Os «goodfellas» de Bruno Fernandes

8 fev 2019, 11:23
Chuteiras Pretas

«Chuteiras Pretas»

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Para ver a vida como Bruno Fernandes vê, só mesmo do topo de um arranha céus. O Empire State Building é a opção natural, se forem fãs da Big Apple.

Bruno olha para o futebol como mais ninguém no Sporting olha. Enquanto ele se agarra à cúpula do mais alto dos prédios, qual King Kong a assarapantar aviõezinhos microscópicos, o resto da equipa não passa do Ground Zero. A porta do elevador não abre.

A perspetiva de Bruno é manipuladora, é ele o grande master of puppets. Bruno antecipa, pensa, reflete e executa todo o plano leonino, levando a equipa de Keizer aos ombros e atrás de si os goodfellas verde e brancos.

«He's all right. He's a good fella. He's one of us.»

Este Sporting é um pouco isto. Um organismo comandado por um cérebro autoritário, rodeado por elementos secundários, os goodfellas de Bruno. Uns mais próximos do núcleo de decisão – Coates, Nani, Bas Dost -, outros meros figurantes a tentar fazer pela vida.

A diferença de nível entre Bruno Fernandes e os colegas de equipa é assombrosa. Bruno jogou mal contra o Benfica em Alvalade, fez um jogo apenas razoável na Luz e mesmo assim foi sempre o dono da bola, o dono da estratégia, o dono do pensamento sportinguista. Só pode ser preocupante para o universo leonino.  

Por um lado temos um executante de excelência, um homem que vive os jogos como se a sua própria existência deles dependesse – Bruno Fernandes, o líder indiscutível; por outro temos um segmento de jogadores claramente insuficientes para as necessidades imediatas do Sporting – Bruno Gaspar é uma desilusão, ainda não percebi bem o que é Gudelj, Wendel erra demasiado, Raphinha/Jovane/Diaby são capazes de duas ou três boas ações e uma enciclopédia de decisões erradas.

Perante isto, Marcel Keizer ficou num dilema. Uma encruzilhada bem dissecada pelo meu colega Sérgio Pereira. O que fazer? Por onde seguir?

O mais natural nesta altura seria entrar em curto circuito. Desilusão, dúvida, angústia. Mas ainda estamos a mais de três meses do final da época e o Sporting não se pode entregar à anarquia, ao caos. A exigência histórica da instituição não o permite.

É aqui que volto a Bruno Fernandes. Não só pelo que joga, não só pela perspetiva única que tem sobre o jogo – radar, satélite, mapa mundi – mas pela influência que exerce sobre os companheiros de equipa.

Sendo o que é, e devidamente sustentado por Keizer, Bruno pode obrigar a equipa a elevar o nível. A não ter medo de ter bola, a não ter medo de tentar criar, a não se inibir.

Bruno não é sportinguista desde pequenino, mas é o maior leão que vejo dentro de campo, de verde e branco. Nos golos que marca – extraordinários os dois apontados ao Benfica -, nos lances que disputa, até pela forma como protesta com a equipa de arbitragem.

Bruno parece sentir o Sporting como poucos.  

Por isso, sim. Bruno Fernandes é Henry Hill, o nome principal na trama de Scorsese. Tudo aquilo que o Sporting pode ainda ganhar esta época - na Taça de Portugal, na Liga Europa ou no campeonato -, vai depender sobretudo da forma como ele interagir com os seus goodfellas.

Do Ground Zero ao topo do Empire State Building vai um mundo de distância. Bruno, abre a porta do elevador.   

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».  

 

Relacionados

Opinião

Mais Opinião

Patrocinados