Banido na Rússia ao longo de 40 anos, é agora o livro mais vendido

CNN , por agência Reuters
18 dez 2022, 13:00
“1984”, a história de repressão de George Orwell, nos tops de livros mais vendidos na Rússia

“1984”, a história de repressão de George Orwell, foi publicada em 1949, quando os nazis tinham acabado de ser derrotados e a Guerra Fria estava ainda a começar. Foi proibido na União Soviética até 1988

A história distópica de George Orwell, “1984”, passada num futuro imaginário em que governantes totalitários privam os cidadãos de qualquer arbítrio de forma a manterem o apoio a guerras sem sentido, lidera as listas dos livros em formato digital mais vendidos na Rússia. 

O livro é o download de ficção mais popular de 2022 na plataforma da livraria online russa LitRes, e o segundo download mais popular em qualquer categoria, informou a agência de notícias russa Tass.

Homem a ler “1984” em Moscovo. Créditos: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images

O romance do autor inglês foi publicado em 1949, quando os nazis tinham acabado de ser derrotados e a Guerra Fria estava ainda a começar, com o outrora aliado Josef Estaline e o bloco comunista soviético que liderava. O livro foi proibido na União Soviética até 1988.

Orwell disse que usou a ditadura de Estaline como modelo para o culto à personalidade do Grande Irmão (Big Brother) omnividente, cuja “Polícia do Pensamento” obrigava os cidadãos intimidados a envolverem-se no “duplipensar” para acreditar que “guerra é paz, liberdade é escravidão”. 

Mas há quem veja ecos contemporâneos dessa ficção no governo do presidente russo, Vladimir Putin, que, nas suas duas décadas no poder, erradicou da esfera pública a oposição política e os meios de comunicação críticos, além de ter reabilitado a memória de Estaline. 

A invasão que fez à Ucrânia em fevereiro deu origem a novas leis que criminalizavam a publicação de qualquer informação sobre a guerra que estivesse em desacordo com as declarações oficiais. O Kremlin evita a própria palavra “guerra”, referindo-se, em vez disso, à sua “operação militar especial”. 

As autoridades em Moscovo continuam a afirmar que a Rússia não tem nada contra a Ucrânia, não atacou o seu país vizinho e não está a ocupar territórios ucranianos, que tomou e anexou à força. 

Na semana passada, o político da oposição russa Ilya Yashin foi condenado a oito anos e meio de prisão, acusado de espalhar “informações falsas” sobre o exército - por discutir as descobertas de jornalistas ocidentais das atrocidades russas em Bucha, perto de Kiev, um evento que a Rússia disse ter sido forjado. 

E, no mês passado, o porta-voz do Kremlin disse que não houve ataques a alvos civis, apesar de vaga após vaga de bombardeamentos a centrais ucranianas terem deixado milhões sem aquecimento ou eletricidade, no pico do inverno. 

No entanto, a tradutora russa de uma nova edição de “1984” vê outros paralelos com o romance de Orwell. “Orwell, nos seus piores pesadelos, não poderia ter imaginado que a era do ‘totalitarismo liberal’ ou ‘liberalismo totalitário’ surgiria no Ocidente, e que as pessoas - indivíduos separados e de certa forma isolados - se comportariam como um rebanho furioso”, disse Darya Tselovalnikova à editora AST, em maio.

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