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Comentadora CNN

Ataques em escolas: o Brasil não pode se tornar os Estados Unidos

6 abr 2023, 22:05

O culto à violência e ao ódio que prolifera nas redes sociais está presente na sociedade, levando à assassinatos em massa, tirando a vida de inocentes e marcando para sempre a vida dos sobreviventes

Enquanto milhares de famílias vão celebrar a Páscoa, uma data cheia de significado e especial para as crianças, outras muitas não possuem motivos para festejar: estão em luto, após o massacre que matou quatro crianças e feriu outras cinco em Santa Catarina, região sul do Brasil. 

A tragédia, que é simplesmente imensurável de tanta crueldade, aconteceu poucos dias depois de um adolescente matar com facadas uma professora em São Paulo. Infelizmente, o Brasil se parece cada vez mais com os Estados Unidos, onde parece existir uma normalização desses ataques, de tão rotineiros. 

O aumento desse tipo de ataque no país é chocante. Estudos como o da Universidade de São Paulo (Unicamp) revelam que foram registrados 22 casos entre 2002 até o início deste ano. Destes, 11 aconteceram em 2022 e no início deste ano, sem contar o massacre em Blumenau. 

É inegável que, nos últimos anos, diversos grupos de extrema-direita, alimentados pelo ódio e adoradores da violência, se sentiram incentivados e legitimados a realizarem esse tipo de crime. Logicamente, não é a única explicação, mas é um aspecto essencial a ser refletido. 

O culto à violência e a cultura do ódio que prolifera nas redes sociais está presente na sociedade, que resultam em assassinatos brutais, tirando a vida de inocentes e marcando para sempre a vida dos sobreviventes. É uma dor enorme pensar nas crianças que viram seus colegas serem mortos em um lugar em que deveriam estar seguros. Deve ser terrível o temor dos familiares em deixar seus pequenos nas creches, sabendo que podem ser mortos por extremistas movidos pelo ódio e em busca de idolatria.

Aliás, o caso marca um divisor de águas em como a imprensa brasileira divulga esse tipo de casa. É quase um consenso entre jornalistas e especialistas que informar a identidade e fotos dos assassinos, além de detalhes dos crimes, pode ser usado como incentivo para outros ataques. O jornalismo profissional precisa agir de forma responsável.

Faltou uma visita do governo aos familiares atingidos pela tragédia

Ao meu ver, faltou que um representante do governo federal visitasse pessoalmente a cidade para mostrar condolências e respeito, como fez Dilma Roussef no incêndio na boate Kiss em 2013.

Ao menos, as autoridades agiram rápido em montar um grupo de trabalho formado por integrantes de vários ministérios. O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou a monitorização de grupos nazistas e neonazistas, algo que já deveria ter sido feito há muito tempo. Investimento em saúde mental, atenção aos adolescentes e jovens em casa, na família, na sociedade são mais do que urgentes. 

Especialistas precisam ser ouvidos para darem as devidas recomendações sobre o que fazer e essas ações precisam ser postas em prática o mais rápido possível. Não é possível que mais pessoas morram, que mais famílias chorem por perdas irreparáveis, que a sociedade brasileira fique tão marcadas pela barbárie. 

Na região sul, onde aconteceu o massacre e da qual venho, o discurso extremista não é novidade, infelizmente. Eles sempre existiram, mas, antes, se escondiam. Nos últimos anos, se sentem encorajados a mostrar ao mundo todo o ódio que sentem.Não escondem tatuagens com símbolos nazistas nem as mensagens violentas nas redes sociais. 

É realmente triste e devastador pensar que tudo tenha mudado em tão pouco tempo e de uma maneira tão cruel. É um desafio para todos enquanto sociedade, mas também enquanto humanidade, encontrar maneiras de evitar e prevenir esse tipo de crime. Mais do que isso, é necessário formar cidadãos em uma cultura de atenção, de carinho e, acima de tudo, de paz. 
 

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