Clima: Manter meta dos 1,5 graus implica cortar quase metade das emissões até 2030, alerta ONU

Agência Lusa , DCT
20 nov 2023, 17:56
Temperaturas altas (Associated Press)

Se a meta for não ultrapassar os 2°C os cortes terão de ser de 28%. O Acordo de Paris impõe como meta não ultrapassar os 2°C, idealmente os 1,5°C.

Um relatório da ONU alertou esta segunda-feira para a necessidade da redução para metade das emissões estimadas de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030, para impedir um aumento da temperatura global acima de 1,5 °C.

Intitulado “Broken Record - Temperatures hit new highs, yet world fails to cut emissions (again)” [Recorde quebrado - As temperaturas atingem novos máximos, mas o mundo não consegue reduzir as emissões (mais uma vez)], o relatório foi hoje divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Lembrando que só este ano houve 86 dias com temperaturas médias superiores a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, e que setembro foi o mês mais quente de sempre, o documento diz ainda que 2023 foi ano de eventos extremos devastadores, numa amostra do que será o futuro sem redução de emissões de GEE, alerta o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC).

O relatório, uma avaliação anual, independente e cientificamente fundamentada, foca-se no desfasamento entre as prometidas reduções de emissões e o que é realmente necessário limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos valores médios da era pré-industrial e conclui que na atual trajetória as temperaturas serão 3°C mais altas no fim do século.

“A incapacidade de reduzir as emissões de GEE até 2030 torna impossível limitar o aquecimento a 1,5°C”, avisa o PNUMA, afirmando que foram batidos não só os recordes de temperatura, como em 2022 foram batidas as emissões globais de GEE e as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2).

As emissões globais de GEE aumentaram 1,2% de 2021 para 2022, atingindo novo recorde de 57,4 gigatoneladas de CO2 equivalente, refere o relatório, frisando que todos os setores, com exceção dos transportes, recuperaram totalmente da queda das emissões devido à pandemia de covid-19 e excedem agora os níveis de 2019.

Os países mais ricos (G20) também aumentaram as emissões, sendo que são atualmente responsáveis por 76% das emissões globais. O PNUMA nota também que os 10% da população mais rica foram responsáveis por quase metade (48%) das emissões. E os 50% mais pobres contribuíram com 12% das emissões.

Para impedir um aumento de 3°C das temperaturas no final do século, todos os países terão de reduzir emissões muito para além das promessas atuais, cortando 42% das emissões até 2030 se quiserem não ultrapassar os 1,5°C, uma meta assumida em 2015 no Acordo de Paris sobre redução de emissões.

Se a meta for não ultrapassar os 2°C os cortes terão de ser de 28%. O Acordo de Paris impõe como meta não ultrapassar os 2°C, idealmente os 1,5°C.

O relatório foi divulgado a 10 dias do início de mais uma cimeira da ONU sobre o clima (COP28) na qual será feito o primeiro balanço global do Acordo de Paris.

Num comentário ao documento a associação ambientalista portuguesa Zero salienta a necessidade imediata de medidas de mitigação, “aceleradas e implacáveis” para se conseguirem cortes profundos nas emissões até 2030.

E frisa que há “uma obrigação muito clara por parte dos países desenvolvidos em liderar o esforço” na luta contra a crise climática, que deve ser complementada com esforços dos países em desenvolvimento.

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