Poucas mulheres prestam atenção a este fator de risco do cancro da mama

CNN , Janelle Chavez
29 jan 2023, 13:00
Mamografia (Reuters)

O tecido mamário denso tem sido associado a um risco até quatro vezes maior de cancro da mama. Contudo, um novo estudo sugere que poucas mulheres veem a densidade mamária como um fator de risco significativo.

O estudo, publicado na JAMA Network Open, investigou 1.858 mulheres com idades entre os 40 e os 76 anos, de 2019 a 2020, que relataram ter realizado recentemente mamografias, não tinham historial de cancro da mama e tinham ouvido falar da densidade mamária.

Foi pedido às mulheres que comparassem o risco de densidade mamária com cinco outros fatores de risco de cancro da mama: ter um parente em primeiro grau com cancro da mama, ter excesso de peso ou ser obesa, beber mais do que uma bebida alcoólica por dia, não ter filhos e ter feito uma biópsia mamária prévia.

"Quando comparada com outros riscos conhecidos de cancro da mama, as mulheres não consideravam a densidade mamária como um risco significativo", disse Laura Beidler, autora do estudo e investigadora do Dartmouth Institute for Health Policy and Clinical Practice, dos Estados Unidos.

Por exemplo, os autores dizem que o tecido denso da mama está associado a um risco 1,2 a quatro vezes maior de cancro da mama em comparação com um risco duas vezes maior associado a ter um parente em primeiro grau com cancro da mama - mas 93% das mulheres disseram que a densidade mamária era um risco menor.

O tecido mamário denso refere-se aos seios que são compostos por mais tecido glandular e fibroso do que tecido gorduroso. É algo normal e presente em cerca de metade das mulheres que realizam mamografias.

Os investigadores também entrevistaram 61 mulheres que relataram ter sido notificadas sobre a sua densidade mamária, perguntando-lhes se sabiam o que essa informação poderia contribuir para o cancro da mama e como poderia reduzir o seu risco. Apesar de a maioria das mulheres ter observado corretamente que a densidade mamária poderia mascarar tumores nas mamografias, poucas consideraram que a densidade mamária poderia ser um fator de risco.

E aproximadamente um terço das mulheres pensava não poder fazer nada para reduzir o seu risco de cancro da mama, embora existam várias formas de fazê-lo, incluindo manter um estilo de vida saudável e ativo e minimizar o consumo de álcool.

Densidade do tecido mamário

A densidade mamária muda ao longo da vida de uma mulher e é, geralmente, mais elevada nas mulheres mais jovens, com um peso corporal mais baixo, grávidas ou a amamentar, ou a fazer tratamento de reposição hormonal.

O nível de risco de cancro da mama aumenta com o grau de densidade mamária, no entanto, os especialistas não sabem ao certo porque isto é verdade.

"Uma hipótese é a de que as mulheres que têm tecido mamário mais denso também têm níveis mais elevados de estrogénio, estrogénio circulante, o que contribui tanto para a densidade mamária como para o risco de desenvolver cancro da mama", apontou Harold Burstein, oncologista do Dana-Farber Cancer Institute, que não esteve envolvido no estudo. "Outra hipótese é que há algo no próprio tecido, tornando-o mais denso, que de alguma forma predispõe para o desenvolvimento do cancro da mama. Não sabemos realmente qual delas explica a observação."

Atualmente, 38 Estados norte-americanos determinam que as mulheres sejam notificadas por escrito sobre a sua densidade mamária e o potencial risco de cancro da mama após a mamografia; contudo, estudos têm mostrado que muitas mulheres acham esta informação confusa.

"Embora as mulheres sejam notificadas por escrito após uma mamografia que diz: 'Aumentou a densidade mamária', é algo que é colocado ali no final do relatório. Não tenho a certeza se alguém lhes explica, pessoalmente ou por escrito, o que isso significa", observou Ruth Oratz, oncologista do NYU Langone's Perlmutter Cancer Center, que não esteve envolvida no estudo.

"Penso que o que aprendemos com este estudo é que temos de fazer um melhor trabalho de educar não só as mulheres, mas o público em geral de prestadores de cuidados de saúde que estão a prestar os cuidados primários, que estão a pedir essas mamografias de rastreio", acrescentou.

O rastreio não é igual para todos

As atuais diretrizes de rastreio recomendam que as mulheres de risco médio realizem rastreios a cada um ou dois anos entre os 50 e os 74 anos, com a opção de começar aos 40 anos.

Como as mulheres com tecido mamário denso são consideradas como tendo riscos de cancro superiores à média, os autores do estudo sugerem que as mulheres com densidade mamária elevada podem beneficiar de exames complementares, como a ressonância magnética ou a ecografia mamária, que podem detetar cancros que não são detetados nas mamografias. 

Os autores advertem ainda que "o rastreio suplementar pode levar não só a taxas mais elevadas de deteção do cancro, como também pode resultar em mais falso-positivos e novas consultas".

"Normalmente, é uma discussão entre o paciente e a equipa médica. E terá por base o historial clínico, se há algo preocupante na mamografia, a história familiar do paciente. Portanto, estes são os tipos de coisas que discutimos frequentemente com os pacientes que se encontram nestas situações", esclareceu Burstein.

As recomendações de rastreio do cancro da mama diferem entre organizações médicas, e os especialistas dizem que as mulheres com maior risco devido à densidade mamária devem discutir com o seu médico qual o método e frequência de rastreio mais apropriados.

"Penso que é muito, muito importante que todos compreendam - e estou a falar de médicos, enfermeiros, as próprias mulheres - que o rastreio não é igual para todos. Não podemos fazer apenas uma recomendação geral a toda a população porque cada mulher tem diferentes níveis de risco de desenvolver cancro da mama", defendeu Oratz.

Diminuir o risco

Para quase um terço das mulheres com tecido mamário denso que consideraram não poder fazer nada para prevenir o cancro da mama, os especialistas dizem que há algumas medidas que podem tomar para reduzir o risco.

"A manutenção de um estilo de vida ativo e saudável e a minimizar o consumo de álcool estão associados a vários fatores modificáveis. O aleitamento materno pode diminuir o risco. Por outro lado, o tratamento de reposição hormonal aumenta o risco de cancro da mama", indicou Puneet Singh, oncologista do MD Anderson Cancer Center que não esteve envolvido no estudo.

Os investigadores acrescentam que existem medicamentos aprovados, tais como o tamoxifeno, que podem ser administrados a pessoas com risco significativamente aumentado, o que pode reduzir para cerca de metade as hipóteses de vir a ter cancro da mama.

Por último, os médicos dizem que, para além do rastreio apropriado, conhecer os seus fatores de risco e defender-se podem ser instrumentos poderosos na prevenção e deteção do cancro da mama.

"Em qualquer idade, se alguma mulher sentir incomodada com algo que esteja a acontecer na mama, se sentir desconforto, notar alguma alteração na mama, deve alertar o seu médico e certificar-se de que a sua situação é avaliada e não ignorada", aconselhou Oratz.

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