Procura por combustíveis fósseis vai atingir o seu pico em breve. E porque isto pode ser uma boa notícia

CNN , Anna Cooban
27 set 2023, 08:00
Chaminé da fábrica Linden Cogeneration, em Linden, Nova Jérsia, nos EUA, a 22 de abril de 2022. Kena Betancur/VIEWpress/Getty Images

O "caminho para o objetivo de 1,5 graus está a estreitar-se", mas existem "razões legítimas para ter esperança"

A procura global de petróleo, gás natural e carvão deverá atingir o seu pico em 2030 - um desenvolvimento "encorajador", mas "nem de perto suficiente" para limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 graus Celsius, antecipou a Agência Internacional de Energia na terça-feira.

A poluição do sector energético, que aquece o planeta, deverá também atingir o seu máximo nesta década, segundo a AIE, numa atualização do seu relatório de referência "Net Zero Roadmap".

Fatih Birol, diretor executivo da agência, disse aos jornalistas que o "caminho para o objetivo de 1,5 graus está a estreitar-se", mas que existem "razões legítimas para ter esperança".

"Estamos a assistir ao aparecimento de uma nova economia de energia limpa em todo o mundo", apontou.

Os cientistas consideram que um aquecimento de 1,5 graus é um limiar para além do qual o calor extremo, as inundações, as secas, os incêndios florestais e a escassez de alimentos e de água terão um impacto catastrófico. O verão deste ano no Hemisfério Norte foi o mais quente de que há registo, de acordo com o Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, da União Europeia.

Os cientistas sublinham também que, para respeitar o limite de 1,5 graus, as emissões globais de gases com efeito de estufa devem ser reduzidas a zero até 2050, numa base líquida, tendo em conta todas as emissões produzidas e removidas da atmosfera. 1,5

Desde a publicação original do relatório "Net Zero Roadmap" em 2021, o mundo assistiu a um "crescimento recorde" da capacidade de produção de energia solar, bem como a um aumento das vendas de veículos eléctricos, observou a AIE.

Nos últimos dois anos, "a energia solar tornou-se o rei dos mercados de eletricidade", disse Birol. "O antigo rei - o carvão - acabou, e agora a energia solar é o novo rei, o custo está a baixar."

Há dois anos, acrescentou, um em cada 25 carros novos vendidos em todo o mundo era elétrico. Este ano essa percentagem aumentou para um em cada cinco.

E mais de 80% das reduções de emissões necessárias até 2030 podem ser alcançadas através da expansão das fontes de energia renováveis, do aumento da eletrificação, da melhoria da eficiência energética e da redução das emissões de metano, de acordo com a AIE.

"Tarefa hercúlea"

Ainda assim, limitar o aquecimento global é uma "tarefa hercúlea", admitiu Birol, observando que para atingir o objetivo de 1,5 graus seria necessário reduzir em 25% a procura de combustíveis fósseis até 2030, em comparação com os níveis atuais.

A AIE calcula que os investimentos em energia limpa a nível mundial terão de mais do que duplicar, passando dos 1,8 biliões de dólares previstos para este ano para 4,5 biliões de dólares por ano até ao início da década de 2030. Manter-se no caminho de 1,5 graus significa também que quase todos os países devem antecipar as datas previstas para atingir emissões líquidas nulas de carbono.

Entretanto, a captura, utilização e armazenamento de carbono - um conjunto de tecnologias que evita que o carbono vá para a atmosfera na fonte da poluição - bem como a energia baseada no hidrogénio e os biocombustíveis exigem "progressos rápidos" até 2030.

Os líderes mundiais deverão reunir-se no Dubai para a cimeira das Nações Unidas sobre o clima, COP28, no final de novembro, para avaliar os progressos globais no sentido de limitar o aquecimento a 1,5 graus.

Reações

No seu relatório de 2021, a AIE afirmou que, para atingir emissões líquidas zero de carbono até 2050, o investimento em novos projetos de petróleo e gás deve parar imediatamente e não devem ser aprovadas novas centrais a carvão.

Mas alguns dos produtores mundiais de combustíveis fósseis ignoraram esse apelo. Em julho, o governo britânico anunciou planos para permitir uma grande expansão da perfuração de petróleo e gás no Mar do Norte.

O primeiro-ministro Rishi Sunak disse na altura que esperava que os planos fornecessem ao Reino Unido energia de origem doméstica, enquanto o país fazia a transição para uma economia de emissões líquidas nulas até 2050.

Em setembro, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo - um grupo que inclui o maior exportador de petróleo bruto do mundo, a Arábia Saudita - afirmou que a suspensão do investimento em novos projetos de petróleo e gás iria fazer com que o sistema energético global falhasse "grandiosamente".

"Isso conduziria a um caos energético a uma escala potencialmente sem precedentes, com consequências terríveis para as economias e milhares de milhões de pessoas em todo o mundo", declarou Haitham Al Ghais, secretário-geral da OPEP, num comunicado.

Os preços do petróleo subiram nos últimos meses, na sequência de uma decisão da OPEP e do seu principal aliado, a Rússia, de reduzir a oferta de crude, numa tentativa de manter os preços em alta.

O petróleo bruto Brent, a referência mundial, subiu 28% desde o seu mínimo no final de junho, sendo negociado perto dos 93 dólares (cerca de 88 euros) por barril.

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