Perda de memória e dificuldades de concentração: "brain fog" associado à long covid é comparável a envelhecer 10 anos, sugere estudo

CNN Portugal , BCE
23 jul 2023, 10:24
Stress (Pexels)

Esta é a conclusão de um estudo publicado esta semana na revista científica The Lancet que procurou perceber o impacto da covid-19 na capacidade de memória de milhares de participantes que ficaram infetados

Dificuldades de concentração e raciocínio, perda de memória e sensação de confusão. Estes são alguns dos sintomas do chamado "brain fog" [névoa mental], uma das sequelas associadas à long covid e que é de tal forma limitadora que chega a ser comparável a envelhecer 10 anos.

É isso mesmo que sugere um novo estudo da Kings College, em Londres, que acompanhou um grupo de mais de 5.100 participantes do Covid Symptom Study Biobank, que foram ou não infetados com o SARS-CoV-2, ao longo de 12 testes cognitivos nos quais avaliaram a sua capacidade de memória, atenção, raciocínio e capacidades motoras em dois períodos distintos: uma primeira fase em entre julho e agosto de 2021 e uma segunda fase entre abril e junho de 2022.

Os resultados, publicados esta sexta-feira na revista The Lancet, revelam que os indivíduos que testaram positivo à covid-19 apresentavam níveis cognitivos mais baixos, sobretudo aqueles que ainda tinham sintomas da doença há mais de 12 semanas (o conceito de síndrome pós-covid implica a persistência dos sintomas pelo menos 12 semanas após a infeção).

O estudo sugere que os défices cognitivos registados são comparáveis ao efeito de um "aumento da idade de aproximadamente 10 anos", ou até mesmo a sintomas ligeiros ou moderados de "sofrimento psicológico".

"O que é curioso é que, dois anos após a primeira infeção, algumas pessoas não se sentem totalmente recuperadas e as suas vidas continuam a ser afetadas pelos efeitos a longo prazo do coronavírus", sublinha ao The Guardian Claire Steves, professora do departamento de saúde da King's College, ressalvando que é necessário investigar mais o porquê de isto acontecer apenas a algumas pessoas.

Há um outro dado importante neste estudo: é que na segunda fase de testes, entre abril e junho de 2022, os investigadores não registaram melhorias significativas dos níveis de défice cognitivo entre os 1.786 participantes que tinham testado positivo à covid-19 pela primeira vez há nove meses.

Por outro lado, a equipa de investigadores não detetou qualquer comprometido cognitivo entre os indivíduos que diziam estar totalmente recuperados da covid-19, mesmo entre aqueles que apresentaram sintomas da doença ao longo de mais de três meses. Um resultado que o principal autor do estudo, Nathan Cheetman, apontou ao The Guardian como "boas notícias".

Para o investigador, "este estudo mostra a necessidade de acompanhar as pessoas que foram mais afetadas ao nível cognitivo pela covid-19 para verificar como os seus sintomas evoluem e ajudá-las na sua recuperação".

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