Já há nove candidatos na corrida à sucessão de Boris Johnson nos tories e têm todos a mesma ambição: "um novo começo"

10 jul 2022, 18:09
Boris Johnson (AP Photo)

O futuro dos conservadores britânicos está agora nas mãos do Comité de Deputados do partido, que tem de definir as regras e o calendário para as eleições que vão escolher o próximo líder conservador e potencial primeiro-ministro britânico

Depois de deixarem Boris Johnson entre a espada e a parede, com 61 demissões em crescendo que fizeram ruir o Governo britânico, os membros do Partido Conservador apressam-se agora a concorrer à liderança dos 'tories'. São já nove os candidatos à sucessão de Boris Johnson, todos com a mesma ambição - um "novo começo" para os conservadores britânicos.

Ben Wallace, apontado por muitos como um dos favoritos para suceder a Boris Johnson, já disse que não vai integrar a corrida à liderança do Partido Conservador, admitindo esta "não foi uma escolha fácil". "Após cuidadosa consideração e discussão com colegas e familiares, tomei a decisão de não entrar na disputa pela liderança do Partido Conservador. Estou muito grato a todos os meus colegas parlamentares e membros em geral que prometeram apoio”, escreveu na rede social Twitter.

Mesmo assim, não faltam candidatos à sucessão de Boris Johnson. Saiba quem são:

Penny Mourdant

Penny Mordaunt, ex-secretária de Defesa do Reino Unido (AP)

A ex-secretária da Defesa, de 49 anos, anunciou oficialmente a candidatura à liderança dos Conservadores, através de uma publicação na rede social Twitter, na qual salientou que a liderança do partido "precisa de centrar-se menos no líder" e mais na direção do país.

"Este é um ponto de inflexão crítico para o nosso país. Acredito que um governo socialista ou de coligação liderada pelos socialistas nas próximas eleições seria um desastre para o Reino Unido. Temos de vencer as próximas eleições", disse Mordaunt, num comunicado citado pela Reuters.

Mordaunt sempre foi uma forte apoiante do Brexit mas não fazia parte do círculo próximo de Johnson por ter apoiado Jeremy Hunt - e foi uma das vozes mais críticas do primeiro-ministro dentro do governo por causa do escândalo do Partygate.

Atualmente ministra do Comércio Internacional, Mordaunt liderou os esforços para estabelecer acordos comerciais com os EUA e é considerada uma forte oradora no parlamento. 

Jeremy Hunt

Jeremy Hunt (AP Photo/Alastair Grant)

No sábado, foi a vez de Jeremy Hunt, de 55 anos, anunciar a candidatura à liderança dos 'tories', tendo como objetivo principal o corte dos impostos para as grandes empresas, propondo a redução do Imposto Corporativo para 15%.

O ex-ministro da Saúde e chefe da diplomacia no governo de Theresa May, foi o adversário de Boris Johnson na corrida à liderança em 2019, sendo, aliás, o único candidato que não fez parte do seu executivo. Enquanto chefe da diplomacia do Reino Unido, Hunt procurou sempre promover o retorno do país ao cenário mundial, pedindo mais investimento para o "soft power" e relações diplomáticas dos britânicos.

Além disso, também argumentou que existem “soluções técnicas” para resolver os problemas ligados ao protocolo da Irlanda do Norte – mas culpou a UE por não se ter juntado à mesa de negociações.

Tendo em conta os atritos com Boris Johnson, Jeremy Hunt poderia ser apontado como um dos favoritos à sucessão, mas a realidade mostra o contrário. De acordo com o Politico, as sondagens mostram que a popularidade de Hunt tem vindo a diminuir nas últimas semanas e o facto de não contar com o apoio dos influentes jornais de direita do Reino Unido também não abona a seu favor.

Nadhim Zahawi 

Nadhim Zahawi (AP Photo)

O recém-nomeado ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, de 55 anos, ganhou popularidade durante a pandemia de covid-19, quando atuou como subsecretário de Estado da Saúde e promoveu a bem-sucedida vacinação contra a covid-19 no Reino Unido, tendo ficado conhecido como o "ministro das vacinas". 

Acabou depois por ser promovido a secretário de Educação em setembro do ano passado, cargo que exerceu até à semana passada, quando, após a renúncia de Rishi Sunak, subiu a ministro das Finanças.

Zahawi foi para o Reino Unido em criança, com a família refugiada do Iraque, fugindo do regime de Saddam Hussein. Foi um dos defensores do Brexit em 2016 e esteve envolvido em algumas polémicas, nomeadamente em 2013, quando admitiu utilizar dinheiro dos contribuintes para despesas próprias, e em 2017, quando o The Guardian revelou que não havia declarado a ligação com duas empresas sediadas num paraíso fiscal.

Na quarta-feira, Zahawi anunciou que iria juntar-se à corrida à liderança na quarta-feira, prometendo uma revisão das políticas fiscais. "O meu objetivo é simples: fornecer as mesmas oportunidades que foram oferecidas à minha geração, a todos os britânicos, independente de quem for e da sua origem. Para estabilizar a economia", declarou.

"Se um menino, que chegou aqui com 11 anos sem dizer uma palavra de inglês, pode servir nos mais altos níveis do governo de Sua Majestade e concorrer para ser o próximo primeiro-ministro, tudo é possível", acrescentou, dando como exemplo o seu trajeto de vida até chegar a Downing Street.

Grant Shapps

Grant Shapps, secretário de Estado dos Transportes (AP Photo/Kirsty Wigglesworth)

No sábado, o ministro dos Transportes, Grant Shapps, de 53 anos, também anunciou a candidatura para substituir Boris Johnson, prometendo um orçamento de emergência para fazer frente aos problemas provocados pela espiral de inflação, que deverá incluir cortes de impostos e auxílios para empresas com alto consumo de energia. 

Este objetivo ficou, aliás, bem patente na apresentação da sua candidatura, quando defendeu que o Partido Conservador deve traçar "um caminho claro para reduzir impostos, não apenas expressar boas intenções".

Shapps foi nomeado co-presidente do Partido Conservador em 2012, exercendo o cargo até 2015. Em novembro desse mesmo ano, renunciou ao cargo de ministro do Estado no Departamento do Desenvolvimento Internacional - que exercia desde abril desse ano - depois de ser acusado de ignorar repetidas acusações de bullying no partido.

Rishi Sunak

Rishi Sunak (AP Photo)

Aos 42 anos, o antigo ministro das Finanças de Boris Johnson também está na corrida à liderança, ambicionando "restaurar o país, reconstruir a economia e reunir" os britânicos. Foi Boris Johnson que tirou o ex-gerente de fundos da relativa obscuridade política quando o nomeou ministro das Finanças, em fevereiro de 2020. 

Sunak ainda foi durante muito tempo considerado o favorito para substituir Johnson, mas o seu envolvimento na polémica conhecida como Partygate acabou por destroçar estas expectativas. Além disso, o ministro também foi criticado por ter sido lento a reagir à crise económica e por se mostrar distante da população, ostentando a sua riqueza. Ainda assim, muitos no partido veem-no como um líder calmo e imperturbável, que soube dar prioridade ao partido sobre a lealdade Johnson.

“Eu dirigi o departamento mais difícil do governo durante os momentos mais difíceis em que enfrentamos o pesadelo da covid. Os meus valores não são negociáveis: patriotismo, justiça, trabalho duro. Já estamos fartos de divisão. A política no seu melhor é um esforço unificador e passei a minha carreira a aproximar as pessoas. Porque essa é a única maneira de ter sucesso", disse Sunak, no vídeo da candidatura.

Suella Braverman

Suella Braverman, procuradora-geral da Inglaterra (AP Photo/Alastair Grant)

A procuradora-geral da Inglaterra e do País de Gales foi uma das primeiras candidatas à liderança dos 'tories'. "Como procuradora-geral, trabalhei para a tomada de decisões mais difíceis que alguma vez tivemos de tomar: do Brexit à justiça criminal e à reforma dos direitos humanos. Tenho a experiência e a convicção de colocar este país de volta ao caminho certo", afirmou a procuradora de 42 anos.

Braverman não mencionou o Brexit por acaso, tendo em conta que foi uma das grandes defensoras da saída do Reino Unido da União Europeia. Além disso, a procuradora apoia também o envio de refugiados para o Ruanda, uma política que está a ser muito contestada pelas organizações não-governamentais em todo o mundo e até pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Em entrevista ao programa televisivo britânico Peston, Braverman recordou como os pais, de origem indiana, emigraram para o Reino Unido sem quaisquer perspetivas, e "foi o Reino Unido que lhes deu esperança, segurança e oportunidades".

"Eu devo muito a este país e ter a oportunidade de servir com primeira-ministra seria uma grande honra, portanto vou tentar", afirmou.

Kemi Badenoch

Kemi Badenoch (no meio), ao lado de Sunak (à esquerda) (AP Photo/Kirsty Wigglesworth)

A ex-ministra da Igualdade anunciou este sábado que avança na corrida à liderança do Partido Conservador, depois de ter apresentado a demissão na semana passada ainda antes de Boris Johnson renunciar ao cargo. A ex-banqueira de 42 anos, passou parte da sua infância nos Estados Unidos e na Nigéria (país de origem dos pais), foi eleita para a Assembleia de Londres antes de se tornar deputada por Saffron Walden em 2017.

"Estou a candidatar-me à liderança porque quero contar a verdade. É a verdade que nos irá libertar", disse Badenoch, numa entrevista ao The Times, na qual defende a "redução de impostos" ao mesmo tempo que se "estimulam o crescimento e produtividade".

Tom Tugendhat

Tom Tugendhat (Getty Images)

O deputado conservador e ex-militar, de 49 anos, que serviu no Iraque e no Afeganistão, é um dos favoritos à liderança dos 'tories'. Sem experiência de gabinete, o presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Comuns (a câmara baixa do parlamento britânico), ambiciona reunir uma "larga coligação" para um "novo começo".

"A razão pela qual estou a avançar com esta candidatura é muito simples. A confiança na nossa política e no nosso partido está a colapsar. Precisamos de um começo limpo", escreveu no Twitter.

Embora seja raro no Reino Unido haver um novo primeiro-ministro sem experiência de gabinete, alguns parlamentares acreditam que pode ser bom ter um candidato não contaminado pelo regime de Johnson. Outros, contudo, temem que o seu foco seja muito nas relações exteriores e não na agenda interna para ser uma boa opção para os eleitores.

Sajid Javid

Sajid Javid (AP Photos)

O antigo ministro das Finanças e da Saúde foi o primeiro a apresentar a demissão após o último escândalo que levou à queda de Boris Johnson. Uma decisão que foi seguida pelo ministro das Finanças, Rishi Sunak, que também já declarou a candidatura.

Javid, de 42 anos, foi secretário do Interior da ex-primeira-ministra Theresa May e ocupou o antigo cargo de Sunak como ministro das Finanças de Johnson, mas renunciou em 2020 depois de se recusar a demitir alguns dos seus mais altos funcionários. Voltou ao gabinete como ministro de saúde em junho de 2021, mudando a abordagem do governo em relação à covid-19, passando das restrições em massa para a responsabilização individual.

"O próximo líder conservador tem de ser capaz de unir o partido e vencer as eleições. O próximo primeiro-ministro precisa de integridade, de experiência, de um plano de cortes nos impostos para o crescimento económico. É por isso que estou a concorrer à liderança", escreveu Javid, numa publicação no Twitter.

A incógnita Liz Truss

Liz Truss (AP Photo)

Quem permanece uma incógnita nesta corrida à liderança é a secretária dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, de 46 anos, apontada há muito como uma potencial futura líder do Partido Conservador, tendo conquistado apoio entre as bases do partido pelo seu entusiasmado apoio ao Brexit enquanto membro do Gabinete e por ter uma imagem pública bastante positiva.

Apesar da sua educação de esquerda e de uma incursão na política estudantil como liberal-democrata centrista, Truss rapidamente se tornou uma defensora dos valores conservadores. Após a saída de Javid e Sunak, declarou o seu apoio a Johnson, o que foi visto dentro do partido como uma tentativa de recolher o potencial apoio dos partidários de Johnson – um eleitorado não insignificante em qualquer futura batalha pela liderança conservadora. 

Como a primeira secretária de Relações Exteriores conservadora, foi a responsável por garantir a libertação de Nazanin Zaghari-Ratcliffe e impor sanções aos oligarcas russos, apesar de um início lento e das acusações de que o Ministério das Relações Exteriores estava pouco preparado para a guerra na Ucrânia. Também foi ela que coordenou as negociações pós-Brexit com a União Europeia.

O futuro dos conservadores britânicos está agora nas mãos do Comité de Deputados do partido, que tem de definir as regras e o calendário para as eleições que vão escolher o próximo líder conservador e potencial primeiro-ministro britânico. O objetivo é acelerar o processo ao ponto de reduzir os candidatos a dois. Os deputados terão depois de escolher entre os dois candidatos finais numa espécie de "segunda volta", sendo esperado um resultado o mais tardar em outubro.

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