«Sei que posso dormir tranquilo», garante Jaime Pacheco

8 nov 2000, 15:49

Aposta em Sérgio e Silva é natural Um Boavista de ataque e fiel às suas características mais específicas. Jaime Pacheco garante uma táctica de coragem e anuncia dois dos titulares, assegurando que Sérgio e Silva merecem confiança total. A vontade de desenhar uma surpresa, de resto, reduz a timidez e multiplica a crença. Setúbal e Benfica, na mesma competição, assumiram algo semelhante, mas acabaram goleados. «O Boavista é melhor», constata o treinador.

O fato de treino recordava as conversas semanais no Bessa e confirmava o clima exclusivamente português que se vivia na sala de Imprensa do Centro Desportivo La Borghesiana. A troca de impressões dispensava tradutor e ganhava fluidez. Pacheco falava única e exclusivamente para os jornalistas lusos e podia assumir um par de devaneios, mostrando-se disposto a destapar ligeiramente a estratégia e a anunciar em primeira mão duas das apostas iniciais. 

«Estamos a perder 1-0 no intervalo da eliminatória», começava por referir, apostando no previsível, no compromisso entre o pragmatismo e a ambição secreta que a comitiva guarda dentro de si. «Temos de sofrer muito para repetir aquela exibição do Bessa», prosseguia à medida em que introduzia ritmo e fluidez ao discurso. «A Roma», avisava, «é poderosíssima e não é exactamente aquela equipa que jogou no Porto». 

O meio termo e a atitude correcta num confronto de argumentos separados por muitos milhões, precisava, queda-se pela estratégia de sempre, pela aposta na identidade repisada há várias épocas. «Jogar em contra-ataque até seria inteligente, mas por aquilo que conheço dos meus jogadores não ia dar certo». Jaime Pacheco confessava uma vontade que devia ficar oculta até aos primeiros pontapés no Estádio Olímpico. «Vamos jogar ao ataque», resumia. «Sempre que houver oportunidade, teremos quatro ou cinco jogadores a atacar». Assim será mais fácil chegar ao golo. 

Sérgio e Silva de início 

Pedro Emanuel ficou o Porto e perdeu por momentos um estatuto que se podia considerar indiscutível. «Continuo a contar com ele», avisava o treinador para eliminar desde já cenários negativos. «Acontece que deixámos de ser condescendentes como no passado». Pacheco recordava uma jogada infeliz do defesa no Farense-Boavista e justificava a troca, que pode ser percebida como um castigo para uma má exibição. 

A alteração forçada do esquema defensivo resultaria na dúvida entre Jorge Silva e Sérgio para perceiro de Litos. O técnico podia apostar no suspense até à hora do jogo, mas aproveitou a franqueza da conversa para divulgar a escolha. «Vai jogar o Sérgio». A opção, explicaria no instante imediato, é naturalíssima. «É um jogador de qualidade como todos os outros do plantel, por isso sei que posso dormir tranquilo». No outro extremo da estratégia, no ataque, aparecerá Silva, um avançado mais adequado ao esquema de protecção da Roma. «O Capello joga com três centrais e o Whelliton não tem tanta mobilidade. O Silva é mais rápido e remata com mais facilidade». Parece bem visto. 

Benfica e Setúbal não são o Boavista 

Jaime Pacheco admitia agora ser questionado e prontificava-se a discutir os pontos de vista que havia debitado. Falavam-lhe de Batistuta, reagia sem pestenajar, não permitindo que lhe detectassem qualquer tipo de receios. «Sabemos que é dos melhores pontas-de-lança do Mundo e que já provou que não marca golos só pela Argentina ou pela Fiorentina», concordava sem autorizar conclusões incorrectas. «Motiva apenas cuidados especiais». 

A vontade de atacar, recuperar a eliminatória e surpreender, por outro lado, pode facilitar a tarefa dos italianos, que veriam com bom olhos a recepção a um adversário corajoso, mas desatento na defesa. O Setúbal, por exemplo, foi despachado do Olímpico, há pouco mais de um ano, com sete golos e o Benfica regressou de Vigo uma goleada semelhante, reforçando as diferenças entre o futebol português e o mais poderoso da Europa. O técnico encolhe os ombros com o exercício de memória. «O Boavista não é o Setúbal nem o Benfica. É melhor! Não me passa pela cabeça sofrer uma derrota desse tipo». A vontade expressa pelos boavisteiros, de resto, é oposta a um cenário tão negro. «Queremos surpreender. Sabemos que não será fácil, mas, ainda assim, se o árbitro for isento, podemos ter algumas hipóteses. Vamos tentar».

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