Sobreviveu à revolução verde e branca e elevou-se no Olímpico

29 abr 2014, 11:34
Zeca ergue a Taça pelo Panathinaikos

Zeca saiu do Vitória em 2011: passados três anos é capitão de equipa e vencedor da Taça da Grécia

Manuel Fernandes, um coração de leão, era treinador do Vitória, de Setúbal. Quando Zeca defrontou o Sporting e o abateu com um golo, o homem de Sarilhos Pequenos foi rápido no veredito: «Pode ser um caso sério.»

Mas Zeca teve de emigrar. Viajou para Atenas, chegou a um clube histórico como o Panathinaikos, o único grego a chegar a uma final europeia, e, ao fim de três anos, tem a responsabilidade de ser capitão de equipa. Foi também por isso que a bandeira de Portugal subiu alto no Estádio Olímpico, quando Zeca levantou a Taça da Grécia, no sábado. Algo que «ninguém estava à espera» no futebol helénico. Porquê? Agora que é um caso sério no clube, Zeca explica isso mesmo à
MF Total
e faz uma comparação com outro emblema verde e branco: o Sporting, precisamente.

«Há quatro anos que o clube não vencia um título. É um clube grande e estar tanto tempo sem vencer nunca pode ser bom, mas ganhar esta taça em ano de transição foi ainda melhor», começou por referir o camisola 10 do Pana.

Zeca com a camisola do Casa Pia




Antes de passarmos às justificações, convém lembrar. Zeca é o capitão do Panathinaikos. Isto apesar de ter chegado à Grécia apenas em 2011 e de levar uns raros quatro anos de futebol profissional: cresceu no Casa Pia e chegou à Liga pelo Vitória de Setúbal [2010/11], antes de emigrar.

O médio português conta-nos que é «o jogador com mais anos na equipa principal e o que tem mais jogos: cem no total das competições». Ao fim de duas temporadas, Zeca viveu por dentro uma revolução no clube, que o levou a usar a braçadeira.

O ano de transição consistiu em quê, afinal? «Vieram muitos jogadores novos, muitos deles da segunda equipa do Panathinaikos», contou-nos.

«A equipa é muito jovem devido às dificuldades financeiras. Não foi um ano fácil e ninguém esperava que fizéssemos o que fizemos. Foi um pouco como o Sporting, creio que se pode dizer. Tínhamos jogadores com salários muito elevados no plantel e teve de se cortar. Ou seja, houve uma aposta clara na formação e cortou-se na equipa principal», resumiu Zeca.

O momento em que Zeca levantou a Taça



A imagem de Paulo Futre foi icónica durante anos. Um português lá fora a levantar uma Taça de outro país. Nesse dia, no Bernabéu, o capitão do Atlético Madrid recebeu o troféu das mãos do Rei de Espanha. Futre não precisava de bandeiras para assinalar de onde vinha. Ele próprio era a bandeira de Portugal içada no estádio do Real Madrid. Já Zeca, num país bem mais distante e sem ligação fraterna a este, fez questão de levar as cores nacionais às costas.

«Sou português, e gosto de elevar bem alto a bandeira de Portugal aqui. Claro que eles já a conhecem, não foi por isso, mas quis mostrar o meu orgulho em ser português», relatou sobre o momento em que subiu ao ponto mais alto da carreira, numa conquista tão brilhante como inesperada.

«A equipa estava ansiosa. Ninguém esperava que lá chegássemos e por isso também não tínhamos nada a perder. A atmosfera no estádio era fantástica, foi uma festa bonita. Eu vivi com muita alegria, não me passava pela cabeça. Nas duas épocas anteriores, sabia que tinha mais hipóteses e não consegui vencer nenhum título. E ser eu a levantar a Taça foi uma alegria enorme», prosseguiu.

Aquele momento, de erguer o troféu até onde os braços deixassem, tinha começado a ser escrito muito antes, porém.
Na revolução verde e branca do Pana, Zeca ficou quase sozinho. Sobrou ele, praticamente. À medida que os jogadores mais caros eram «cortados», o português assumia-se como o mais experiente no plantel. Um pouco incrível aos 25 anos…

«O treinador falou comigo na pré-temporada e disse-me que, provavelmente, ia ser eu o capitão. Havia um guarda-redes que era capitão e estava de saída e ele foi-me preparando para ser eu», referiu Zeca.

«Para mim é um orgulho enorme ser capitão de um clube como o Panathinaikos ao fim de dois/três anos», fez questão de sublinhar. A responsabilidade que lhe atribuíram na Grécia não deixa dúvidas: tornou-se num caso sério no futebol helénico.

«Ir para um grande de portugal? Se calhar até foi bom assim»

O Panathinaikos tinha feito a dobradinha em 2010. Mas daí para cá caiu num conjunto de crises, diretiva e financeira, que levaram ao insucesso. Agora, o plano é, aos poucos, chegar perto de quem está no topo. E Zeca, emigrante e capitão, quer fazer parte dele.

«O objetivo principal da temporada era chegar aos play-offs e depois lutar pela melhor posição. Depois, queríamos ir o mais longe possível na Taça da Grécia. Ia ser difícil lutar pelo campeonato, porque o Olympiakos e o PAOK reforçaram-se muito bem», considerou.

«Nunca vi uma rivalidade tão grande como Panathinaikos e Olympiakos. Penso que é possível encurtar a distância para eles. Eles são favoritos, até porque formam uma equipa para disputar a Liga dos Campeões. Vamos tentar fazer-lhes a vida o mais difícil possível no próximo ano», declarou Zeca.

Uma afirmação com implicações futuras. Só ela, isolada, fazia prever que o ex-sadino tem vontade de continuar em Atenas. Mas Zeca não se importou de o dizer com todas as letras, mesmo que para isso tenha de manter Portugal à distância.

«Não me vejo a voltar [a Portugal] tão cedo. Para voltar, neste momento, tinha de ser para um dos três grandes. Mas os grandes estão muito fortes e bem estruturados. A crise na Grécia? Tenho de ser sincero. Eu não sinto a crise. Estou longe de onde ela se vê realmente. Para além disso, eu adoro viver aqui. Não sinto nada de diferente em relação a Portugal. Eu e a minha família estamos muito bem cá. Por mim, fico cá mais anos. É para continuar, já estou habituado e já quase falo a Língua», atirou o 10 do Panathinaikos.

Os golos do Panathinaikos-PAOK


No contacto com a MF Total, Zeca disse também que o Vitória, o de Setúbal, «está a fazer uma temporada espetacular» como há muitos anos não se via. Foi precisamente do Sado que saiu direto a um grande da Grécia. Em Portugal, apesar do vaticínio de Manuel Fernandes, ninguém quis apostar no sadino.

«Se calhar até foi bom assim mesmo. Porquê? Em Portugal, o jogador português não é valorizado como devia ser. Tem poucas oportunidades. Seria difícil singrar num grande. Aqui tive sempre oportunidades para jogar e evoluir.»

E é isso que Zeca vai continuar a fazer já nesta quarta-feira, quando o Panathinaikos se deslocar ao terreno do Atromitos, no play-off que determina os lugares europeus na Grécia. Depois de mostrar a bandeira de Portugal no Olímpico de Atenas é hora de lutar pelo hino… da Champions.

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