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Diretor de Informação da TVI

Rio ganhou. Costa perdeu. E o país?

14 jan 2022, 08:05

O problema dos debates decisivos é que nunca ninguém sabe, verdadeiramente, o que é que eles decidem. Se a sondagem do dia seguinte, se uma transferência de votos de um partido para o outro ou — ainda mais importante— quantos indecisos passaram a ficar convencidos sobre o seu sentido de voto.

O frente a frente entre António Costa e Rui Rio foi um debate entre um discurso que já cheira a mofo e outro que, já tendo cheirado a mofo no passado, surge agora como uma espécie de nova fragância, igual à que já cheirámos várias vezes, mas que, de alguma forma, volta a ser capaz de nos despertar os sentidos.

Rio ganhou o debate por mérito próprio. Foi mais eficaz, mais perspicaz e muito mais competente a passar a sua mensagem. Concorde-se ou não com as suas ideias - isso é outra questão -, o líder do PSD soube aproveitar o momento para marcar pontos e arrumar com António Costa em vários momentos do debate.

E não foi preciso muito. Bastou-lhe ser igual a si próprio. Convicto nas ideias que defende, genuíno quanto baste para a D. Manuela, expressivo na linguagem corporal e conseguindo, quase sempre, desmontar os argumentos do adversário.

Já António Costa perdeu. Não só porque subestimou o adversário, mas também porque lhe faltou jogo de cintura e, sobretudo, porque não foi capaz de se reinventar no discurso. Em vários momentos do debate, parecia que tínhamos recuado a 2019. A mesma tática, a mesma retórica, os mesmos argumentos e as mesmas estatísticas repetidas ad nauseam, que em nada projetam o futuro.

O momento decisivo - e o mais infeliz - é aquele em que Costa decide “sacar” do Orçamento do Estado para 2022. Quando um primeiro-ministro acabado de derrubar decide apresentar-se a eleições com um documento que foi chumbado da esquerda à direita - o PAN faz questão de não se encaixar em lado nenhum - no Parlamento, isso diz muito sobre as ilações que retirou desta crise política.

E agora sobre a substância. Na economia, nos impostos, na saúde, nos salários e até na TAP, Rui Rio não diz nada que qualquer um dos seus antecessores não tenha já dito e, em alguns casos, feito. Mesmo aqueles de quem desdenha e que critica internamente. Dos choques fiscais à prioridade às empresas, passando pelos acordos com o setor privado da saúde, sem esquecer a importância da produtividade, já todos ouvimos este discurso centenas de vezes e todos sabemos onde estamos neste momento.

O único tema em que o líder do PSD se destaca — não necessariamente pela positiva - é na justiça e no seu ímpeto controleiro, indiferente à separação de poderes prevista na Constituição. Foi o único momento do debate em que António Costa conseguiu sair por cima, tão débeis - e perigosos - eram os argumentos de Rui Rio.

Ainda assim, Rio ganhou. Costa perdeu. E o país? O que vai ganhar com estas eleições? É minha convicção que muito pouco. Por mais cenários de governação que se desenhem, por mais contas que se façam, dificilmente sairemos do próximo ato eleitoral com um quadro político mais estável do que temos. Se Costa mete as fichas todas no PAN e está disponível para governar ao jeito do queijo limiano, está tudo dito deste lado. E se Rio - mesmo não o assumindo - ficar dependente do Chega para formar uma maioria, sobra-nos em cenários e instabilidade o que nos falta em projetos de futuro. 

É por isso que, depois das eleições do próximo dia 30 de janeiro, o melhor mesmo é ficarmos atentos àquele que eu acho que será, afinal, o principal protagonista destas eleições: Marcelo Rebelo de Sousa.

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