Nico Gaitán: quando o discípulo supera o mestre

16 jun 2016, 18:28
Nico Gaitán

Seis temporadas fantásticas na Luz; memórias do esquerdino genial

O pé esquerdo, a posição em campo, a técnica apurada. Nico Gaitán chega ao Benfica no verão de 2010 para ser o novo Angel Di Maria, vendido então ao Real Madrid por extraordinários 33 milhões de euros. 

Seis anos depois, e oficializada que está a venda de Nico ao Atlético Madrid, já o podemos escrever com autoridade: o discípulo Gaitán suplanta a todos os níveis Di Maria, o mestre nesta história, pela herança pesada deixada nas costas do compatriota. «Mais cerebral, mais técnico», disse-nos um dia Miguel Vitor.

Podemos olhar para os números de Nico e abrir a boca de espanto, mas o futebol do delicado argentino não é mensurável nessas escalas objetivas e cinzentas. Gaitán é, sempre foi, perfume adocicado, respiração suave e glamour galanteador.

Seis temporadas de águia ao peito, três títulos de campeão nacional, mais cinco Taças da Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça. 253 jogos oficiais, quarto estrangeiro com mais presenças oficiais pelo Benfica, atrás apenas de Luisão, Maxi Pereira e Óscar Cardozo.

As lágrimas em Coimbra, na final da Taça da Liga - jogo de despedida de Nico - acabam por ser a mais bela pintura de um atleta nascido para ser emoldurado e colocado na entrada principal. Da Bombonera, da Luz, quiçá do Vicente Calderón. 

Paradoxal é o recorde negativo nos jogos europeus: Nico Gaitán passou a ser em novembro de 2015 o primeiro jogador do Benfica a ser expulso duas vezes na Europa. Logo ele, um tratado irrepreensível de educação. 

Não admira, aliás, que os elogios lhe tenham caído aos pés. De todos os lados. De adversários e até de colegas de equipa condenados a serem seus suplentes. Chico rebelde, formatado nas calles de Buenos Aires e na alquimia de La Boca, um senhor do futebol argentino que foi nosso, dos portugueses, seis anos a fio.

Daqueles eternos, daqueles que daqui a uma década merecerão um telefonema do Maisfutebol para recordar Aquele golo, Aquela noite de perversa perfeição.

Tantas vezes colocado fora do Benfica, tantas vezes apontado a Old Trafford, tantas vezes guardado por Luís Filipe Vieira. Até ao limite do humanamente compreensível. Aos 28 anos, o talento de Nico Gaitán pede novos mundos, novos admiradores.

A evangelização deste Cruzado do futebol puritano, romântico e com o seu quê de ingénuo, chega a Madrid. Gracias, Nico, fizeste do nosso futebol um lugar mais respirável.  

 

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