Endividados e a viver de transferências: os clubes portugueses

13 jan 2017, 10:55
Dinheiro (Reuters)

Relatório da UEFA faz radiografia ao futebol europeu e expôe tendências claras do futebol nacional

O futebol português é de todos os principais campeonatos europeus aquele que mais depende das receitas extraordinárias que representam as transferências de jogadores. Elas valem nada menos que 75 por cento das receitas dos clubes portugueses. E o FC Porto foi, no ano financeiro de 2015, o terceiro clube da Europa que mais ganhou com a venda de jogadores. A Liga portuguesa é também das que tem os clubes mais endividados, sendo que o Benfica é mesmo em absoluto o segundo clube da Europa com maior dívida. Portugal teve um crescimento marginal de receitas nos últimos seis anos, ainda que no ano analisado Sporting e FC Porto estejam entre os clubes europeus com maiores lucros.

Estes são dados do oitavo relatório da UEFA do Licenciamento de Clubes, que faz uma radiografia ao futebol europeu. As conclusões gerais do relatório são otimistas, considerando que a introdução do fair play financeiro levou a «enormes reduções nas perdas» dos clubes, bem como «aumentos nas receitas». Globalmente, as receitas operacionais, diz a UEFA, aumentaram para 1.5 mil milhões de euros nos últimos dois anos, contra 700 milhões de perdas nos dois anos que antecederam a exigência de «break even», ou seja, de custos que não ultrapassem receitas. Embora deixe também alertas sobre a crescente concentração de riqueza.

Quanto a Portugal, o gráfico do estudo que desmonta a origem das receitas não deixa margem para dúvidas. Transferências, transferências e transferências, três quartos do dinheiro que entra vêm daí.

A segunda fonte de receitas são os direitos televisivos, seguido dos contratos de patrocínio/comerciais, e depois dos lucros que chegam da UEFA através da participação nas competições europeias.

No período tido em conta, o ano financeiro de 2015, que no caso da maioria dos clubes é a época 2014/15, o FC Porto foi o terceiro que mais ganhou em transferências, 100 milhões de euros, atrás apenas de Real Madrid e Liverpol. Os dragões declararam 53 milhões de gastos, pelo que o saldo é de 47 milhões de ganhos com transferências de jogadores. O Benfica também entra no «top 10», em sexto lugar e com 89 milhões de euros ganhos, para um saldo final de 40 milhões.

Os dados referem-se a exercícios positivos para FC Porto, mas também para Sporting, ambos em destaque no ranking geral neste periodo no que diz respeito a ganhos líquidos. Os leões apresentam 24 milhões de lucros, a 13ª posição na Europa. O FC Porto também entra no top 20.

O FC Porto também surge neste período no top 20 europeu no que diz respeito a receitas oriundas da UEFA, com 36 milhões que lhe dão a 11ª posição, num ranking liderado pela Juventus, com 92 milhões de euros.

No que diz respeito a receitas totais, a Liga portuguesa aparece na 11ª posição, com 343 milhões de euros de ganhos. Cresceu 0,4 por cento no período de seis anos analisado, um aumento de 45 milhões de euros, a anos-luz da Liga que mais cresceu neste período, a inglesa, com 1.984 milhões.

Quanto ao peso da dívida, os dados também indicam uma tendência clara no que diz respeito aos clubes portugueses. Ela representou 170 por cento das receitas dos clubes portugueses, o segundo valor mais alto entre as 20 principais Ligas europeias, atrás apenas da Macedónia.

A este dado há a juntar a posição do Benfica neste ranking, o segundo maior da Europa, atrás apenas do Manchester United.

A UEFA defende  no entanto que no cenário global a tendência foi para o diminuir das dívidas dos clubes nos últimos anos. E usa esses números para defender a continuidade de mecanismos de controlo sobre as finanças dos clubes.

Mas também deixa um alerta. «As receitas estão a aumentar, mas estão muito concentradas no topo da pirâmide (em particular no que diz respeito a receitas de televisão, comerciais e de patrocínios), com um número limitado de clubes capaz de explorar as enormes oportunidades oferecidas pelo mercado global», diz o relatório. «Isto traduz-se num rapidamente crescente fosso entre os clubes de topo e os outros, e esse é um dos grandes desafios do futebol no futuro».

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