Crise global da água pode “ficar fora de controlo” devido ao consumo excessivo e às alterações climáticas, alerta relatório da ONU

CNN , Sana Noor Haq
26 mar 2023, 15:00
Crianças na região de Baidoa, na Somália, que enfrenta uma seca severa. Foto: Ed Ram/Getty Images/File

O mundo enfrenta uma iminente crise mundial da água que ameaça "ficar fora de controlo" à medida que aumenta a procura pela água e se intensificam os impactos da crise climática, exercendo uma enorme pressão sobre os recursos hídricos, alerta um relatório da ONU

O consumo de água aumentou cerca de 1% ao ano nos últimos 40 anos, impulsionado pelo crescimento da população e pela alteração dos padrões de consumo, de acordo com o Relatório da ONU sobre o Desenvolvimento Mundial da Água publicado terça-feira, na véspera de uma grande cimeira da ONU sobre a água em Nova Iorque.

Até 2050, o número de pessoas nas cidades que enfrentam escassez de água deverá quase duplicar, passando de 930 milhões de pessoas em 2016 para 2,4 mil milhões, antecipa o relatório. Prevê-se que a procura de água em zonas urbanas aumente em 80% até 2050.

Sem ações para resolver o problema da escassez de água, "haverá definitivamente uma crise global", disse Richard Connor, o principal autor do relatório, numa conferência de imprensa para divulgar o relatório.

“Consequências desastrosas”

O acesso à água já é um enorme problema. Dois mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 3,6 mil milhões não têm acesso a saneamento gerido com segurança, de acordo com o relatório.

Cerca de 10% da população mundial já vive em países com stress hídrico elevado ou crítico.

O crescimento urbano e industrial e a agricultura estão a agravar a escassez existente, sendo que só a agricultura utiliza até 70% do abastecimento mundial de água, disse Connor.

A escassez sazonal de água deverá aumentar em áreas onde a água é atualmente abundante, incluindo na África Central, Ásia Oriental e partes da América do Sul. Ao mesmo tempo, a escassez irá agravar-se no Médio Oriente e na região do Sahel em África, onde já há falta de água.

As secas extremas e prolongadas, tornadas mais frequentes e severas pela crise climática, estão também a exercer pressão sobre os ecossistemas, o que pode ter "consequências terríveis" para as espécies vegetais e animais, disseram os autores do relatório.

Barcos ancorados no lago Shasta, na Califórnia, afetado pela seca. 16 outubro 2022. Foto: Josh Edelson/AFP/Getty Images/File
Um homem faz o seu exercício matinal em frente ao rio Yamuna, em Nova Deli, na Índia. O lago está repleto de uma espuma tóxica causada pelas descargas industriais e domésticas. 19 de março de 2023. Foto: Mayank Makhija/NurPhoto/Getty Images

As soluções incluem uma melhor cooperação internacional para evitar conflitos sobre a água, disse Connor.

O controlo das cheias e da poluição, a partilha de dados e os esforços para reduzir os níveis de poluição que aquece o planeta deveriam "abrir a porta a uma maior colaboração e aumentar o acesso aos fundos de água", argumentou.

"Há uma necessidade urgente de estabelecer mecanismos internacionais fortes para evitar que a crise mundial da água fique fora de controlo", disse Audrey Azoulay, a directora geral da UNESCO, o organismo cultural da ONU.

"A água é o nosso futuro comum, e é essencial agir em conjunto para a partilhar equitativamente e geri-la de forma sustentável". 

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