Covid-19: será que recuperou mesmo da infeção? A que sinais deve estar atento? Quais são os principais sintomas de long covid?

28 mar 2022, 07:00
Persistência de sintomas. (Pexels)

A prevalência de sintomas é uma das consequências diretas da infeção por SARS-CoV-2, mas há também quem tenha sequelas silenciosas. Em qualquer um dos casos, a ida ao médico é o primeiro passo. E há exames que podem ajudar a perceber se a covid-19 deixou marcas no corpo

Mais de dois anos após a deteção do primeiro caso de infeção por SARS-CoV-2 em Portugal, há quem ainda sinta na pele todos os dias a covid-19, uma condição já descrita como covid de longa duração (ou long covid) e que vai mudando de características à boleia da imprevisibilidade novas variantes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% a 20% das pessoas que tiveram covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase aguda da infeção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afeta também a saúde mental.

E não é apenas quem desenvolveu doença grave que fica com sequelas, sejam elas a curto, médio ou longo prazo. Assintomáticos ou infetados que desenvolveram doença ligeira podem também apresentar a permanência ou aparecimento de sintomas com o passar do tempo. Em qualquer um destes casos, a ida ao médico é o primeiro passo a dar, destacam os especialistas entrevistados pela CNN Portugal.

Temos de perceber se houve uma recuperação total ou não da doença, na maior parte das vezes a infecção por covid-19 é ligeira e passa sem sequelas. Nesse caso, a pessoa deve manter a sua rotina habitual”, que passa por uma consulta médica e os exames e análises de rotina habituais, começa por explicar Patrícia Maia, coordenadora de Medicina Geral e Familiar do Hospital Lusíadas Lisboa. 

Já no caso de pessoas que tenham doenças crónicas, “teremos de ter um maior cuidado". "Mas essas pessoas, por norma, fazem exames de rotina de uma forma muito mais frequente”, o que faz com que potenciais sequelas ou sintomas persistentes sejam detetados mais cedo por parte dos médicos, continua a internista.

O tipo de exames de avaliação de sequelas, persistência de sintomas ou do aparecimento de novos depende de pessoa para pessoa – e no caso de doença grave deve ser orientado da forma mais personalizada possível – e da queixa apresentada, mas se tais situações “não conseguem ser explicadas por nenhuma outra doença”, então é importante fazer uma avaliação clínica completa, começando pelo historial da pessoa, continua a médica. 

De qualquer modo, reforça, após a infeção por Sars-CoV-2, mesmo que a pessoa tenha sido assintomática ou tenha tido sintomatologia leve, é importante “ir ao médico fazer uma avaliação global”. E, caso persistam sintomas, continua o pneumologista Luís Rocha, “estes são preocupação a partir das 12 semanas. Aí merecem uma investigação adicional e dirigida”.

As consultas pós covid são já frequentes em várias clínicas privadas e até em alguns hospitais públicos, e a disponibilização de informação ajuda a perceber que a avaliação médica não deve ser ignorada – seja para uma análise física ou mental. Há um conjunto de exames de avaliação que ajudam a perceber se efetivamente há sequelas ou não, sobretudo em assintomáticos.

Mais atenção aos pulmões e coração

Um estudo publicado na eClinicalMedicine revela que já foram identificados 203 sintomas associados à covid de longa duração e que envolvem 10 órgãos diferentes do corpo humano. Mas são os pulmões e o coração aqueles que mais sofrem com a infeção, sobretudo quando a infeção ocorreu no período das variantes mais agressivas, como a Alpha e a Delta, que se alojavam nos pulmões e afetavam diretamente o órgão, ao contrário da Ómicron, que se se desenvolve mais nas vias aéreas superiores (nariz ou garganta) do que nos pulmões.

Face à persistência de sintomas pulmonares, como falta de ar e tosse, refere Luís Rocha, pneumologista e dirigente da Fundação Portuguesa do Pulmão, é importante fazer uma “avaliação respiratória” e perceber se se justifica “ter exames de imagem, se há alteração do pulmão, o que acontecia mais com as variantes Alpha e Delta, que causavam pneumonias virais, que deixavam fibrose pulmonar, por exemplo”.

Para decidir qual o exame de avaliação a fazer, para além de avaliar a sintomatologia que pode persistir, “há que perceber se é alguém com patologia crónica pulmonar ou cardíaca”, diz a médica Patrícia Maia. “Se já tiver, vamos ter de avaliar a função respiratória com espirometria, por exemplo”. Mas “se for alguém saudável até à data”, por exemplo, um raio-x ao tórax poderá ser suficiente. “Não fazemos logo uma TAC”, esclarece a médica.

As “alterações em exames auscultatórios” são também um fator a avaliar em clínica e, uma vez, que “pulmão e coração andam de mãos dadas, e quando um funciona mal afeta o outro, podemos ter de usar provas de esforço quando a mobilidade assim o permite”, frisa a Patrícia Maia.

A avaliação da função respiratória pode ser feita com pletismografia, provas de provocação inalatória, teste de difusão e teste de exercício cardiopulmonar, mas tudo depende de paciente para paciente e da gravidade dos sintomas. 

Na avaliação cardíaca pode ser realizado um ecocardiograma ou eletrocardiograma. Segundo Luís Rocha, na hora de analisar o impacto da covid no coração – que pode causar dor no peito, palpitações e batimentos cardíacos irregulares, por exemplo – pode justificar-se avaliar se há “alguma informação de atingimento do miocárdio”, com exames mais pormenorizados.

Avaliar o cansaço

A sensação de cansaço é uma das queixas mais comuns após a infeção por SARS-CoV-2 e pode mesmo surgir após a recuperação e em quem teve sintomatologia ligeira. Quando esta queixa é apresentada em consultório, “pedimos análises mais específicas direcionadas para o cansaço”, diz Patrícia Maia.

O hemograma completo é um dos exames de sangue que pode fazer sentido na avaliação destas queixas, uma vez que avalia as células que compõem o sangue e as plaquetas. Avaliar a tiróide pode também fazer sentido, assim como despistar, por exemplo, a existência de anemia.

Mas quando o cansaço é uma consequência, é preciso "investigar" estilos de vida. “Tentamos perceber os hábitos de vida que estão a decorrer e reforçar hábitos de vida saudáveis, pedir à pessoa para descansar, comer mais fruta e legumes. Para começar por fazer um exercício físico mais suave ou fazer caminhadas se não fazia nada de exercício até ter ficado infetado”, esclarece a médica.

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