A pandemia também mexeu com os sonhos. Frustração e claustrofobia "atacaram" durante a noite

4 abr 2022, 21:00
Entre os sonhos que captaram a atenção dos cientistas estão relatos de pessoas que sonharam que não conseguiam sair de casa porque a maçaneta estava partida ou que não queriam mesmo sair de casa por causa de todo um cenário catastrófico para lá das paredes da habitação - e que até chegava a incluir ursos no jardim. (Pexels)

Querer sair de casa e não conseguir, ou não querer sair de casa por culpa de um cenário catastrófico digno de um filme de ficção científica. Durante o primeiro ano de pandemia, e à boleia dos confinamentos, os sonhos foram mais vívidos e frustrantes, revela um estudo

Um recente estudo da University College London, no Reino Unido, revela que os confinamentos não tiveram apenas impacto no estilo de vida das pessoas, mas influenciaram também os seus sonhos. Claustrofobia e frustração foram as experiências mais comuns durante o sono entre março de 2020 e março de 2021, relata o The Guardian.

Segundo a investigação, no primeiro ano de pandemia, foi comum as pessoas sonharem com o facto de estarem fechadas em casa, aquela que era a realidade possível face à chegada de um vírus altamente contagioso e mortal. 

O estudo britânico, que ainda está em fase inicial e apresentou agora os primeiros resultados, teve por base a análise do relato de 850 sonhos e pesadelos submetidos online na plataforma Lockdown Dreams Projetct e concluiu que 71,4% das pessoas confessaram que os sonhos eram mais vívidos do que o habitual durante o primeiro confinamento no Reino Unido, misturando mesmo episódios do passado quando sonhavam com a família que não podiam ver ou abraçar.

No segundo confinamento, que aconteceu em novembro do mesmo ano no Reino Unido, os participantes relataram que os sonhos continuavam igualmente vívidos: 30,4% classificou-os como mais vívidos, 47,8% como igualmente vívidos face ao primeiro confinamento e apenas 21,7% admitiu que os sonhos estavam menos vívidos.

Entre os sonhos que captaram a atenção dos cientistas estão relatos de pessoas que sonharam que não conseguiam sair de casa porque a maçaneta estava partida, ou que não queriam mesmo sair de casa por causa de todo um cenário catastrófico para lá das paredes da habitação - e que até chegava a incluir ursos no jardim. 

Jake Roberts, um dos cientistas que analisou os sonhos, diz que estes episódios de claustrofobia são “uma metáfora muito boa para a falta de liberdade e movimento” provocada pelos confinamentos.

Consequências para lá dos sonhos

Segundo dados avançados à CNN Portugal pela presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, Isabel Luzeiro, a pandemia levou a que um em cada quatro portugueses sofram hoje de problemas de sono, um cenário que resultou do impacto da covid-19. Antes dos confinamentos, o número de pessoas com dificuldade em dormir era de um em cada seis.

Dados preliminares de um estudo a que a CNN Portugal teve acesso em exclusivo, e que analisa o sono dos portugueses depois da infeção, revela que sonolência excessiva, dificuldade em adormecer, pesadelos ou fadiga crónica são apenas alguns dos problemas já verificados em doentes que recuperaram da covid-19, e cujos sintomas se continuam a verificar vários meses após a infeção. 

Seja à boleia da infeção ou de tudo o que envolve a covid-19 e provoca mudanças de hábitos, a questão do sono e da pandemia é como um círculo vicioso, em que uma noite menos bem dormida, sobretudo se isso for um hábito, pode desencadear uma fragilização do sistema imunitário, uma caraterística associada ao desenvolvimento de formas graves da covid-19.

Futuro

Mais Futuro

Patrocinados