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Colunista e comentador

Maniche, os ‘bonecos' e o ‘Canal Panda'

4 abr 2022, 11:46
Maniche no jogo das lendas (FPF)

Rubrica diária de Rui Santos no site da CNN Portugal, em que faz a crítica diária ao que é dito e escrito na imprensa desportiva

MANICHE e PAULO FUTRE, dois ex-internacionais, foram protagonistas nos últimos dias por razões diferentes.

Hoje, o foco está em MANICHE.

MANICHE deixou de ser comentador do CANAL 11 por se ter envolvido numa lamentável polémica com o diretor da estação, PEDRO SOUSA.

Em causa estava uma opinião sobre o jogador do Benfica MEITÉ, criticado por MANICHE a propósito do desempenho no jogo com o Ajax, em Amesterdão. O ex-internacional português criticou o médio dos ‘encarnados’, dizendo que joga ‘parado’ e que não esteve à altura do contributo dos outros colegas. O diretor do Canal 11 entendeu que a sua função incluía a valoração daquilo que é dito em espaço de antena e o caldo entornou-se.

Até tenho uma opinião similar à de MANICHE sobre o jogador em causa e não creio que, no enquadramento em que se encontrava a discussão, houvesse motivo para uma ‘arbitragem’ daquele tipo. Era uma opinião. Ponto. 

Não são muitos mas há na televisão portuguesa alguns pivôs que gostam de levar os comentadores para a ‘praia’ deles e que lhes cortam a palavra quando a conversa não vai para o caminho que entendem ser ou o mais ‘produtivo’ ou o mais ‘conveniente’. Não é sensato, não é admissível, e a tentativa de afirmação de um poder declarado (“não admito”…) ainda é mais lamentável. 

Outros há que são verdadeiros moderadores (CARLOS DANIEL, entre tantos bons exemplos) e isso faz bem à ‘instituição-televisão’.

Quem manda formalmente, se não tiver a humildade suficiente para exercer o poder de mando, com equilíbrio e sensatez, acaba por prestar um mau serviço à democracia.

A liberdade de expressão não deve estar condicionada à liberdade de conveniência ou à liberdade de quem dita as ‘liberdades’. Naquele caso, não houve nenhum excesso e, ao contrário do que se proclamou, não houve nenhuma desconsideração. Quem opina tem toda a legitimidade de considerar que um jogador é bom ou mau, que jogou bem ou mal, segundo a sua forma de avaliação e de ver o jogo.

As pessoas não são ou não deviam ser ‘bonecos’. Se os ‘comentadores’ têm ‘agendas clubísticas’ isso é outra conversa. E, nesse aspecto, o quadro é lamentável, mas a responsabilidade é de quem contrata e se sabe, ou não, ao que vai.

Outra coisa é o “perfil editorial” do Canal 11, que subjectivamente — pelo que se percebeu das palavra do seu diretor — foi colocado em causa por MANICHE.

Essa é, repito, outra conversa.

A FPF entendeu fundar um canal que tivesse como objecto a promoção do futebol nos seus aspectos mais técnicos e românticos. Alheios às polémicas, aos assuntos fraturantes e às questões relacionadas com o lado marginal da modalidade.

Legítimo.

Se os intervenientes, no momento em que são contratados, aceitam as regras do jogo (nesse caso, fica muito ténue a fronteira entre a ‘linha editorial’ e a ‘liberdade de expressão’), sabem à partida que vão correr um risco. Se PEDRO SOUSA não esteve bem, MANICHE reagiu da pior maneira possível, e isso não pode nem deve ser branqueado.

Os delitos de opinião em democracia, sejam quais forem as influências, internas e externas, não podem ganhar terreno em lado nenhum. Nem no Canal Panda. Tão mau quanto isso é quando se julga que a razão se ganha ao pontapé.

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