista um crescimento superior a 3%. O desemprego mantém-se ligeiramente acima dos 8% e a taxa de inflação recua para os 12,6%. A confiança dos consumidores reflete o melhor desempenho da economia e cresce, embora de forma ligeira.

 

6 de outubro de 1991

PSD volta a vencer, desta vez com 50,6% dos votos e 135 deputados eleitos

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
1987 6,81 7 9,7
1988 6,38 5,7 9,9
1989 5,72 5 12,5
1990 6,16 4,7 13,6

O PSD, ainda liderado por Cavaco Silva, volta a vencer as eleições legislativas com uma nova maioria absoluta. Desta vez obtém 50,6% dos votos e elege 135 deputados. Um resultado que acompanha os resultados económicos alcançados. A economia cresce sempre acima dos 5% ao ano, o desemprego reduz-se para valores abaixo dos 5% e a inflação, depois de baixar a fasquia dos 10%, volta a fixar-se em valores acima dos 13%. Os resultados económicos impulsionam a confiança dos consumidores que atinge o seu valor máximo no mês que antecede as eleições.

 

1 de outubro de 1995 

PS recupera a liderança do Governo. Vence com 43,8% dos votos e elege 112 deputados

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
1991 2,91 4,1 11,8
1992 1,72 4,1 9,6
1993 -1,67 5,4 6,8
1994 1,79 6,7 5,4

O PS, liderado por António Guterres, consegue por fim a dez anos de governação do PSD, já liderado por Fernando Nogueira. Depois de na segunda metade da década de 80 a economia ter dado sinais de grande dinamismo, o início da década de 90 mostra ser bem diferente. O PIB desacelera e Portugal entra em recessão em 1993. A taxa de desemprego volta a subir e ultrapassa os 6% em 1994. A única evolução positiva vem da inflação ao desacelerar para 5,4% em 1994. A confiança dos consumidores acompanha a desaceleração da economia e, depois do ponto máximo atingido em 1991, cai para valores negativos nos meses que antecedem o ato eleitoral.

António Guterres foi primeiro-ministro entre outubro de 1995 e abril de 2002 (EPA/Jeon Heon-Kyun/ Pool via Lusa)

10 de outubro de 1999 

PS mantém liderança do Governo depois de vencer com 44,1% dos votos e eleger 115 deputados

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
1995 2,38 7,1 4,2
1996 3,5 7,2 3,1
1997 4,4 6,7 2,3
1998 4,81 4,9 2,6

O PS volta a vencer as eleições legislativas e fica a um deputado da maioria absoluta. Depois da recessão de 1993, a economia volta a acelerar e atinge um crescimento de 4,8% em 1998. O desemprego volta a cair abaixo dos 5% e a taxa de inflação recua para 2,6%. Portugal está no pelotão da frente para aderir à moeda única e cumpre os critérios de convergência. A confiança dos consumidores interrompe o período de queda que se registou até ao final de 1996 e recupera de forma expressiva.

 

17 de março de 2002 

Nova reviravolta. PSD vence com 40,2% dos votos e elege 105 deputados

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
1999 3,91 4,4 2,3
2000 3,82 3,9 2,9
2001 1,94 4 4,4

Após uma derrota nas eleições autárquicas de 2001, António Guterres demite-se de líder do Governo. Das eleições legislativas de 2002 sai uma vitória do PSD, agora liderado por Durão Barroso.

Depois de ter registado um crescimento de quase 5% em 1998, a economia desacelera e em 2001 regista um crescimento abaixo dos 2%. Ainda assim, a taxa de desemprego mantém-se em níveis historicamente baixos, nos 4%, e a taxa de inflação atinge 4,4%. Depois da euforia da moeda única, a confiança dos consumidores volta a cair e no mês anterior às eleições já atinge valores negativos na casa dos dois dígitos.

Durão Barroso foi primeiro-ministro entre abril de 2002 e julho de 2004 

20 de fevereiro de 2005 

PS recupera a liderança do Governo depois de vencer com 45% dos votos e eleger 121 deputados

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
2002 0,77 5 3,6
2003 -0,93 6,3 3,2
2004 1,79 6,6 2,4

Em 2004 o primeiro-ministro Durão Barroso abandona o Governo para assumir o cargo de presidente da Comissão Europeia. A liderança do Governo é assumida por Pedro Santana Lopes, mas o Governo apenas dura quatro meses, com o Presidente da República, Jorge Sampaio, a convocar eleições antecipadas. Das eleições sai um Governo do PS, liderado por José Sócrates, que consegue uma maioria absoluta.

A desaceleração económica que se fazia sentir desde 1998 agrava-se e, em 2003, Portugal regista uma recessão. O desemprego aumenta e atinge os 6,6% em 2004. A taxa de inflação recua para 2,4%. A recessão de 2003 empurra a confiança dos consumidores para o valor mais negativo desde o início da série e apesar da recuperação que se faz sentir a partir desse momento chega aos meses anteriores às eleições ainda com valores negativos na casa dos dois dígitos. 

Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro entre julho de 2004 e março de 2005

27 de setembro de 2009 

PS volta a vencer, desta vez com 36,6% dos votos e elege 97 deputados

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
2005 0,78 7,6 2,3
2006 1,63 7,6 3,1
2007 2,51 8 2,5
2008 0,32 7,6 2,6

O PS, liderado por José Sócrates, volta a vencer as eleições, mas perde a maioria absoluta. A conjuntura internacional é marcada pela crise financeira internacional de 2007/2008, com o banco norte-americano Lehman Brothers a apresentar falência, o que precipitou um efeito dominó nos mercados financeiros. Em Portugal, o país escapa a uma recessão, mas o crescimento económico é anémico e o desemprego sobe para valores perto dos 8%. A taxa de inflação mantém-se abaixo dos 3%. A confiança dos consumidores degrada-se de forma expressiva e em fevereiro de 2009 atinge um novo valor mínimo desde o início da série. A partir desse ponto recupera, mas mantém-se com valores mais negativos que os registados nas eleições anteriores.

José Sócrates foi primeiro-ministro entre março de 2005 e junho de 2011 (José Sena Goulão/Lusa)

5 de junho de 2011 

PSD vence com 38,7% dos votos e elege 108 deputados, recuperando a liderança do Governo

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
2009 -3,12 9,4 -0,8
2010 1,74 10,8 1,4

A crise financeira internacional agudiza-se e atinge a Europa. Começa a crise das dívidas soberanas na área do euro com alguns países sob ameaça de terem de pedir ajuda externa a uma troika formada pelo Fundo Monetário Internacional, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu. Portugal tenta escapar à pressão e o Governo liderado por José Sócrates vai apresentando pacotes de austeridade na tentativa de convencer os mercados de que está comprometido com a estabilidade das contas públicas. O chumbo no Parlamento de um desses pacotes, conhecido como PEC IV, leva à demissão do Governo que, ainda antes de novas eleições, dirige um pedido de ajuda externa à troika. Das novas eleições sai vencedor o PSD, liderado por Pedro Passos Coelho.

Depois do crescimento anémico registado entre 2005 e 2009, a economia regista uma profunda recessão em 2009. O desemprego sobe para um patamar acima dos 10% em 2010 e a taxa de inflação mantém-se a níveis historicamente baixos perante uma atividade económica anémica. A confiança dos consumidores degrada-se ainda mais e atinge um novo mínimo histórico em abril de 2011, depois de no dia 6 desse mês José Sócrates ter anunciado ao País que Portugal ia pedir ajuda externa.

Passos Coelho foi primeiro-ministro entre junho de 2011 e novembro de 2015 (Tiago Petinga/Lusa)

4 de outubro de 2015 

PàF vence com 38,5% dos votos e elege 107 deputados, mas é o PS que forma Governo

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
2011 -1,7 13,4 3,7
2012 -4,06 16,5 2,8
2013 -0,92 17,1 0,3
2014 0,79 14,5 -0,3

O Governo de Pedro Passos Coelho aplica o duro pacote de austeridade imposto pela troika que havia sido negociado pelo PS. O PSD apresenta-se a votos coligado com o CDS e sai vencedor das eleições, mas sem uma maioria no Parlamento. O PS, já com António Costa na liderança, acabaria por formar Governo com o apoio parlamentar de Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, numa solução que ficou conhecida como geringonça. Foi a primeira vez que o partido ou coligação vencedora das eleições acabaria por não governar.

Depois da recessão de 2009, a economia voltaria a entrar em terreno negativo em 2011, 2012 e em 2013 como resultado da aplicação das medidas de austeridade impostas pela troika. A taxa de desemprego atingiu o ponto máximo em 2013 ao chegar aos 17,1%. A taxa de inflação manteve-se em valores próximos de zero face à debilidade da atividade económica. A confiança dos consumidores afunda vertiginosamente e em outubro de 2012 atinge aquele que ainda hoje é o valor mais baixo da série. A partir desse ponto recupera de forma rápida, mas chega às eleições de 2015 ainda com valores negativos na casa dos dois dígitos.                                   

 

6 de outubro de 2019 

PS vence com 36,3% dos votos, elege 108 deputados e mantém liderança do Governo

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
2015 1,79 12,9 0,5
2016 2,02 11,5 0,6
2017 3,51 9,2 1,4
2018 2,85 7,2 1

Após quatro anos de governação da geringonça o país volta a eleições e o PS sai vencedor, com uma maioria relativa. A economia acelera e atinge um crescimento de 3,5% em 2017, com a taxa de desemprego a recuar até aos 7,2% em 2018 e a taxa de inflação a manter-se a níveis baixos. Apesar de algumas oscilações a tendência de evolução da confiança dos consumidores é de recuperação desde o período da troika e, apesar de manter valores negativos, fica abaixo dos dois dígitos.

António Costa é primeiro-ministro desde novembro de 2015 e está demissionário desde novembro de 2023 (Filipe Amorim/Lusa)

30 de janeiro de 2022 

PS volta a vencer, desta vez com maioria absoluta: obtém 41,14% dos votos e elege 120 deputados

O que aconteceu antes?

  PIB % Desemprego % Inflação %
2019 2,68 6,6 0,3
2020 -8,3 7 0
2021 5,74 6,7 1,3

Sem o apoio da geringonça e com o chumbo no Parlamento da proposta de Orçamento do Estado para 2022, o Governo cai e são convocadas novas eleições legislativas. O PS volta a vencer, mas desta vez com maioria absoluta.

Em 2020 Portugal e o mundo enfrentam os efeitos da pandemia e a economia cai mais de 8% recuperando parte dessa queda em 2021. Apesar da enorme recessão, o desemprego mantém-se sem ultrapassar os 7% e a taxa de inflação mantém-se estável. A confiança dos consumidores sofre com o choque da pandemia, que faz o indicador recuar para valores só próximos dos registados com a vinda da troika a Portugal. Apesar da recuperação verificada depois da pandemia, a confiança dos consumidores chega às eleições com valores negativos de dois dígitos.

 

10 de março de 2024

Quem irá ganhar as eleições?

O que aconteceu antes?

   PIB % Desemprego % Inflação %
2022 6,83 6,1 7,8
2023 2,28 6,5 4,3

Pouco depois de vencer as eleições com maioria absoluta em 2022, o Governo teve de lidar com os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia e com uma explosão da taxa de inflação que atingiu quase 8%. A economia voltou a recuperar em 2022, mas desacelerou em 2023, mantendo, no entanto, um crescimento acima da zona euro. O Governo acabaria por cair já em 2023 depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter pedido demissão na sequência da Operação Influencer.

A confiança dos consumidores, que tinha recuperado terreno depois da pandemia volta a cair expressivamente e ultrapassa os valores negativos registados em 2020. Depois disso recupera até julho de 2023 e volta a cair após essa data, mas volta a recuperar desde o final do ano passado. Os valores são, no entanto, muito negativos, mantendo-se com um registo acima dos -20 pontos.

Para o economista António Caleiro os dados económicos têm, no entanto, de ser avaliados com cautela, até porque, apesar de se poder afirmar “que a situação económica é relevante para as decisões de voto”, não é o único fator relevante. “As decisões de voto refletem, felizmente, também, aspetos de natureza política ou ideológica e mesmo aspetos que se prendem, também, com o caráter das eleições -- antecipadas ou, digamos, 'normais' - e/ou a que tipo de eleições - legislativas, autárquicas, etc. - dizem respeito. Em suma, julgo que os eleitores votam 'com a carteira', mas também 'com o coração', e mesmo, aqueles que podem, também 'com os pés'”, conclui o economista.

E olhando para os dados económicos mais recentes, irá registar-se uma viragem de governação? “A acontecer, não me surpreenderá. Note-se, no entanto, que, a percentagem excecionalmente elevada de indecisos (…) poderá ser decisiva - a não ser que se transforme numa (ainda) maior abstenção - para que se compreenda por que aconteceu, ou não, essa viragem.”

 

Três perguntas a António Caleiro

É possível olhar para estes dados económicos e retirar alguma ligação entre estes e os resultados eleitorais?

A extensa literatura sobre os ciclos eleitorais afirma que, em determinadas circunstâncias, os resultados eleitorais, de facto, refletem a evolução de alguns agregados macroeconómicos. A influência da evolução do nível de atividade económica sobre os resultados eleitorais é, muitas vezes, assimétrica, isto é, é mais percetível quando se está perante fases do ciclo económico contracionista, suficientemente próximas da data das eleições, do que quando as eleições ocorrem em fases de expansão económica. Por outras palavras, o eleitorado parece 'penalizar' mais os partidos que estiveram no poder, durante o mandato em causa - e, logo, 'beneficiar' os outros partidos, em particular o principal partido da oposição -, quando a situação económica é (mais) desfavorável, do que os 'premeia' quando a situação económica é (mais) favorável. Poder-se-iam considerar algumas explicações para esta, aparente, injustiça do eleitorado. A mais simples é aquela que se limita a afirmar que, quando o partido incumbente desempenha, conforme se espera, isto é, bem, o seu papel, tal é, obviamente, valorizado pelo eleitorado, mas, acaso o eleitorado o considere responsável por um mau desempenho, a penalização é mais evidente. Na minha modesta opinião, os dados económicos que apresenta, regra geral, suportam esta hipótese de explicação para aquilo que aconteceu em Portugal nas eleições em causa.

A ideia de que as pessoas votam com a carteira é um mito?

De facto, há alguns mitos na área dos ciclos eleitorais. Um deles é aquele que se baseia na presunção que o que acarreta mais popularidade do partido incumbente - logo menos, no conjunto dos outros partidos, em particular, no que diz respeito ao principal partido da oposição - são as expansões económicas, eventualmente criadas pela política económica do incumbente, suficientemente próximas das eleições. Na verdade, se o nível de atividade económica exibir um grau de persistência suficientemente forte, e o eleitorado possuir uma memória suficientemente boa, as expansões económicas na parte inicial do mandato são o que poderá contribuir para uma maior popularidade (acumulada) do partido no poder, no dia das eleições. Em todo o caso, julgo poder afirmar-se que a situação económica é relevante para as decisões de voto, mas não é, obviamente, o único fator relevante. As decisões de voto refletem, felizmente, também, aspetos de natureza política ou ideológica e, mesmo, aspetos que se prendem, também, com o caráter das eleições - antecipadas ou, digamos, 'normais' - e/ou a que tipo de eleições - legislativas, autárquicas, etc. - dizem respeito. Em suma, julgo que os eleitores votam 'com a carteira', mas também 'com o coração', e mesmo, aqueles que podem, também 'com os pés'.

Olhando para a conjuntura económica dos últimos anos podemos dizer que há uma tendência que ditará uma viragem de governação?

Pelo que atrás referi, devo dizer que a 'viragem de governação' a acontecer, não me surpreenderá. Note-se, no entanto, que, a percentagem excecionalmente elevada de indecisos, a menos de uma semana das eleições, poderá ser decisiva - a não ser que se transforme numa (ainda) maior abstenção - para que se compreenda por que aconteceu, ou não, essa viragem.

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