O aquecimento global está a cobrir os Alpes de verde (e fica o aviso para as consequências)

5 jun 2022, 10:07
Alpes - França (arquivo)

As alterações climáticas continuam a mudar o mundo que conhecemos. Investigadores confirmam que a perda de gelo nos Alpes suíços avança a ritmo galopante e alertam para as (não tão) futuras consequências da ação humana

Os Alpes suíços são mundialmente reconhecidos pelo seu recorte paisagístico, com montanhas vertiginosas cobertas por um manto de gelo. Mas esta imagem idílica da cordilheira está em transformação. 

As consequências do aquecimento global também já são visíveis do espaço. Um novo estudo, com recurso a dados de satélite de alta resolução, concluiu que a neve dos Alpes está a dar lugar a uma paisagem cada vez mais verde, colonizada por plantas e vegetação não nativas. 

O recuo dos glaciares tem provocado o aumento das temperaturas da região alpina nas últimas décadas, mas a celeridade das alterações climáticas ultrapassa as previsões dos cientistas. 

"A escala de mudança revelou-se absolutamente maciça nos Alpes", referiu Sabine Rumpf, professora da Universidade de Basel e a principal autora do estudo, citada pelo The Guardian.

Os dados comprovam-no. A cobertura de neve na região estudada decresceu em pouco menos de 10%, uma percentagem que produz efeitos consideráveis. 

"As análises de dados de satélites anteriores não tinham identificado esta tendência", indica a investigadora, embora reconheça que esta súbita revelação possa dever-se a vários fatores. "Pode ser porque a resolução das imagens de satélite era insuficiente, ou porque os períodos em consideração eram demasiado curtos". 

Em contraste, a área de vegetação nas altitudes mais altas tem vindo a registar, desde 1984, um aumento de 77%.

Com o recuo dos glaciares, são registadas temperaturas crescentes e níveis de precipitação que relembram o clima tropical. Perante estes fatores climáticos atípicos, a estação de crescimento vê-se prolongada e propícia a uma rápida proliferação de plantas cada vez mais altas e densas. 

Se o verdejar dos Alpes pode vir a refletir-se positivamente no "sequestro" de carbono - isto é, o processo de absorção e remoção do gás carbónico da atmosfera - os especialistas alertam que as implicações negativas excedem qualquer efeito positivo. 

Entre as potenciais consequências, destaca-se a perda do habitat natural.

As plantas alpinas, a uma altitude de quase 5000 metros, evidenciam uma grande capacidade de adaptação a condições extremas. São, no entanto, pouco competitivas, o que se traduz numa desvantagem evolutiva - a coexistência com plantas de caraterísticas distintas, como as típicas a altitudes mais baixas, poderá ditar o seu desaparecimento. 

"A biodiversidade única dos Alpes está, portanto, sob considerável pressão", frisou Sabine Rumpf. 

O desaparecimento progressivo da camada gelada também tem repercussões no permafrost (por definição, solo permanentemente gélido) e uma redução no efeito de albedo. As superfícies brancas - cujo melhor exemplo é o gelo - são naturalmente reflexivas da radiação solar e, como tal, não retêm o calor. À medida que a paisagem nos Alpes ganha cor, o efeito de albedo diminui e as temperaturas solares são absorvidas pelo solo.

Trata-se, como aponta o The Guardian, de um "ciclo repetitivo" que torna a região montanhosa hostil ao seu próprio habitat e que cria condições para que o aquecimento global se manifeste de forma cada vez mais expressiva. 

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