«Em Portugal dão-se poucas oportunidades aos jovens»

17 nov 2000, 12:00

«Já passou o tempo dos futebolistas de rua»

O treinador do Belenenses é uma pessoa divertida mas preocupada com os outros. Não se cansa de perguntar se sabemos como o amigo Paulo Autuori está em Guimarães, se o presidente Pimenta Machado, que bem conhece, disse alguma coisa depois do jogo. 

É o mesmo treinador que se exalta quando por vezes vê os jogadores fazerem as coisas ao contrário, motivo pelo qual gosta de escolher a dedo os seus adjuntos. Depois de ter chegado, em 86, com Paulo Autuori - que mais tarde assumiu carreira a solo e viria a ser campeão brasileiro e a treinar o Benfica - ao futebol português, Marinho Peres faz-se agora acompanhar de Nené, em quem vê qualidades semelhantes. 

E é o mesmo treinador que se apega às coisas. Que quando trabalhou na Madeira se afeiçoou a um cão e o levou para o Brasil - que teve de deixar num canil agora que veio para Portugal, porque o bicho se descontrolava ao ouvir fogo de artifício. E que trouxe outro cão de El Salvador, o Paco, assim baptizado em homenagem ao presidente do país, confessa com ar culpado. 

- O que o levou a trocar o trabalho no Brasil pela Selecção de El Salvador?

- Foi numa altura em que grandes treinadores estavam a ir trabalhar para a América Central. Na altura Carlos Bilardo, que foi campeão mundial pela Argentina, estava a treinar a Guatemala, e Francisco Maturana, que foi seleccionador da Colômbia e treinador do Atlético de Madrid, estava na Costa Rica. Foi um privilégio para mim ser convidado, mas faltam estruturas nesses três países, por isso é que já estão fora do Campeonato do Mundo de 2002. El Salvador disputou dois mundiais, mas a Selecção tem muitas dificuldades financeiras. Fiquei lá um ano e meio, o trabalho foi relativamente bom mas faltavam as estruturas de base. 

- Da primeira vez que esteve em Portugal fez-se acompanhar por Paulo Autuori, que acabou por fazer uma carreira muito bem sucedida como treinador principal. Como é que nasceu essa colaboração?

- Conheci o Paulo Autuori no América do Rio, onde joguei no fim da minha carreira. Ele era a minha cara-metade de trabalho. Tenho de me cercar de pessoas assim, para que quando estou mais nervoso o outro possa ter mais domínio. Encontrei no Nené o espelho do que tinha visto no Paulo. O Nené é uma pessoa fantástica e como jogador foi um talento. Jogou comigo e com o Pelé no Santos e quando estava a chegar à Selecção foi vendido para o México, onde jogou oito anos. Foi um ídolo lá, um dos jogadores mais adorados da história do futebol mexicano. Quando voltei de El Salvador para trabalhar na Portuguesa Santista reencontrei-o e pensei, para onde for vou levá-lo comigo. Sou uma pessoa temperamental, domino-me com facilidade mas tenho momentos de explosões, e ele é o meu oposto. 

- Como encontrou o futebol português neste seu regresso?

- Não quero estar a falar muito sobre isso, estou cá há 11 jornadas, há gente mais habilitada a falar. Os melhores jogadores portugueses saem para o estrangeiro, o que é normal e positivo, porque evoluem em campeonatos mais competitivos, mas continua a falar-se muito do campeonato português. Um dos grandes problemas é darem-se poucas oportunidades aos jovens. No Brasil já passou o tempo em que se encontravam os futebolistas na rua. Agora são fabricados. Pega-se em 200 meninos de 14 anos e prepara-se até aos 18 para depois vender, que é o que não se faz em Portugal. 

- E acredita que desta vez pode ficar mais tempo seguido no mesmo clube?

- Desta vez venho para o Belenenses com bom astral, sem problemas nenhuns, podendo viver tranquilamente no exterior porque sei que lá longe as coisas caminham normalmente. É um clube que prezo bastante e onde gostava de prosseguir a minha carreira. Já começámos a conversar para ficar mais tempo, mas eu até disse que era mais importante falarem com os jogadores, porque da minha parte não há problemas, eu tenho todo o interesse em ficar. 

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