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"Barbie" nos Óscares. Caso sério de misoginia?

24 jan, 15:38

Se ‘Barbie’ foi o maior sucesso comercial de 2023 e, por isso, a grande alavanca do regresso às salas pós-pandemia, há que reconhecer, antes de mais, o mérito de Margot Robbie que, enquanto produtora, não descansou enquanto não pôs o projeto em marcha e depois fez uma interpretação notável da boneca mais famosa do mundo.

O outro mérito indiscutível é de Greta Gerwig que não só coescreveu o argumento como soube filmar, de forma vibrante, a comédia feita de aventura e fantasia. Acontece que, para a Academia de Hollywood, nem Margot como atriz nem Greta como realizadora são dignas de uma nomeação para o Óscar.

É certo que ‘Barbie’ está indicado em 8 categorias, incluindo Melhor Filme e Melhor Argumento Adaptado (!), mas, para Ryan Gosling – nomeado para Melhor Ator Secundário – a injustiça é clara: “Não há Ken sem Barbie e não há filme da ‘Barbie’ sem a Greta e a Margot, as duas pessoas mais responsáveis por este filme que fez história e foi celebrado à escala global”. Mais: “Dizer que estou dececionado porque elas não foram nomeadas nas respetivas categorias seria um eufemismo”.

A reação de America Ferrera, nomeada para Melhor Atriz Secundária, segue a mesma linha em declarações à Variety: “O que a Margot conseguiu como atriz é verdadeiramente incrível”. Já a Greta, “fez tudo o que um realizador pode fazer para merecer a nomeação”. Compreende-se a frustração de Ferrera e Gosling, mas já não se compreende o espanto de quem viu no anúncio da lista duas omissões incompreensíveis. Basta fazer contas à história.

A Academia poderá dizer que, desta vez, há um recorde de três filmes realizados por mulheres nomeados para Melhor Filme, embora só a francesa Justine Triet de ‘Anatomy of a Fall’ também esteja nomeada para Melhor Realização. O facto é que, em mais de 90 anos, só três realizadoras ganharam o Óscar até hoje: Kathryn Bigelow em 2010 com ‘The Hurt Locker’, Chloé Zhao com ‘Nomadland’ em 2021 e Jane Campion com ‘The Power of the Dog” em 2022.

Na noite de 10 de março, deverá ser a vez de mais um homem (Christopher Nolan ou Martin Scorsese ou Yorgos Lanthimos, por esta ordem) e assim se cumprirá a tradição… misógina? Seja como for, a ironia das nomeações é evidente: no balanço do ano em que o mundo se entusiasmou com um filme contra o patriarcado, a Academia de Hollywood menospreza o fenómeno, diminui as duas mulheres que o criaram e assobia para o lado. Como já fez tantas e tantas vezes.

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