PNS vs Montenegro: jovens queriam respostas para os seus problemas, mas só assistiram a uma "briga de leões"

20 fev, 17:26
Jovens quiosque

O último frente a frente para as eleições legislativas de 10 de março pelo olhar dos jovens

“Mas isto vai ser sempre assim? Sempre a interromperem-se?”. Ao fim de apenas cinco minutos do debate mais esperado para as legislativas, Teresa Byrne, 21 anos, já tinha as suas expectativas frustradas. Era neste debate que os jovens esperavam ver as suas questões esclarecidas, mas não foi o que aconteceu. 

Para Ana Eliz, 20 anos, ambos os lideres partidários “têm ideias em comum, como o aumento dos salários". A diferença é "como vão lá chegar", e isso "eles não explicam". Era o que Ana esperava deste debate: resposta ao "como?"

“Isto mais parece uma briga de leões”, atira Ana. Teresa ri-se: “Ou de macacos; não há respeito”. E ainda diz sarcasticamente: “O melhor debatente está a ser a Clara de Sousa.” 

O resto da mesa de jovens, reunidos num quiosque em Lisboa, concorda. Sentem que faltaram explicações práticas de execução de propostas e referência à sua geração. “Tem de haver aqui uma maneira de fugir a este pânico que é viver em Portugal”, afirma Teresa, criticando Pedro Nuno Santos que “perde tempo a falar do passado”. “É preciso medidas concretas que tirem o país deste buraco. Sim, temos andado a sobreviver, mas queremos é viver”, acrescenta. 

O medo e preocupação por viver em Portugal não reside apenas nestes jovens, na mesa ao lado estavam mais cinco que vieram de propósito ver o debate no quiosque. “Vimos a iniciativa no TikTok da CNN Portugal.” Noutra mesa, outros quatro deslocaram-se àquele local para ver o jogo de futebol, mas acabaram a assistir atentamente ao “duelo de leões”. Os jovens descreveram este debate como “um concurso para ver quem tem mais talento para se atropelar”. 

Jovens assistem ao debate PS x AD. (FOTO: Joana Moser)

Interrupções de um lado, ataques do outro

“Estão os dois mais preocupados com os pontos fracos do outro”, lamenta João Chapa, de 30 anos. Já tinham passado 20 minutos de debate e para Diogo Sereno, 23 anos, “Luís Montenegro continuava sem conseguir passar a mensagem”. “Cala-te com o PS”, atira Luísa Agapito, 23 anos, criticando a postura do líder do PSD. “Desliguem-lhe o microfone”, grita João Chapa, desaprovando a postura de Montenegro e responsabilizando a moderação. 

“Pedro Nuno Santos também interrompe”, refere Manuel Gonçalves, 27 anos, dizendo, em tom de troça, que “deve ter aprendido com André Ventura”. “As constantes interrupções, a arrogância desmedida e a falta de educação de Pedro Nuno foram uma novidade”, acrescenta. 

Segundo os jovens, houve vários temas em que Luís Montenegro falhou, como o facto de não responder se viabiliza um Governo minoritário do PS. Ou nas respostas às perguntas sobre a TAP. “Montenegro tinha um grande margem para poder dialogar e parte logo para a crítica ao trabalho de Pedro Nuno”, observa em tom de reprovação, Luísa Agapito. “Devia assumir que é um assunto moroso, que também quer uma solução e afirmar que precisa de contar com o Partido Socialista”, sugere, censurando os seis minutos e meio que o líder do PSD usou para “atacar Pedro Nuno Santos”. 

Na sua ótica, “Pedro Nuno acabou por sair muito melhor no assunto da TAP do que Luís Montenegro”. Diogo está de acordo. “Montenegro tinha a ganhar se fosse mais gentil.” “Talvez esteja a tentar chamar os eleitores do Chega com esta atitude”, pondera. 

Guilherme Guerra partilha da mesma visão. “Pedro Nuno Santos está a ser mais incisivo e isso convence os indecisos. Já Montenegro devia fazer o mesmo e apresentar mais as suas propostas.” O jovem imita o líder do PSD, apontando o dedo à pessoa do lado: "Não é verdade, não é verdade”. Risos. “Pedro Nuno está a safar-se melhor do que esperava”, considera João Chapa. 

No entanto, houve quem apontasse falhas ao desempenho do secretário-geral do Partido Socialista. “O PS acabou por se comprometer neste debate”, diz Ana, afirmando que se o partido “já esteve no poder, é tempo de assumir o que não fez bem, o que podia ter feito melhor, e apresentar o que vai mudar se ganhar as eleições”. 

“Em oito anos, e tirando os quatro do Governo do PSD, os outros anos todos para trás, o que se verificou foram orçamentos cujos investimentos não chegaram nem a metade daquilo que estava orçamentado”, destaca Guilherme Guerra, 22 anos. A seu ver, “o Estado está a gastar dinheiro em coisas que não dão retorno”. Ana concorda e diz que o problema está na “má gestão”. “É preciso usar o dinheiro que já temos e reestruturar.” Na mesa ao lado, onde se senta Luísa, esta faz um reparo sobre o mesmo assunto: “Mas o que interessa investir mais?” 

Para Ana, não se trata apenas de má gestão, mas também da “criação de medidas a longo prazo”. No entanto, reconhece que essas medidas, em termos eleitorais, “não fazem muito sentido”. “Os políticos pensam: não vou propor algo até às legislativas, porque quem vai estar no poder é que vai ficar com os louros”, acrescenta.

Onde fica a Educação?

“Ninguém quer saber da educação”, repara Teresa Byrne, que gostava de ouvir falar sobre esta temática. Relativamente ao setor, Luísa, Diogo e André entram numa discussão sobre as diferenças entre o ensino público e privado. 

Para Luísa, é mais grave não ter professores no ensino público, do que alguns alunos não terem acesso ao ensino privado. “Três quartos dos alunos que estão no ensino público, secundário, se não têm professores não conseguem ter condições para fazer os exames, ficam com uma condição de desigualdade com os alunos que têm essa hipótese. Isso é muito mais grave, preocupa-me muito mais do que não ter acesso ao ensino privado”, defende.

Diogo refuta a ideia. Diz que o problema não reside apenas na falta de professores, mas sim na falta de atratividade na carreira de professor. “A carreira de professor não é suficientemente atrativa para que um aluno que termine o secundário diga que quer ser professor. Esse é o principal problema.” “Mas não é só isso”, responde Luísa. “Já tens até professores que estão em formação que têm de ser obrigados a dar aulas.” E relembra que no secundário tinha um professor de Educação Física que vinha de avião, todos os dias, do Porto. 

André intervém e constata que “a carreira de médico, por exemplo, é bem mais valorizada no privado do que no público”. “Mas na educação, em termos de rendimentos, não há uma diferença muito grande entre o público e o privado”. “Certo”, diz Luísa, introduzindo a ideia da colocação dos professores. “A maioria é colocada longe das suas casas.” Para Luísa o problema está, novamente, na gestão. 

André compara a gestão da escola privada com a pública, concluindo que a pública está em desvantagem. “Uma escola privada tem 200 alunos, se não tiver professores, reduz as vagas para onde só tem 50, a escola pública não se pode dar ao luxo de dizer que não quer ter mais alunos”, explica. Luísa reage de imediato: “Ou seja, é no sistema público que se tem de garantir que haja professores para que as crianças tenham condições.” Diogo intervêm: “Mas também não vais impedir um professor que dê aulas no privado de ser professor no privado e que vá dar aulas para o público.”

João Chapa (à esquerda) e Luísa Agapito (à direita). (FOTO: Joana Moser)

"O Estado investiu em ti e agora tem o direito de te explorar até ao tutano"

No frente a frente entre PS e AD foi referida uma medida de exclusividade de recém-médicos com o SNS. 

Na ótica de Luísa, o que o PS quer fazer é que “os médicos que são formados no sistema público, que é um investimento brutal do Estado, a quererem ir para o privado, no fundo, reembolsem ao Estado o investimento que o Estado fez neles, isto para não saírem do SNS”.

Luísa Agapito, 23 anos, descredibiliza esta medida. “Não se está a cortar o mal pela raiz.” A jovem defende que é preciso tornar a carreira mais atrativa, baixar as médias de entrada em Medicina no ensino superior e aumentar o número de vagas.

Diogo Sereno, 23 anos, discorda. “Não tens falta de pessoas formadas em Medicina." “Em Portugal tens, vão todas para a República Checa”, responde Luísa. “Não tens falta de criar escolas de Medicina, tens é falta de especialidade”, contrapõe Diogo. “Temos de investir no SNS. Os médicos não são ricos ou senhorios, estão cansados, não têm períodos normais de trabalho, não têm quase tempo de descanso. Porque não se torna só uma carreira atrativa?”. 

André Branco, 30 anos, não considera uma medida preguiçosa, mas exequível. Luísa continua sem concordar: “então mantêm-se os salários, os horários extra, o período extraordinário porque elas são penalizadas?”. “É preciso melhorar”, reconhece André. Diogo diz que o que se está a dizer aos médicos é: “Estás a trabalhar no SNS porque o Estado investiu em ti.” Luísa reage: “O Estado investiu em ti e agora tem o direito de te explorar até ao tutano, a não teres férias.” “Mas o Estado não está a dizer ‘agora és meu para sempre’, há ali um período e uma indicação de exclusividade”, explica Diogo. Guilherme Guerra entra na discussão: “Essa medida é um penso rápido.” 

“As duas coisas são mutuamente exequíveis”, defende André, explicando que, dado o período de emergência, faria sentido haver um período de exclusividade e, ter também uma medida penalizadora de quem sai para o privado, “pelo menos transitoriamente”.

Pedro Nuno ficou "sem pio"

Manuel Gonçalves, 27 anos, não para de fazer críticas a Pedro Nuno Santos por não compreender como este continua a falar do crescimento económico do País.“A nível de crescimento estamos no 17º lugar na lista de países da UE, temos mais de 1 milhão de pessoas com salários até 1000 euros, temos o 4.º pior poder de compra da Zona Euro, o quinto maior aumento da carga fiscal da UE”, descreve para contestar o que acabara de ouvir do líder do PS. 

“Montenegro arrumou o PNS com a questão do Sócrates”, considera ainda Manuel, para quem era previsível que o socialista mencionasse os tempos da troika, “escamoteando a verdade” quanto a quem a chamou. O jovem sublinha ainda que Pedro Nuno, “ficou sem pio” quando Luís Montenegro perguntou se ia convidar José Sócrates para a campanha.

AD vence nas redes sociais, mas a culpa é dos "reformados"

Nesta fase do debate, o pulsómetro da CNN já dava a vitória à AD. Diogo descredibiliza o pulsómetro: “O PS perde sempre nas redes sociais”. André ri-se e diz: “Pois os reformados não têm redes sociais”. 

Mas Manuel Gonçalves, intervém para defender o pulsómetro. “Depois deste debate espero que os comentadores não tenham medo de dizer que Pedro Nuno Santos não está preparado para ser primeiro-ministro”. Na sua ótica, um candidato a primeiro-ministro tem de demonstrar que domina toda e qualquer matéria, como a saúde ou a habitação. “Num debate de 70 minutos notou-se que Pedro Nuno Santos não domina toda e qualquer matéria, o que beneficiou Luís Montenegro”. 

Ode indesejada aos 50 anos de democracia

As frases finais de Pedro Nuno Santos de apelo ao voto foram bastante criticadas entre os jovens. “Porque se está a focar nos últimos 50 anos de democracia, ao invés dos últimos oito de governação?”, questionam. “Pior, nem fala do futuro”, repara Guilherme, em tom de preocupação. “Ficar feliz com os 50 anos de democracia não é uma proposta”, atira Luísa. 

Mas para André Branco, 30 anos, a referência de Pedro Nuno a esses 50 anos de democracia serve para relembrar aos eleitores quais os partidos com arco democrático. Na sua perspetiva, esta referência tem como efeito tentar moderar os descontentes que podem vir a votar Chega. “A ideia era mais moral do que eleitoralista, o que não lhe fica mal”, acrescenta. 

João Simões discorda: “Tenho uma visão mais cínica”. Para o jovem, a referência aos 50 anos de democracia tinham um objetivo de ganho pessoal. No sentido de relembrar aos eleitores que “o PS governou bastantes vezes e durante essas vezes se alcançaram todas estas coisas”. 

“Pedro Nuno Santos acaba a dizer que tem orgulho do que o PS fez nos últimos oito anos. A mensagem fala por si. É triste”, afirma, por seu lado, Manuel Gonçalves. 

Já o apelo ao voto de Luís Montenegro foi melhor acolhido. “Falou melhor para todo o eleitorado de direita, do que Pedro Nuno para todo o eleitorado de esquerda”, defende Luísa. Diogo concorda, mas refere que “Montenegro também falhou"  porque falou, "mais enquanto opositor, do que enquanto futuro primeiro-ministro”.  

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