Chega "é o vetor comum para movimentos mais radicais da extrema-direita", aponta relatório norte-americano

Agência Lusa , FG
27 jun 2023, 19:32
Manifestação do Chega (António Cotrim/Lusa)

Partido de André Ventura tem “trabalhado para envenenar o discurso nacional com uma retórica racista, antiLGBTQ+, anti-imigração e anticiganos”

Um relatório norte-americano considera que o Chega tem sido um vetor comum para “movimentos mais radicais da extrema-direita portuguesa”, comparando o partido a grupos como os ‘Proud Boys’ ou os ‘Hammerskins’.

No relatório, elaborado pelo Projeto Global contra o Ódio e Extremismo (GPAHE, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, identificam-se 13 “grupos de ódio e extremistas” em Portugal, incluindo o Chega e o Ergue-te, mas também movimentos neonazis e supremacistas brancos como os ‘Portugal Hammerskins’ ou os ‘Proud Boys Portugal’.

Neste universo, o Chega é quem domina “cada vez mais” a extrema-direita portuguesa, indica o relatório, que salienta que o partido tem “trabalhado para envenenar o discurso nacional com uma retórica racista, antiLGBTQ+, anti-imigração e anticiganos”.

“O Chega, que superficialmente se assemelha aos típicos partidos populistas de extrema-direita de toda a Europa, também é o vetor comum para movimentos mais radicais da extrema-direita portuguesa, incluindo nacionalistas, identitários, conspiracionistas, supremacistas brancos, nostálgicos de Salazar, nacionalistas cristãos e outros que apoiam o autoritarismo”, lê-se.

O relatório refere que, durante a pandemia, floresceram “movimentos conspiracionistas e antigovernamentais de extrema-direita” em Portugal que, com o fim da crise sanitária, passaram para a órbita de partidos como o Chega e o Ergue-te.

Acrescenta-se ainda que, ao longo dos anos, o Chega "teve entre as suas fileiras muitos supremacistas brancos, identitários e neonazis".

Neste contexto, o relatório considera que a ascensão do partido liderado por André Ventura “foi acompanhada por um aumento significativo no discurso de ódio e mobilização de rua da extrema-direita”, citando um memorando do comissário do Conselho da Europa para os Direitos Humanos que indica que há um nível “alarmantemente alto” de violência contra as mulheres em Portugal, assim como um aumento de “crimes de ódio motivados racialmente”.

O relatório salienta também que está em curso uma “tendência de internacionalização” na extrema-direita portuguesa, com a reprodução de teorias da conspiração populares em movimentos estrangeiros de direita radical.

“Onde antes o nacional-socialismo, a fidelidade ao regime salazarista ou as visões lusotropicalistas do império português dominavam grande parte da extrema-direita pós-25 de Abril, hoje a extrema-direita portuguesa bebe cada vez mais dos movimentos neofascistas franceses, italianos, identitários franceses e até de supremacistas brancos americanos”, refere-se.

Analisando depois especificamente o Chega, o relatório caracteriza o partido como sendo “altamente centralizado” na figura de André Ventura, “extremamente anti-imigração e contra muçulmanos” e com um “ódio especial ao povo cigano”.

“A rápida ascensão do Chega é um aviso de que nenhum país é verdadeiramente imune a forças demagógicas excludentes e que minúsculos partidos de extrema-direita podem expandir rapidamente a sua base de apoio”, alerta-se.

No que se refere à juventude do Chega, o relatório indica que tem “membros mais radicais” do que os do partido, com alguns a apoiarem “a supremacia branca ou a misoginia”, a “elogiarem o regime salazarista” e a “defenderem o fascismo”.

O GPAHE é um projeto lançado em 2020 e que, segundo se pode ler no seu ‘site’, vista “colmatar a lacuna que existe nos esforços para pôr termo aos movimentos transnacionais de ódio e de radicalismo de extrema-direita”.

Até ao momento, o GPAHE já publicou estudos sobre o extremismo de direita em Portugal, França, Irlanda, Austrália e Bulgária.

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