Jane Goodall é conhecida em todo o mundo pelo seu trabalho com chimpanzés. Mas tem agora outro foco

CNN , Michelle Cohan
22 abr, 09:00
Jane Goodall

Jane Goodall tem uma vida e um trabalho inspiradores. Nesta conversa com a CNN partilha conselhos muito úteis, para que possamos perceber como fazer a diferença neste mundo

Em 1960, nas margens do Lago Tanganica, na Tanzânia, uma jovem britânica decidiu mudar para sempre aquilo que sabemos sobre primatas.

Jane Goodall desafiou os métodos científicos convencionais ao mergulhar ela própria na selva, o que levou a descobertas inovadoras sobre os chimpanzés; em destaque o facto de usarem ferramentas, de serem omnívoros e seres socialmente complexos.

Mais de seis décadas depois, o seu trabalho de campo pouco ortodoxo – bem como os seus esforços na conservação desta espécie – ainda são celebrados em todo o mundo.

Hoje, acabada de completar 90 anos, o seu trabalho parece ser um pouco diferente – tendo lugar sobretudo dentro de portas e com um foco diferente. Através do seu programa, chamado “Roots & Shoots”, Goodall capacita jovens no sentido de protagonizarem mudanças no seio das suas comunidades. E, para ela, este trabalho é igualmente importante.

A CNN conversou com Goodall recentemente, durante uma viagem à África do Sul, onde observou alguns dos projetos que os estudantes de Joanesburgo estão a desenvolver no âmbito do projeto “Roots & Shoots”.

A entrevista que se segue foi editada para efeitos de extensão e clareza.

Nos seus primeiros dias em Gombe, Jane Goodall passou muitas horas sentada num monte mais alto, com binóculos e telescópio, procurando chimpanzés na floresta abaixo. Ela tirou esta foto de si mesma com uma câmara presa a um galho de árvore. Goodall comemorou recentemente o seu 90º aniversário. E, para marcar a ocasião, 90 fotógrafas colocaram trabalhos seus à venda, por tempo limitado, revertendo a maior parte dos lucros para o The Jane Goodall Institute (Jane Goodall/Cortesia: Vital Impacts)

CNN: As novas gerações podem aprender muito com os mais velhos. Quem teve esse impacto na sua vida?

Goodall: Penso que é muito importante, esta troca de conhecimento entre os mais velhos e os mais jovens. Tive muita sorte; tive uma mãe incrível. Adoro animais praticamente desde que nasci, e ela apoiou esse amor pelos animais. Tinha um ano e meio quando ela entrou no meu quarto e descobriu que tinha levado um punhado de minhocas, a contorcerem-se, para a minha cama. A maioria das mães teria dito “Ai, livra-te dessa porcaria”. Ela disse apenas “Jane, acho que elas vão morrer se não tiverem terra, é melhor levá-las para o jardim”. Foi assim que ela cultivou esse amor que eu já tinha… pelos insetos, pelas aves, pelos animais, por tudo o que me rodeava.

O programa “Roots & Shoots” tem atividades em 70 países, com centenas de milhares de jovens estão a causar impacto nas suas comunidades. Como surgiu este programa?

Quando dei início ao “Roots & Shoots” na Tanzânia em 1991, foi por ter conhecido jovens que tinham perdido a esperança. Jovens que sentiam que tinham o seu futuro comprometido. E a razão pela qual estão a perder a esperança é óbvia: alterações climáticas, perda de biodiversidade. Podia completar esta lista com muitos outros tópicos… mas quando me diziam que não podiam fazer nada, acabei a pensar ‘Não, isso não é verdade’.

Descobrimos que a principal mensagem do “Roots & Shoots” seria a de que cada um de nós tem um papel a desempenhar. E de que precisávamos de pensar em termos holísticos para ajudar o ambiente, as pessoas e os animais, porque estudo está interligado. Foi assim que começou.

A primatóloga britânica Jane Goodall, aqui retratada a participar num evento em Los Angeles em julho de 2019 (Robyn Beck/AFP via Getty Images)

Qual é a mensagem mais importante a transmitir à geração mais jovem?

Tenho o objetivo de ajudar os mais jovens a compreender que há uma janela temporal [para salvar o planeta]. Infelizmente, hoje [ainda] conheço cada vez mais pessoas que estão a perder a esperança. Há muita gente a sentir-se desamparada e sem esperança porque [se perguntam] o que podem fazer a nível individual.

Contudo, o que as pessoas têm de compreender é que quando há 2 milhões, mil milhões, dois mil milhões, três mil milhões, todos a levarem a cabo pequenas ações para tornar o mundo um lugar melhor, é isso que acaba por mudar o mundo. O que importa é que as pessoas percebam que aquilo que fazem, individualmente, faz mesmo a diferença. Porque não são só elas a fazer, mas sim porque não estão sozinhas.

As inovações nos campos do clima e da tecnologia dão-lhe esperança?

Sim, penso que quando olhamos à nossa volta, para o que está a acontecer com o planeta, precisamos de nos agarrar a tudo o que nos possa ajudar a sair do desastre que criámos. E se olharmos para a energia solar, se olharmos para a energia eólica e para o poder da energia das marés, então estas coisas são boas.

O problema tem sido conseguir apoio governamental. Os governos tendem a investir na indústria dos combustíveis fósseis, em vez de apoiarem as tecnologias emergentes que vão permitir-nos viver de uma forma mais harmoniosa, alinhadas com a natureza que há no mundo. Se não fizermos isto, então o nosso mundo está condenado. E, infelizmente, não é apenas o nosso futuro, mas também o futuro de muitos outros animais que amamos. Temos de agir agora.

Que mensagem tem para o mundo?

A minha mensagem para o mundo seria: não se esqueçam que cada um de nós tem um impacto, todos os dias, no ambiente. E cabe a cada um de nós escolher que tipo de impacto é. Penso que quando todos compreendermos que o papel que desempenhados é realmente importante, sejamos nós quem formos, então poderemos caminhar para um mundo melhor.

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