Jaime Pacheco: «A defesa vai ter que melhorar»

2 nov 2000, 16:31

Treinador do Boavista critica permissividade do seu sector mais recuado O responsável técnico dos axadrezados está satisfeito com o rendimento global da sua equipa, mas aponta uma falha que o está a preocupar. Para o treinador do Boavista, a defesa vai ter que deixar de cometer «erros ingénuos».

Jaime Pacheco recusa a ideia de ter posto Rui Bento de castigo. Em declarações à Comunicação Social após o treino desta manhã, o treinador do Boavista garantiu que a não convocação do trinco boavisteiro teve, apenas, a ver com uma opção técnica: «Não castiguei ninguém. Já expliquei isso várias vezes. Para mim, é muito difícil fazer a convocatória, tenho muitas opções e todos os meus jogadores, sem excepção, trabalham muito bem e merecem uma oportunidade. Tento escolher os jogadores que, em cada circunstância, me parecem em melhores condições em cada partida». 

Sustentando esta ideia, Pacheco recordou alguns exemplos recentes de mudanças que nada tiveram a ver com desentendimentos entre jogadores e a equipa técnica: «O William já foi titular, agora tem sido o Ricardo, e não se tratou de nenhum castigo... Quando o Rui Óscar não pôde jogar, pus o Frechaut, agora está outra vez o Rui Óscar a ser utilizado. São opções, não têm nada a ver com castigos. Quando quiser castigar alguém, ponho esse jogador a treinar sozinho no campo de treinos, a correr à volta do relvado. O que se passa é que, única e simplesmente, o Petit e o Pedro Santos me dão garantias: atacam bem, defendem bem... Por isso foram chamados nestes jogos. Não quer dizer que não venha a alterar as opções mais tarde». 

«Defesa vai ter que melhorar» 

Questionado sobre o momento boavisteiro, Jaime Pacheco mostrou contentamento com a posição ocupada, mas não deixou de tecer uma crítica que considera importante: «Estou satisfeito, na globalidade, com o rendimento da minha equipa. A única observação negativa que faço tem a ver com a permissividade defensiva dos meus jogadores. Temos vindo a sofrer golos que não lembram ao Diabo. Foi assim nos dois golos que sofremos em Aveiro, foi assim no golo que sofremos com a Roma, foi assim no golo que nos custou a derrota frente ao Braga. Com um pouco mais de cuidado, o Boavista teria pelo menos mais um ponto e o Braga menos dois. Se formos a ver, isso significaria uma grande diferença na classificação. Estaríamos mais moralizados e ainda invictos no campeonato». 

Numa explicação para estes erros sucessivos, Pacheco aponta uma falha: «Os meus jogadores são muito ingénuos. Trabalham muito bem, mas em campo a sua generosidade é tanta que às vezes caem em alguns erros infantis. A defesa vai ter que corrigir algumas falhas, caso contrário alguma coisa vai ter que mudar». 

Sobre o Farense, o treinador do Boavista não esconde alguma preocupação, alertando para o facto de os algarvios poderem vir a surpreender a sua equipa: «O Farense é um adversário tradicionalmente difícil para o Boavista. Não temos perdido em Faro, nos últimos anos, mas é uma equipa que nos cria muitas dificuldades. Trata-se de um conjunto que, perante equipas como o Boavista, tenta aproveitar o balanceamento ofensivo do adversário e explora com alguma eficácia o contra-ataque. Tem, como todos sabemos, um belíssimo jogador lá à frente, que é o Hassan. Teremos que ter algum cuidado com isso». 

Falta-nos o Timofte 

Nos jogos fora, o Boavista só venceu, esta época, em Aveiro (4-2). Mas, curiosamente, ainda não perdeu nas deslocações já feitas: empatou todos os restantes desafios (Belém, Amadora e Campo Maior). O pecúlio não desagrada a Pacheco, mas o treinador confessa que gostaria de ganhar mais vezes fora. Será que o Boavista ainda acusa o facto de não ser um dos três grandes nos encontros fora do Bessa. Pacheco acha que sim: «Nota-se que o Boavista não tem povo. Talvez seja isso que nos separa dos grandes. Viu-se isso no jogo com a Roma. Perante o líder da Série A italiana, estava pouca gente no Bessa...»

E será que o Boavista tem mais propensão para o encontros com as equipas mais fortes? O que fará com que os axadrezados acusem, muitas vezes, mais dificuldades com formações teoricamente mais fracas? Pacheco sorri e explica: «Isso tem uma explicação fácil. Se repararem, nos jogos com as equipas mais fortes, gesticulo muito menos com os meus jogadores. Por uma razão muito simples: é que eles aí jogam melhor, com mais atenção e concentração. No jogo com a Roma, por exemplo, passou-se exactamente isso. Estivemos tão bem que quase não foi preciso dizer nada. Já nos jogos com as equipas mais fracas, o que muitas vezes acontece é que a concentração é menor, os jogadores pensam ¿isto está ganho¿ e, muitas vezes, acontecem as surpresas». 

Um aviso que Pacheco sustenta com uma apreciação curiosa. Para o treinador boavisteiro, não há, no seu plantel, jogadores de qualidade invulgar ¿ daqueles que podem decidir um jogo com um lance de génio: «Não se pense que temos uma equipa de luxo. Temos, isso sim, jogadores que trabalham muito bem. Daqueles que podem fazer a diferença, só mesmo o Sanchez, talvez o Gouveia, jogadores capazes de uma jogada de génio. Os outros, são eficazes pela sua capacidade de trabalho. Mas se não dão o litro, correm o risco de perder com o Alverca, ou com qualquer outra equipa de nível médio da I Liga. Atenção: não se confunda qualidade com genialidade. Claro que tenho muitos jogadores com qualidade. Faltam-nos é jogadores como o Timofte...»

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