Violência no Brasil: 35 autocarros incendiados no Rio depois de morte de miliciano. Prefeito diz que os responsáveis “além de bandidos, são burros”

CNN Brasil , Pedro Kirilos, com informações de João Victor Azevedo, Catarina Nestlehner, Letícia Cassiano e Marcos Rosendo
24 out 2023, 19:28
Autocarro incendiado no Brasil

Pelo menos 35 autocarros e um comboio foram incendiados após a morte do sobrinho de um miliciano que atua na zona oeste da capital fluminense. Governador diz que reação “desproporcional” demonstra desespero da milícia". Lula não haverá intervenção

Pelo menos 35 autocarros foram incendiados esta segunda-feira na zona oeste do Rio de Janeiro, depois de uma operação policial que resultou na morte do sobrinho de um miliciano que atua na região. Até ao início da noite de ontem não havia confirmação de pessoas feridas ou mortas nos ataques.

De acordo com o Rio Ônibus –o sindicato das empresas do transporte coletivo na capital fluminense–, este foi o maior número de autocarros queimados na cidade num único dia.

A concessionária SuperVia informou que foi também realizado um ataque contra um comboio nas proximidades da estação Tancredo Neves, no bairro de Santa Cruz.

De acordo com a empresa, uma composição “que saía de Santa Cruz sentido Central, às 18h04, foi abordada por bandidos nas proximidades da estação de Tancredo Neves”. “O maquinista foi obrigado pelos bandidos a abrir a porta, a descer da composição e teve que retornar à estação. Os criminosos atearam fogo à cabine de um comboio. Todos os passageiros desembarcaram em segurança.”

Por conta do ataque, as estações ficaram fechadas no trecho entre Benjamim do Monte e Santa Cruz.

Em conferência de imprensa realizada ontem ao início da noite, o governador Cláudio Castro afirmou que 12 pessoas haviam sido presas por envolvimento nas ações criminosas.

Segundo a Polícia Civil, os ataques foram praticados por um grupo de milicianos em represália à morte de Matheus da Silva Resende, de 24 anos, vice-líder da quadrilha. Ele morreu horas antes, durante um confronto com policiais civis numa favela de Santa Cruz, bairro da zona oeste.

Conhecido como Teteu ou Faustão, Resende era sobrinho de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, que desde 2021 é o líder do principal grupo miliciano que atua no Rio. Faustão era o segundo na hierarquia do grupo, segundo a polícia.

Após os ataques, a Prefeitura do Rio anunciou a suspensão das aulas nas escolas da rede municipal de ensino da cidade. A informação foi confirmada nas redes sociais pelo secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha. “Nossas equipas estão acompanhando de perto para minimizar os danos dessa guerra na vida do carioca, em especial nossos alunos e profissionais”, escreveu o titular da pasta.

As ocorrências fizeram o município entrar em estágio de atenção, segundo o Centro de Operações da Prefeitura. De acordo com o órgão, o estágio de atenção “é o terceiro nível em uma escala de cinco e significa que uma ou mais ocorrências já impactam o município, afetando a rotina de parte da população”.

A Polícia Militar informou que impediu que um grupo com cerca de 15 criminosos colocasse fogo num camião de carga na Avenida Brasil, uma das principais portas de entrada e saída da cidade.

Os ataques ocorrem num momento em que a Força Nacional de Segurança Pública, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal foram deslocadas ao Rio de Janeiro para auxiliar as forças locais no meio de um aumento da criminalidade.

Segundo fontes do governo do Estado, a possibilidade de uso das Forças Armadas no enfrentando ao crime no Rio também tem sendo discutida com o governo federal.

Impactos

Os incêndios provocaram alterações na circulação de coletivos na zona oeste, região mais populosa da capital. Segundo a MobiRio, as linhas do corredor Transoeste foram interrompidas por questão de segurança pública.

De acordo com Paulo Valente, porta-voz do Rio Ônibus, o episódio evidencia “a inação do Estado diante desses episódios de violência extrema, e que o direito de ir e vir do cidadão é esquecido. O Rio Ônibus mais uma vez repudia com veemência o ocorrido, e apela às autoridades públicas para que tomem uma providência com urgência. É preciso dar um basta nessa situação”.

Repercussões

Numa publicação numa rede social, o governador Cláudio Castro celebrou a operação após o episódio com os ônibus e disse “o crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado”.

Quero parabenizar os nossos policiais da DGPE, da Core e da Draco, por prenderem hoje, em Santa Cruz, o Faustão ou Teteu – que era o braço direito e sobrinho do miliciano Zinho.
 

Não vamos parar! Nossas ações para asfixiar o crime organizado têm trazido resultados diários.

 

Para Eduardo Paes, prefeito do Rio, os responsáveis pelos incêndios, “além de bandidos, são burros”.

“Quando o sujeito além de bandido é burro. Milicianos na Zona Oeste queimam ônibus públicos pagos com dinheiro do povo para protestar contra operação policial. Quem paga é o povo trabalhador. E para piorar, tivemos que interromper serviços de transporte na Zona Oeste para que não queimem mais ônibus”, afirmou Paes.

“Ou seja, únicos prejudicados: moradores das áreas que eles dizem proteger! Essa gente precisa de uma resposta muito firme das forças policiais! Como prefeito, apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam”, prosseguiu.

O que se sabe até agora sobre os ataques a ônibus no Rio

A cidade do Rio de Janeiro começou a semana com onda de ataques na zona oeste. A suspeita é que as ações aconteceram após uma operação policial que resultou na morte do sobrinho de um miliciano que atua na região.

Quando começaram os ataques?

Os ataques começaram na tarde da última segunda-feira. Pelo menos 35 autocarros foram queimados. De acordo com o Rio Ônibus — o sindicato das empresas do transporte coletivo na capital fluminense –, esse foi o maior número de autocarros queimados na cidade num único dia.

Qual foi o prejuízo?

A cidade do Rio de Janeiro teve prejuízo de quase 30 milhões de reais (5,7 milhões de euros) com os incêndios, segundo o Rio Ônibus.

Houve outros equipamentos incendiados?

Um comboio da SuperVia também foi incendiado nas proximidades da estação Tancredo Neves, no bairro de Santa Cruz. De acordo com a empresa, uma composição “que saía de Santa Cruz sentido Central, às 18h04, foi abordada por bandidos nas proximidades da estação de Tancredo Neves”.

“O maquinista foi obrigado pelos bandidos a abrir a porta, a descer da composição e teve que retornar à estação. Os criminosos atearam fogo à cabine de um trem. Todos os passageiros desembarcaram em segurança.”

Por conta do ataque, as estações ficaram fechadas no trecho entre Benjamim do Monte e Santa Cruz.

Quem foi morto?

Matheus da Silva Resende, de 24 anos, morreu horas antes dos ataques aos autocarros e comboio durante um confronto com agentes da polícia numa favela no bairro de Santa Cruz.

Conhecido como Teteu ou Faustão, Resende era sobrinho de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, que desde 2021 é o líder do principal grupo miliciano que atua no Rio. Faustão era o segundo na hierarquia do grupo, segundo a polícia.

Quantas pessoas foram presas?

Segundo o governador Cláudio Castro, pelo menos 12 pessoas foram presas por “ações terroristas” após atearem fogo aos coletivos.

“Prendemos 12 criminosos ateando fogo em ônibus. E esses criminosos já estão presos por ações terroristas. E como ações terroristas, estarão sendo encaminhados imediatamente para presídios federais, porque lá é local de terrorista”, afirmou Castro.

As “nossas forças de segurança estão unidas e ativas, e a nossa população pode dar um voto de confiança. Porque essa luta é para libertar nossa população dessas fações, dessas verdadeiras milícias”, declarou o governador.

O que disse o governador?

Castro afirmou que a morte de Faustão “foi um duro golpe na maior milícia da zona oeste”.

“Além do parentesco com o criminoso, ele atuava como ‘homem de guerra’ do grupo paramilitar, sendo o principal responsável pelas guerras por territórios que aterrorizam moradores no Rio”, disse o governador.

Como estão as investigações?

De acordo com Castro, as autoridades do estado querem prender o líder miliciano Zinho, além de Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, um dos milicianos mais procurados do estado, e Wilton Carlos Rabelho Quintanilha, o Abelha, líder do Comando Vermelho (CV).

“É nosso compromisso e eu já tenho dito, prender os três maiores líderes do tráfico e da milícia do Rio de Janeiro. Hoje a nossa intenção era na milícia do miliciano conhecido como Zinho”, explicou Castro, sobre a operação em que Faustão morreu.

As aulas foram suspensas?

A Prefeitura do Rio de Janeiro suspendeu as aulas nas escolas municipais da zona oeste após os atos da última segunda-feira.

A informação foi confirmada nas redes sociais pelo secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha.

A “nossas equipas estão acompanhando de perto para minimizar os danos dessa guerra na vida do carioca, em especial nossos alunos e profissionais”, escreveu o titular da pasta.

O que disse o prefeito?

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou que os responsáveis por atear fogo nos coletivos, além de bandidos, são burros.

“Quando o sujeito além de bandido é burro. Milicianos na Zona Oeste queimam ônibus públicos pagos com dinheiro do povo para protestar contra operação policial. Quem paga é o povo trabalhador. E para piorar, tivemos que interromper serviços de transporte na Zona Oeste para que não queimem mais ônibus”, afirmou Paes.

“Ou seja, únicos prejudicados: moradores das áreas que eles dizem proteger! Essa gente precisa de uma resposta muito firme das forças policiais! Como prefeito, apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam”, prosseguiu.

A segurança será reforçada no Rio?

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que aumentará ainda mais as equipas federais que estão no Rio de Janeiro. “Estamos mantendo e ampliando operações diárias no Rio, no que se refere à competência federal, com realização de prisões, investigações, patrulhamento e apreensões. Vamos aumentar mais ainda as equipes federais, em apoio ao Estado e ao Município. Em um sistema federativo, temos que respeitar os demais entes da Federação e buscar ações convergentes, o máximo quanto possível”, disse Dino.

“Foi assim que agimos em outros estados que atravessaram crises de Segurança neste ano de 2023. Teremos novas decisões nos próximos dias, sob orientação do presidente Lula”, prosseguiu.

Dino comunicou ainda que o secretário executivo do ministério, Ricardo Cappelli, o secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, e o comandante da Força Nacional, coronel Alencar, se reunirão no Rio com as superintendências da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Lula diz que não haverá intervenção

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, durante sua transmissão em direto semanal “Conversa com o Presidente” esta terça-feira que a situação da segurança pública no Rio de Janeiro também é um problema do Brasil e afirmou que o governo federal ajudará no combate ao crime organizado e às milícias no estado.

“Hoje vou conversar com o ministro da Defesa na perspetiva de fazer com que a aeronáutica possa ter uma intervenção nos aeroportos do Rio de Janeiro e a Marinha nos portos, para que a gente possa combater mais o crime organizado”, disse.

“Nós vamos ver como podemos entrar e participar ajudando. Nós não queremos fazer uma intervenção no Rio de Janeiro, como já foi feito e não resultou em nada. Nós não queremos tirar a autoridade do governador e do prefeito. O que nós queremos é compartilhar e trabalhar junto com eles uma saída”, acrescentou

Lula afirmou que conversou com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, para saber como o governo federal pode auxiliar na situação.

O presidente ainda disse que pensa em recriar um ministério exclusivo para a Segurança Pública.

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