Guterres "não está surpreendido" por ser "espiado" mas lamenta "distorção" que o associa aos interesses russos

Agência Lusa , AM
13 abr 2023, 19:50

Em causa está a fuga de documentos secretos americanos sobre a guerra na Ucrânia e eventos paralelos

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, "não está surpreendido" por ser "espiado", disse esta quinta-feira o seu porta-voz, Stéphane Dujarric. O porta-voz de Guterres reagiu desta forma à divulgação de documentos secretos norte-americanos sobre a Ucrânia que indicam que Washington tem monitorizado o secretário-geral da ONU.

"O secretário-geral está nestas funções há bastante tempo, já esteve na política e é uma figura pública há muito tempo e não está surpreendido com o facto de alguns o espiarem e de que as suas conversas privadas sejam escutadas", disse Dujarric na sua conferência de imprensa diária em Nova Iorque.

O porta-voz considerou lamentável que essas conversas tenham sido "distorcidas" e depois tornadas públicas. Dujarric recusou-se ainda a revelar que precauções serão tomadas para evitar que futuras comunicações privadas sejam monitorizadas.

"Tomamos todas as medidas que podemos tomar, mas a necessidade de respeitar a inviolabilidade das comunicações da ONU aplica-se a todos os Estados-membros", afirmou. "Faremos os ajustes que forem necessários para garantir que as nossas comunicações sejam o mais seguras possível. (...) Assim como tentamos manter o nosso pessoal fisicamente seguro constantemente, continuaremos os nossos esforços para tentar manter as nossas comunicações seguras", acrescentou.

Face às observações norte-americanas de que Guterres tem sido demasiado brando com a Rússia e de que o seu trabalho estaria a "minar os esforços mais amplos para responsabilizar Moscovo" pela guerra, Dujarric lembrou que o líder da ONU "tem sido muito claro sobre as violações do direito internacional" por parte da Rússia e sublinhou que os seus esforços em relação ao acordo dos cereais procuram "mitigar o impacto da guerra entre os mais pobres do mundo".

"O secretário-geral não foi brando com nenhum país. Ele foi muito claro sobre as violações do direito internacional, muito claro sobre as violações da carta. Ele diz a mesma coisa quando está em Moscovo, quando está em Kiev, quando está em Nova Iorque e isso está no registo aberto dos nossos esforços", disse.

"Pode criticar-se ou analisar o que o secretário-geral diz, mas acho que ele tem sido extremamente consistente na sua posição desde o início. E ele também tem sido consistente em tentar fazer tudo o que pode para ajudar a aliviar a crise de fome e parte disso é colocar alimentos e fertilizantes no mercado global", advogou.

Questionado sobre se Guterres foi procurado pela embaixadora norte-americana junto da ONU para abordar esta recente fuga de informação, Dujarric optou por não responder.

De acordo com uma notícia da BBC que tem como base documentos secretos norte-americanos sobre a Ucrânia, os Estados Unidos acreditam que António Guterres está "demasiado disposto" a aceitar os interesses russos. A BBC afirma que os documentos revelados nas redes sociais contêm observações sobre António Guterres "e de vários líderes africanos" sobre a guerra na Ucrânia, sendo que um dos ficheiros secretos refere-se ao transporte de cereais que faz parte do acordo firmado no ano passado entre a Ucrânia e a Rússia, após a intervenção da ONU e da Turquia.

Alegadamente, o documento sugere que António Guterres estava tão interessado em preservar o acordo que estava "disposto a aceitar" os interesses da Rússia. Vários documentos descrevem ainda comunicações privadas envolvendo Guterres e a sua secretária-geral adjunta.

A notícia da BBC refere ainda que "funcionários da ONU [que não são identificados] estão claramente descontentes com a interpretação norte-americana dos esforços de Guterres", afirmando que o secretário-geral da ONU tornou muito clara a "oposição à guerra".

Durante a última semana foram publicados nas redes sociais vários documentos militares e dos serviços de informações dos Estados Unidos, datados de fevereiro e março, relacionados com a invasão russa da Ucrânia e com alegados detalhes sobre os planos do "ocidente" no apoio a Kiev.

Os documentos, cuja autenticidade ainda não foi oficialmente confirmada, também apontam que os Estados Unidos vigiaram alguns dos países aliados de Washington, como Ucrânia, Coreia do Sul ou Israel.

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